Os Três Tipos de Capitalismo

Tempo de leitura: 2 minutos

 Existem três tipos de Capitalismo.

Quem acha que existe um único tipo de Capitalismo está muito defasado.

Da mesma forma que existem vários socialismos, existem vários capitalismos e corremos o perigo de destruir um em particular. 

Temos o Capitalismo da Exploração, o Capitalismo da Cooperação e o Capitalismo da Especulação. O Capitalismo da Exploração é aquele tão bem descrito por Karl Marx, da empresa controlada por uma única família e gerenciada por ela com o objetivo da maximizar lucro, reinvestir este lucro acumulado, porque lucro era a única forma de gerar capital na época.

Na época de Karl Marx não existiam bolsas de valores e empresas de capital democrático, que conseguiam capital e poupança via lançamento de ações. Maximizar e reinvestir este lucro era a única opção.

No Capitalismo de Karl Marx as empresas eram muito pequenas, 200, nacionais, e por isto empresários eram favoráveis a regimes fascistas, nacionalistas que garantiam um mercado fechado.

O crescimento das empresas era lento, dependia do lucro reinvestido, e por isto não conseguiam absorver na rapidez necessária o desemprego gerado pelas novas tecnologias descritas por Karl Marx.

O erro de Karl Marx foi confundir capital com tecnologia, e não perceber o impacto da revolução administrativa e financeira que surgia diante dos seus próprios olhos, que viria a ser o Capitalismo da Cooperação.

O Capitalismo da Cooperação foi o capitalismo que substituiu as famílias capitalistas como gestoras, limitadas a oito parentes em média, por enormes sistemas de recursos humanos e de técnicas administrativas que geraram cooperação mútua de pessoas estranhas entre si juntando não 200, mas 20.000 a 200.000 empregados como hoje.

O crescimento do tamanho das empresas é um dos principais fatores da riqueza das nações, como mostram as tabelas abaixo, e não a educação e políticas públicas, como muitas vezes é alegado.

Gdp

Gdp1

A força reserva de trabalho prevista por Karl Marx e um salário ínfimo eterno não se concretizaram, uma vez que empresas do Capitalismo da Cooperação contrataram num ritmo muito superior do que o desemprego causado pelas descobertas tecnológicas a que Marx se opunha.

Isto nos países que valorizaram os protagonistas do Capitalismo da Cooperação, que foram os EUA, Japão e Coreia. Não o Brasil, infelizmente.

Tivemos o melhor dos dois mundos. Crescimento brutal da produtividade do trabalhador devido a tecnologia e o capital, com o emprego em massa proporcionado pelo Capitalismo da Cooperação.

As famílias nacional-fascistas, foram substituídas por administradores profissionais, alguns treinados em administração socialmente responsável e que se tornaram globais, levando tecnologia e capital para países mais pobres do terceiro mundo, levando know how e as técnicas do Capitalismo da Cooperação.

O Capitalismo da Especulação Infelizmente, a partir de 1980 os governos começaram a se endividar assustadoramente, ao ponto que hoje EUA, Itália, Espanha e até a Cidade de São Paulo, possuem dívidas assustadoras. Em 1987, o Brasil quebrou devido seu elevado endividamento estatal externo. Em 1994, idem.

Este Capitalismo gerou um fenômeno conhecido em economia como “crowding out”, sufocando o Capitalismo da Cooperação, o capital é limitado, e todos os sistemas concorrem entre si. O triste é que este Capitalismo na mão do Estado tinha como objetivo sufocar o Capitalismo da Exploração de Karl Marx, sem perceber que estavam sufocando a verdadeira solução.

Pior, estas dívidas estatais permitiram um novo tipo de Capitalismo, o Capitalismo da Especulação gerando enormes possibilidades de ganhos àqueles que entendessem de juros, câmbio, déficits públicos, e tivessem amigos no governo.

Derivativos dos mais variados tipos foram criados como Futuro de Juros, Câmbio, Arbitragem Long -Spot, Swap Reversos de Câmbio e permitiram a especuladores ganhar muito dinheiro, como George Soros, Black Scholes, Econometristas Quantitativos e Hedge Funds.

Estes por sua vez se tornaram grandes incentivadores das políticas Monetárias e Keynesianas governamentais com mais endividamento do Estado, intervenções do estado na economia, que permitiam inside information e muito mais volatilidade.

É este Capitalismo que aqueles que querem Ocupar Wall Street precisam eliminar, e com razão. Mas nada tem a ver com os bancos e seus executivos.

Se rotularmos todos os três capitalismos no mesmo saco, se incluirmos o Capitalismo da Cooperação, aquele que Harvard e Stanford e todos os administradores profissionais, os engenheiros de produção, as psicólogas dos departamentos de RH, os profissionais de comércio internacional, os advogados de contratos e tantos outros criaram, poderemos voltar à curva da prosperidade rapidamente no sentido contrário das tabelas acima.

Foi o Capitalismo da Cooperação que destruiu o Capitalismo da Exploração, eliminando o capitalista como gestor, pulverizando o poder dos capitalistas nas empresas de capital democrático, criando uma preocupação com os stakeholders e não somente com os stockholders.

