Existe Vida Após a Morte?

“Resolver essa dúvida religiosa logo no início da vida adulta é mais importante do que se imagina.”

Muitos cientistas, talvez a maioria, não acreditam em Deus.

Muito menos na vida após a morte.

Os argumentos não são fáceis de contestar.

Um professor de matemática me perguntou o que existia de mágico no número 2.

“Por que você não acredita que teremos três ou quatro vidas, cada uma num estágio superior?”

O que faria sentido, disse ele, seriam os números zero, 1 e infinito.

Zero vida seria a morte; 1.a vida que temos; e infinitas vidas, justamente a visão hinduísta e espírita. 

Outro dia, um amigo biólogo me perguntou se eu gostaria de conviver bilhões de anos ao lado dos ectoplasmas de macaco, camundongo, besouro e formiga, trilhões de trilhões de vidas após a morte.

“Você vai passar a eternidade perguntando: ‘É você, mamãe?’, até finalmente encontrá-la.”

Não somos biologicamente tão superiores aos animais como imaginávamos 2 000 anos atrás.

É uma arrogância humana“, continuou meu amigo biólogo, “achar que só nós merecemos uma segunda vida.” 

O cientista Carl Sagan adverte, como muitos outros, que vida só se tem uma e que devemos aproveitar ao máximo a que temos.

Carpe diem“, ensinava o ator Robin Williams, “curtam o sexo e o rock and roll.”

Sociólogos e cientistas políticos vão argumentar que o céu é um engenhoso truque das classes religiosas para manter as massas “bem-comportadas e responsáveis“. 

Aonde eu quero chegar é que, dependendo de sua resposta a essa questão, seu comportamento em terra será criticamente diferente.

Resolver essa dúvida religiosa logo no início da vida adulta é mais importante do que se imagina.

Obviamente, essa questão tem inúmeros ângulos e dimensões mais completas do que este curto ponto de vista, mas existe uma dimensão que poucos discutem, o que me preocupa.

Eu, pessoalmente, acredito na vida após a morte. Acredito que existem até provas científicas compatíveis com as escrituras religiosas.

Seu DNA poderá ser eterno, ele continuará “vivo” em nossa progênie, nos netos e bisnetos.

“Nossa” vida continua; geração após geração, teremos infinitas vidas, como pregam os espíritas e os hindus. 

Mais interessante ainda, seus genes serão lentamente misturados, através do casamento de filhos e netos, com praticamente os de todos os outros seres humanos da Terra.

Seremos lentamente todos irmãos ou parentes, uma grande irmandade, como rezam muitos textos místicos e religiosos.

Por isso, precisamos ser mais solidários, fraternos uns com os outros, e perdoar, como pregam todas as religiões.

A pessoa que hoje você está ajudando ou perseguindo poderá vir a ser o bisavô daquela moça que vai um dia se casar com seu bisneto. 

Seremos todos um, católicos, anglicanos, protestantes, negros, árabes e judeus, sem guerras religiosas nem conflitos raciais.

É simplesmente uma questão de tempo.

Por isso, temos de adotar um estilo de vida “bem-comportado e responsável”, seguindo preceitos éticos e morais úteis às novas gerações.

Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia-a-dia, mas nunca à custa de nossos filhos, deixando um planeta poluído, cheio de dívidas públicas e previdenciárias para eles pagarem.

Estamos deixando um mundo pior para nós mesmos, são nossos genes que viverão nesse futuro.

Inferno nessa concepção é deixar filhos drogados, sem valores morais, sem recursos, desempregados, sem uma profissão útil e social. Se não transmitirmos uma ética robusta a eles, nosso DNA terá curta duração. 

“Estar no céu” significa saber que seus filhos e netos serão bem-sucedidos, que serão dignos de seu sobrenome, que carregarão seus genes com orgulho e veneração.

Ninguém precisa ter medo da morte sabendo que seus genes serão imortais.

Assim fica claro qual é um dos principais objetivos na vida: criar filhos sadios, educá-los antes que alguém os “eduque” e apoiá-los naquilo que for necessário.

Por isso, as mulheres são psicologicamente mais bem resolvidas quanto a seu papel no mundo do que os homens, com exceção das feministas. 

Homens que têm mil outros objetivos nunca se realizam, procurando a imortalidade na academia ou matando-se uns aos outros.

Se você pretende ser imortal, cuide bem daqueles que continuarão a carregar seu DNA, com carinho, amor e, principalmente, dedicação.

Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br)

Revista Veja, Editora Abril, edição 2061, ano 41, nº 20, 21 de maio de 2008, página 18

 

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Comentários

21 respostas

  1. Prezado e Caro Amigo Stephan Kanitz,
    É com muito prazer que dirijo-me a Vossa Senhoria para dizer que há, sim, VIDA APÓS A MORTE, e VIDA ETERNA COM ABUNDÂNCIA.
    E a esperança dessa nova vida está em Cristo Jesus, nosso Senhor, em quem foi cumprida todas as escrituras preditas pelos profetas.
    O Senhor, como um homem muito inteligente, deverá ler as Santas Escrituras, conforme dito pelo Senhor Jesus;
    “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; João 5:39”;
    e, noutro lugar o mesmo Jesus disse:
    “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Mateus 11:25”
    Assim, se os homens buscarem ao Senhor Nosso Deus, terão nova vida:
    “E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus. Mateus 18:3”
    Um forte abraço fraternos.

  2. Adriana, bom dia!
    Adorei seu bom humor. Só por isso, com certeza, voce é bem resolvida. Também sua afirmação que precisamos definir logo, concordo plenamente. Eu demorei um pouco. Somente com 37 anos cheguei lá. E minha vida mudou completamente. grande abraço a voce e ao Kanitz.
    Wasabi, a geração Y está com tudo, apesar de alguns individuos meio perdidos. Mas isso também existiu nas Gerações Anteriores.

  3. E o quê têm a ver as religiões com vida após a morte?
    Quem lhes autoriza a nos fazer acreditar que elas estão com a verdade?
    Não podemos chegar a nossas próprias conclusões baseados nos nossos conhecimentos e sem esses pretensos “atravessadores”?

  4. Olá Kanitz!
    Pela primeira vez comento seus artigos que leio com frequencia, apenas para esclarecer sobre a “vida após a morte”. Não são apenas espíritas, espiritualistas ou hinduístas que acreditam em “vida após a morte” e sim TODAS AS RELIGIÕES. Todas as religiões se baseiam no conceito de “vida após a morte”, seja ela reencarnatória (como as espirituais) ou que o corpo resuscitará (todas as outras denominações).
    Um grande abraço!

  5. Antônio, acho que religiões têm a ver com vida após a morte tanto quanto a astronomia tem a ver com a existência de corpos celestes, ressalvando-se, claro, as características de cada uma (na ciência, fatos; na religião, crença).
    Astros existem independentemente da astronomia. Ela fez deles seu objeto de estudo.
    Vida após a morte existe, ou não, independentemente das religiões. Elas tomam essa existência como foco de atenção, mas não podem decretar ou nos imputar tal crença.
    Que a conclusão deve ser nossa, pelo sim ou pelo não, não há dúvida. Enquanto for empurrado guela abaixo (tanto pela crença cega, quanto pela negação sistemática), não funciona!
    Percebi certa antipatia de sua parte sobre as religiões, e não deixo de me solidarizar com vc quando lembro das manipulações tão frequentes nesse meio. Mas acho que elas podem ser úteis. A formação de um pensamento independente não começa do zero. Às vezes precisa de muletas…
    Abr.,
    Lourenço

  6. Um cerne desta questão é este sentimento arraigado de imortalidade, que nada tem a ver com crença em uma vida após a morte, pelo contrário. É este senso de imortalidade que faz com que certos indivíduos passem a acumular uma riqueza da qual nunca irão usufruir. Em parte, a justificativa desta insanidade é esta do DNA. Acumular para garantir a perpetuação até milésima geração. Somos seres irrealistas, ilógicos e insanos. Ninguém de fato tem a humildade de um mortal. Simplesmente não sabemos o que significa “o dia de hoje”. Resumindo, não concordo contigo Kanitz. Não é uma questão de pensar o futuro, mas de saber o outro.

  7. é por isso mesmo que eu não precisa haver vida após a morte para explicar nada. A nossa eficiência em passar o nosso DNA para frente é o que se chama de “fitness”, que é a medida de “sucesso” em termos evolutivos. Dessa forma nós (os macacos), os répteis, as aves, as tartarugas, as plantas, os musgos, as bactérias os vírus (mesmo os sem DNA, aqueles de RNA) somos igualmente “imortais”. Aliás, o biólogo Richard Dawkins tinha pensado em chamar seu livro “O gene egoísta” de as hélices imortais ou coisa do tipo. Ou seja, as razões do prof. Kanitz para acreditar em vida após a morte são plenamente utilizaveis para se argumentar sobre o porque não precisamos acreditar em vida após a morte!

