Ensinando Crianças a Escrever aos 5 Anos?

NeuroPedagogia

Há mais de 500 anos, nosso ensino está voltado primordialmente para ensinar nossas crianças, jovens e adolescentes a escrever, letra por letra, sílaba por sílaba. Por quê?

O correto seria postergar a escrita para muito mais tarde.

Primeiro, segundo a lógica, crianças e professores deveriam usar esse tempo para compreender as 30.000 palavras que nossas crianças ouvem dos pais todos os dias, a maioria das quais não entendem.

Para que ensinar a escrever, se ainda não entendem 80% do que é dito?

Se não sabem ainda adjetivos, advérbios, nem formar sentenças verbalmente.

Além de saberem 30.000 palavras como ‘gato’ e ‘preto’, elas têm de aprender o significado de mais 800.000 combinações, como ‘gato preto’ e seus significados especiais.

Aprendem a escrever ‘pobreza’, mas não sabem o que é ‘pobreza temporária’, ‘optar pela pobreza’, ‘pobre de espírito’.

Por que ensinar a escrever, se crianças só começam a usar advérbios após os 10 anos de idade?

Professores ensinavam primeiro a escrever e não a falar, que seria o mais óbvio, porque, por 1.500 anos, não existiam livros didáticos. Primeiro, as crianças precisavam escrever a aula em cadernos para depois poder estudar e decorar.

Usando a lógica dos Princípios Elementares de Raciocínio, a pergunta que deveríamos fazer é: por que ensinar a escrever, se crianças e adolescentes não possuem absolutamente nada de novo a dizer?

Se ninguém, além dos pais, vai ler, melhor seria recitar um poema, que era a forma antiga de manter algo na memória.

Adultos só escrevem ‘papers’, livros e teses quando têm algo para dizer, divulgando coisas novas para outras pessoas distantes.

Nesse caso, geralmente são os 10.000 estudiosos que assinam revistas acadêmicas ou compram um livro em particular.

Ensinar filhos a escreverem trabalhos que ninguém vai ler não é educação. É gerar frustração e revolta.

Eu dei mais de 50 palestras sobre o tema antes de escrever ‘O Brasil Que Dá Certo’.

Comecei falando, percebendo as reações, aprimorando o texto que escreveria somente anos depois.

Nossos brilhantes pedagogos estão invertendo a ordem natural das coisas sem saberem o porquê.

Saber falar bem vem sempre antes de escrever mal.

Isso deveria ser tão óbvio para pais, mães, pedagogos e ministros da Educação, mas não é.

Criar ideias novas, criar ciência, saber relatar observações profundas só ocorrem depois dos 30 anos, e olhe lá.

E, além do mais, hoje temos a tecnologia do vídeo, muito mais eficiente do que o livro e com maior índice de retenção.

Nossas crianças e nossos jovens precisam primeiro aprender a falar com as pessoas ao seu redor, e não a escrever para pessoas distantes e, teoricamente, no futuro.

Nossas crianças precisam convencer as pessoas ao seu redor sobre seus desejos e suas ideias, de forma oral e não escrita.

Ouvir, falar, ler e escrever. Esta é a ordem correta.

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Comentários

4 Responses

  1. Minha empregada não sabe ler nem escrever muito bem, mas é um gênio, me da conselhos que valem anos de terapia. Essa semana, por acaso, estava sugerindo a ela que voltasse a estudar para desenvolver a leitura. Realmente com a idade da para aprender com mais eficiência e de maneira mais solida.

  2. Mestre eu gostaria de fazer uma pergunta já que o senhor abordou este tema tão importante. Eu não sou pedagoga, sou advogada, e estou me preparando para estudar Relações Internacionais, estudo 3 linguas estrangeiras e gostaria de refinar meu estudo para aprimorar nossa língua materna. Quando criança de uma idade que não me lembro ao certo, era menos de 5 anos, talvez 4 anos. Eu consegui fazer a leitura de nomes e escrever as letras sem ter o conhecimento da alfabetização. Sempre fui muito falante, quando cheguei a escola que foi mais por vontade minha que dos meus pais, pois eu não tinha a idade, eu percebia em mim uma inteligência acima da média, porém ao passar dos anos, já idade dos 18 aos 30 anos, eu comecei a perder um pouco dessa inteligência, fiz um exame psicotécnico e meus pontos de aprovação ainda foram muitos bons mas não foram tão bons, depois disso houve períodos cinzentos, agora percebo que estou voltando àquela fase de inteligência acima da média, que eu sempre desejei. Eu pergunto: Como posso ou que devo fazer para voltar a ter aquela inteligência acima da média e conservar este padrão?

  3. Caro Kanitz,
    Conforme a educação clássica das 7 artes liberais, primeiro se ensinam lógica, gramática e retórica, nesta ordem, mas não de forma estanque e absolutamente separada. De fato, aprender a transmitir e sustentar oralmente um argumento é uma arte, mas sem gramática dominada e, antes dela, sem o domínio da lógica, não dá para organizar o pensamento com a linguagem verbal. Inclusive o pensamento é feito de palavras e frases, tendo o mundo como intermediador. Logo, para falar bem (retórica clássica) é necessário pensar bem e organizar em palavras e frases adequadas o que se está pensando, através do domínio da gramática. Somente falar sem o domínio do Trivium, parecerá mais um flatus vocis. Um abraço!

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