Tempo de leitura: 70 segundos
Algo que sempre me intrigou na história antiga e na Bíblia, foram os rituais de sacrifício do primogênito aos Deuses, como o caso de Abraão. Como poderia uma religião aceitar o sacrifício de primogênitos, que de fato existia na época?
Como Deus poderia sequer sugerir o sacrifício do primogênito, para no fim e mandar interromper o sacrifício?
Para entender tudo isto, precisamos lembrar os problemas do início da agricultura.
Naquela época a população de humanos começava a ultrapassar a capacidade do ecossistema de sustentá-los.
O chamado Paraíso onde haviam frutas, castanhas e alimentos em abundância não sustentava mais a população, e começava a surgir a luta do bem versus o mal, lutas territoriais entre seres primitivos.
Daí a descrição de Gênesis da saída do Paraíso, “semeiem e reproduzam-se”.
Gênesis conclama todos a começar a semear, ou pior, ainda a trabalhar em vez da vida mansa, o que não deve ter sido uma proposição fácil de sugerir e de ser aceita.
Mas era vital que todos acreditassem na agricultura, para a sobrevivência dos povos na terra.
Para piorar a situação, a agricultura no seu início foi um desastre. Por isto veio a necessidade de uma religião, uma fé inquestionável neste novo modo de vida, porque a tentação em desistir era grande.
Por exemplo, a vantagem da agricultura era a possibilidade de estocar nos sete anos gordos, para usar nos sete anos magros.
Só que o mesmo grão que poderia ser comido no inverno ou nestes sete anos, era o grão que seria usado como semente na safra seguinte.
Errar neste cálculo poderia ser fatal. Se faltassem grãos estocados, o povo morreria de fome. Mas se comessem o estoque de sementes futuras morreriam também, só que mais tarde.
E, de tempos em tempos, os líderes tinham uma escolha cruel a fazer.
Em invernos mais prolongados ou secas mais longas do que o planejado, ou se morria por falta de grãos ou se morria no ano seguinte por falta de semente.
O que fazer se no meio do inverno se descobrisse que iria faltar comida? Ou morria todo mundo, ou alguns teriam de se sacrificar para a sobrevivência dos demais.
Sacrifícios portanto eram parte do dia a dia, não era a coisa brutal que imaginamos hoje, mas algo necessário para a sobrevivência do grupo.
Tornar este sacrifício uma cerimônia religiosa fazia todo o sentido.
Você tem cinco filhos e dois deles precisarão ser sacrificados. Como você faria esta escolha?
Primeira escolha óbvia é manter as filhas vivas. Filhas garantem netos, duas filhas garantem o dobro de netos do que dois filhos. Então quatro filhas e um homem é bem melhor do que uma filha e quatro homens, em termos de Genética Evolutiva.
Do ponto de vista da Genética Comportamental, é totalmente contra a lógica da sobrevivência da família assassinar um filho, especialmente como oferenda sem nada receber em troca.
A tese de que Deus estava testando a obediência de Abraão não convence. Sugerir matar o filho para no final dizer, “Pare, foi só uma brincadeira de mau gosto”, não é digno de nenhum Deus, nem como brincadeira.
Daí os inúmeros tratados filosóficos para explicar o inexplicável, como de Kierkegaard a Suspensão Temporária da Ética. Uma forma de conciliar este pedido estranho de Deus.
Sabemos que o sacrifício de filhos adolescentes era uma prática comum no início da agricultura. Minha tese para esta prática um tanto bárbara é a seguinte:
Coloque-se numa pequena tribo que descobre que não tem estoque de comida suficiente, e que não haverá sementes para o próximo ano se tudo for comido.
Ou morrem todos no ano seguinte por falta de sementes ou alguém terá que se sacrificar agora (não comendo) para o bem dos outros.
Afinal, se eliminarmos dois ou três membros da família, ou do grupo, sobrará comida e sementes suficientes.
Problema cruel!
Quem você mataria?
Seus filhos homens ou suas filhas mulheres?
Ou sua esposa?
Mulher é o recurso escasso na população.
Mate todos os homens, menos um, e mesmo assim o número de netos permanecerá igual.
Mate todas as filhas, menos uma, e sua tribo será logo reduzida a zero.
Portanto, dois ou três filhos serão.
E, o primeiro candidato é justamente o jovem adolescente que está comendo por quatro pessoas com seu apetite voraz.
E aí, vem o problema daquele que não planejou corretamente os estoques.
Como dizer para a mãe que você pretende matar o Júnior, para o bem de todos.
Complicado. Melhor dizer que Deus o comandou, que Deus pediu uma oferenda, que o Júnior irá morrer para que todos os demais possam se salvar.