  8. Não consigo encontrar nenhuma resposta que me de a certeza de outra vida, isso me angustia, mas por outro lado também não consigo encontrar uma explicação simples para existirmos, mas nós existimos, isso me alivia.
    Vida e morte são dilemas humanos, haverá milhões de teses, teorias, que chegarão ao impasse final: crer ou não crer. É subjetivo, místico, científico, religioso…
    Penso, Sr. Kanitz, que quando se fala em vida após a morte, fale-se em reviver, tornar a viver, de alguma forma em outro plano, outro lugar…
    Devemos sim, viver e preservar a vida, mas o argumento de imortalidade através da manutenção de nossos genes não deve entrar na discussão desse tema. Isso é mera carga genética ancestral. Acreditar que seja assim a imortalidade é basicamente não acreditar em vida após a morte.

  9. Muito bom seu texto, como sempre. Apesar de ser ateu, concordo com o ponto onde diz que continuamos a viver através daqueles que nos sucederão. De certo ponto de vista, ali será um pouco de nós que seguirá para sempre no mundo. Porém, vida mesmo, de sermos um indivíduo, com vontade própria e liberdade para fazer o que queremos, não existe mais.
    E quando fala sobre o comportamento na Terra ser diferente de acordo com a crença pessoal, pode ser que seja. Mas creio que a importância da educação é maior que a importância da religião. É como um religioso que se benze antes de matar alguém a sangue frio e o ateu que, utilizando a razão, decide ser “covarde” e deixar a briga para lá, se retirando para ir se encontrar com sua família em paz.

  10. Amigo passei a ler seus artigos me apaixono a cada dia!!!
    Sinceramente,que me interessa se há vida após a morte. Importante sim respeitar as pessoas como um todo,quem não acredita em Deus de certo que acredita em algo que os fazem querer continuar nesta vida e isso é tdo mas que vivamos de acordo com as leis da natureza porque uma coisa é certa, a lei do retorno tb existe.Que sejamos felizes, que respeitemos as diferenças para que sejamos exemplos para os que ficam
    Abraços.

  11. hmmmmmm, parece a mim que os seres humanos precisam acreditar em qualquer coisa mesmo para nao pirarem. Desde deus ate transmitir os genes para frente, como se diz.
    Nada disso me conforta. O fato de passar minha genetica para o futuro em nada me deixa feliz. Nao vou tirar proveito disso da mesma maneira que um tararavo meu nem sabe do que deu dos genes dele. E tem mais, meu dna sera diluido juntamente com outros trocentos dnas e pouca expressao tera. Ainda bem.
    Vivo bem com a ideia de que aqui comecou e aqui acabou. Nao era nada antes, nao serei nada depois. Nada importa, nem as coisas belas, nem as feias. Nem a alegria, nem a tristeza.
    Ricos, pobres, pretos, azuis, vermelhos, caes, borboletas, vermes e virus. Tudo comeca e termina no nada. Jamais saberei o que he a morte. Pois depois da vida nao ha nada. Ninguem pode saber o que a morte. Essa nao existe.
    Voltaremos para a forma mineral. Ate que um novo big bang comece tudo de novo…de forma infinita. Para onde irao meus atomos? Atomos que podem ter comecado no espaco…trazidos por algum cometa na forma de agua.
    Uma pena que nao possamos curtir o afterlife. Seria divertido.

    1. Carlos Toledo, rsrsrsrs pois é, quando o cara não tenta ser muito religioso ou muito científico também é uma crença, só tenta ser mais política. A ciência inventou a história do DNA, tudo bem que pode ser inquestionável, mas outra ciência pode criar uma teoria baseada em hologramas pra explicar a semelhança do filho com o pai e, para os religiosos, não deve existir DNA de Deus no homem, embora este seja filho daquele. Eu até concordo com a ideia do DNA e eternidade em cima disso, mas para que organização familiar baseada em sangue ou papéis se no final das contas Gênesis está certo e somos todos “irmãos”. Instituição família cada vez mais falida. A explicação para as igrejas defenderem tanto o núcleo familiar: a melhor forma de manter as pessoas desunidas universalmente, já que isolando elas em grupos: família e amigos contra não família e desconhecidos ou inimigos gera mais graça que uma irmandade universal

  12. Eu também acredito na eternidade do ser humano, seja em forma de promessa messiânica ou através de nossas partículas de DNA. O mais importante é que valorizamos a vida de uma forma benigna. E não a que assistimos diariamente, pessoas destruindo sua saúde, vivendo em conflitos, falta de amor, ética em nome do “vamos aproveitar” porque a vida é curta e depois disso não interessa mais nada. Ledo engano! Graças a esse tipo de comportamento gerações estão sendo sacrificadas pelo despreparo e condições adversas impostas por essa natureza.