Foi o Capitalismo da Cooperação que destruiu a figura do Dono e Patrão e colocou o Capital na mão de trabalhadores e seus fundos de pensão. 

Infelizmente no Brasil, as universidades brasileiras e seus intelectuais nunca apoiaram os defensores do Capitalismo da Cooperação, razão pela qual ainda temos o Capitalismo da Exploração das empresas familiares, com poucas empresas de capital democrático inscritas no Novo Mercado (56), e uma classe de administradores profissionais sem apoio da intelectualidade do Brasil.

Por isto, o Brasil está mais próximo do Capitalismo da Especulação, com tantos Hedge Funds, juros altos, Swaps Cambial Reversos e dominado por aqueles que entendem de câmbio, juros e déficits em vez de produtividade e eficiência empresarial e governamental.

Se você estava propenso a trazer o Ocupe Wall Street para o Brasil, pense bem porque você estará fazendo mais um desserviço ao Brasil.

Mais um, porque provavelmente você nunca apoiou, sequer sabia do Capitalismo da Cooperação.

Uma pena!

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Comentários

11 Responses

  1. Se o Capitalismo de Cooperação não convence, mesmo sendo o melhor capitalismo, a culpa é dos seus defensores que não se comunicam bem com a sociedade.

  2. E o “capitalismo” chinês então deve ser a mistura dos três, não é?
    Certamente enfatizando as piores características de cada um desses 3 modelos.

  3. … ia esquecendo:
    “O crescimento do tamanho das empresas é um dos principais fatores da riqueza das nações, como mostram as tabelas abaixo, e não a educação e políticas públicas, como muitas vezes é alegado.”
    A tal primavera árabe mostrou a existência de muitos países com educação razoável, mas que não conseguiam empregar estes ex-alunos. Tunísia, Egito e até a Espanha são esses exemplos.

  4. Quase sempre concordei com os artigos do professor Kanitz, no entanto neste discordo em grande parte. Entendo que existe somento o Capitalismo as vezes dito como Liberalismo e o Socialismo que muitas vezes se reveste de Comunismo. A diferença entre embos é que o primeiro apesar de não ser perfeito, ainda se mostra muito superior. Já o segundo tem mostrado sua completa falência como se pode verificar nos últimos 70 anos e que ainda tem sobrevivido graças ao avanço sobre a propriedade privada. O Capitalismo sobrevive sem o socorro do Estado porém o socialismo jamais. É por isso que vemos a cada dia nossas liberdades individuais diminuirem e as dívidas públicas em países que adotam o socialismo aumentarem assustadoramente.

  5. Professor Kanitz,
    “Na época de Karl Marx não existiam bolsas e empresas de capital democrático, que conseguiam capital e poupança via lançamento de ações. Maximizar e reinvestir este lucro era a única opção.”
    O Sr. poderia comentar sobre as bolsas holandesa e inglesa que financiaram as Companhias das Índias?
    Penso que elas são anteriores a Karl Marx e que o Sr. não as considera suficientemente democráticas em seu artigo.
    Estou correto?
    Será que Karl Marx desconhecia as mesmas?

  6. É uma linha de análise e classificação interessante.Não sei se dá para concordar com tudo sem um aprofundamento histórico maior.Mas a ideia mais interessante é a da cooperação a menos, é a de ver capitalismo como instituição quase religiosa e socialismo como algo finito.Duvido que um Ocupe Wall St. nestes termos se estabeleça aqui pelo lado WS. Ele pode, e não seria nenhum desserviço, estabelecer-se justamente pelo lado da cooperação que você chama a atenção e é sem dúvida uma das melhores trilhas a se perseguir.Principalmente por que incorpora a democracia na raiz do significado da palavra ‘cooperação’.

  7. Professor, a ascenção de Margaret Thatcher e Ronald Reagan ao poder e a difusão do neoliberalismo, sepultando o welfare-state na mesma época que eclode o boom do capitalismo da especulação é mera coincidência?

  8. Prezado Prof. Kanitz, bom dia. Sou neto do economista Prof. José de Castro e tenho alguns livros seus autografados para ele (herdei dele a biblioteca). Agradeço muito as suas “aulas” virtuais. Também sou professor. Desde 2012 sou indigenista da FUNAI e trabalho no Museu do Índio, no Rio de Janeiro. Chamo a sua atenção para os artigos do Prof. Paulo Haddad no Jornal O Tempo, que tratam do mesmo assunto, sugerindo que devemos buscar um “novo estilo para o capitalismo brasileiro”, propondo uma renovação de idéias e experiências. De fato, os brasileiros deviam estudar mais e com mais seriedade. Fraternal abraço e sempre às ordens.

  9. Gostei muito do artigo, apesar de ter pouco conhecimento de economia

    MEU SONHO ERA CRIAR UMA EMPRESA PARA GERAR EMPREGOS,AJUDAR PESSOAS, FICO TÃO TRISTE VER AS PESSOAS DESEMPREGADAS, SEM UMA RENDA PARA SOBREVIVER

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