Vemos esta mesma analogia, quando o filho de Deus, Jesus, morre para que todos os demais possam se salvar.
Digo tudo isto somente para refrisar porque o controle de estoques se tornou uma atividade tão crucial, ao ponto de se criar a contabilidade, a escrita e os primeiros cálculos matemáticos.
Ninguém queria passar por esta situação.
Portanto, Controle de Estoques é a minha candidata para a atividade administrativa mais antiga do mundo.
Talvez, a administração seja a profissão mais antiga do mundo.
7 respostas
Excelente, Professor! Usar a lenda religiosa para explicar o início da Administração foi uma grande sacada. Que os nossos governantes leiam esse seu ótimo texto!
Muito bom
http://www.klebersouza.com.br
se considerarmos o ” Livro de Urãntia ” como base , a luta do bem contra o mal é antiga e começou com o anjo caído ‘ fingindo ser Deus ‘ , Lúcifer – excelente orador por sinal , afinal arrastou muitos….
mas vamos lá :
É bastante provável que o desenvolvimento humano nesse momento tivesse alcançado tal concepção que ‘ manifestou-se ‘ a necessidade de organizar .
Pensar nunca foi o ” forte ” de nossos ancentrais ” ! Mas ‘ boas práticas ‘ , isso sim , se revelou eficiente…o caso da ” Revolução da Agricultura ” .
Um conjunto de fatores – mais pessoas unidas ‘protegem-se ‘ mais , logo uma organização se faz necessário ( aí já nasceu os políticos ….) e temos a questão da ‘ LA Dolce Vita – Como é difícil ” convencer ” pessoas do óbvio – ” você quer , faz ! ” ” se vai aconteçer , não sei , mas parado nada aconteçe … ” ! Conselhos de nossos Pais ( Quando Pais , claro )
É fato que sempre existiu ” aproveitadores ” e afins de todos os tipos mas a Espécie Humana somente está por aqui ainda por que ” fazemos ” ….apesar da Mídia e as Tecnologias de Comunicação Digitais distrairem tantos por tanto tempo .
É curioso que sempre houve ” prostestos ” sobre Religião : A Religião é um ” motivo ” – forma de impulso
A Fé pode ser cega e a Crença ( Fé mais Ação , indispensável ) .
Nunca houve e nem haverá Religião melhor – É instituição e como tal , passível de manipaulações diversas …como é até hoje !
Gostei do recurso ‘ ReligiãoxResultado ‘ para explicar . Hoje mesmo certa ” Igreja ” convence fiéis a pagar o dízimo e comprar ingressos para Filme…patético !
Uma Espécie humana melhor pauta-se em Organização pessoal e coletiva melhor . Com Espiritualidade praticada .
Ao invés de ” brigarmos ” por ‘ consertar ‘ o inconsertável .
Deveríamos buscar já Outra Organização para Pessoas , e talvez fóssemos mais ‘ Humanos ‘ de fato .
Pois essa ” Organização ! ! nos leva ao extermínio…
Interessante, isto ajudaria a explicar o costume de se deixar de herença tudo e somente para o filho primogênito. Se ele é quem seria o primeiro a ser sacrificado, então seria razoável recompensar aqueles que conseguissem sobreviver até a fase adulta.
Era um filho único nascido em mãe de 90 anos. Uma administraçao impensável. Mostra o foco preciso, sem o qual até a empresa morre. O Criador sonhou, planejou e focou relacionar com sua criatura em profundidade fora do exterminador de estoques. O Filho único do Criador, fiel resgatador, Jesus, fez o controle exato e perfeito sobre o exterminador, o diabo colérico, pelo mesmo sacrifício simbolizado pedagogicamente no filho citado em Genesis. É a eficiencia e sabedoria de Deus mostrando onde e como queria chegar, retornando com os filhos livres do exterminador de estoques para a boa administração e moderna governanca do Seu Lar.
Então falou Isaque a Abraão seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?
E disse Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminharam ambos juntos.
E chegaram ao lugar que Deus lhe dissera, e edificou Abraão ali um altar e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isaque seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha.
E estendeu Abraão a sua mão, e tomou o cutelo para imolar o seu filho;
Mas o anjo do Senhor lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.
Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho.
Então levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho.
E chamou Abraão o nome daquele lugar: o Senhor proverá; donde se diz até ao dia de hoje: No monte do Senhor se proverá.
Então o anjo do Senhor bradou a Abraão pela segunda vez desde os céus,
E disse: Por mim mesmo jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta ação, e não me negaste o teu filho, o teu único filho,
Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos;
E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz.
Gênesis 22:7-18