  13. O gostoso da vida é que não sabemos o que vem depois.
    Não acredito em nada após a morte.
    O ser humano inventou DEUS para aconchegar sua vida , dar sentido, e viver com um quentinho na barriga que existe alguma coisa após isto que vivemos. Aí surgem os religiosos arrecadadores , grandes administradores de fortunas alheias, da indulgência inconsciente , plenos de si . Surge o pecado que estimula mais indulgência e medo do além. As maiores guerras e carnificinas foram e serão travadas em nome de um DEUS . Citar é fácil: cruzadas da idade média, “santa inquisição”, “guerra santa” contra os infiéis. Sou um ATEU feliz . Não preciso desse deus da guerra. Sigo a ética, educo meus filhos, tenho vida plena, e não temo a morte ( e se for possível que seja em dose única) morte de guerreiro, acidente, bala perdida, queda de aeronave , seja lá o que for.
    Mas a única coisa que tenho em relação a morte é a curiosidade.
    Geneticamente passaremos adiante se tivermos filhos.
    O resto é para discutirmos depois.
    Se tudo der errado e houver alguma coisa após a vida eu negocio com quem estiver a minha frente. Não tenho medo de ser um homem livre. Livre de tabus e invólucros que a sociedade criou.

  14. Li todos os comentários postados até aqui. Como sempre acontece com temas assim, temos dois lados, pelo menos. A questão foi bem colocada pelo José Lourenço, lá embaixo. A verdade em qualquer questão é, e sempre será UMA SÓ. Ou Deus existe , ou não existe. Ou existe vida após a morte ou não existe. E assim por diante. Crer ou não em qualquer destas e outras verdades não vai mudá-las – a verdade continuará a ser o que ela é. Não podermos prová-las “cientificamente” não é razão para negá-las. Negá-las sistematicamente, também não vai mudá-las.
    Em suma, é uma questão de fé: A maioria dos comentários abaixo, os quais respeito, dizem: creio…ou… não creio. Cada um, conforme seu conhecimento, análises, julgamentos, conceitos ou preconceitos, decide crer ou não crer em algo.
    Aqui entra uma grande questão: E, SE VOCÊ ESTIVER ERRADO???
    Admito que eu possa estar errado, em tese. Mas vc também pode estar.
    Como temos dois lados, não é razoável pensar que ambos estejam certos. Um ou outro está errado… ou ambos estão!
    Quanto a ‘vida’, os comentários do Prof. Kanitz são interessantes, porém, penso que a vida é ‘algo mais’ que DNA, algo além da química. Quando vc examina o DNA de alguém que morreu, o DNA está lá – intacto, a química está lá, a vida não. Então, porque não funciona, porque está ‘morto’?
    Novamente, pela fé, ACREDITO que a vida seja algo sobrenatural, que não podemos entender ou explicar ‘cientificamente’. Creio que a vida é um ‘dom’ de Deus, algo que só Deus pode atribuir a alguém.
    JESUS disse, claramente – ” Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai, a não ser por mim”. João 14:6.
    Um Grande Abraço a todos.

  15. Realmente, não sabemos se há ou não continuação da existência após o fim da atual vida biológica. Existem sim, crenças. Sejam estas pró ou contra. O que eu tenho certeza é que há no ser humano o desejo de ter uma certeza qualquer. Pois bem, o ser humano é limitado em sua capacidade e não conseguimos saber a realidade final. Deve-se aceitar a incerteza. E deve-se viver de maneira construtiva, ecológica e socialmente aceita, não por interesses karmicos, mas apenas pelo fato de ser benéfico ao universo. Como disse Aristóteles: “Só os virtuosos são bons, e só os bons são felizes.” Eu entendo que tenho o desejo que exista uma continuidade, seria muito bacana se houvesse. Mas… na verdade, na verdade mesmo, eu não sei. http://www.cdpsi.com.br/blog

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