A minha geração tinha o seguinte business model: uma renda, normalmente a do homem provedor, e uma mulher que ficava em casa cuidando da infinidade de filhos que a religião dizia que nós deveríamos ter.
Não éramos nós homens que mantínhamos as mulheres no lar, eram os filhos.
Casávamos cedo, tínhamos filhos cedo, e nosso fluxo de caixa virava negativo bem cedo.
Filhos custam uma fortuna, cada vez mais.
Antigamente, custavam cerca de uns R$ 200.000,00 por filho.
Hoje, se incluirmos o fato de que vivem em casa até os trinta anos, com mestrado e tudo, o custo total passa dos R$ 800.000,00 até um milhão.
O desembolso efetivo em caixa é menor do que isso, o que justifica o fato de alguns pais estranharem esse valor.
O valor que apresento aqui é o quanto você teria hoje a mais de patrimônio se todo o dinheiro que você gastou com um filho tivesse sido aplicado em ações ou títulos do governo nos últimos trinta anos.
Essa é uma forma de medir o custo de um filho, no sentido de quanto o filho lhe empobreceu, em vez de quanto lhe custou. É muito dinheiro, boa parte devido aos juros sobre juros que você deixou de receber.
Eu não trocaria os sorrisos e o prazer de ter um filho por juros, por nada neste mundo, mas é uma indicação do quanto custa uma família.
Quando vejo compararem a riqueza de uma família de classe média com dois filhos, e a pobreza de uma família do Nordeste com seis filhos e em seguida reclamarem da má distribuição de renda neste país, fica óbvio que algo está errado.
Aqueles quatro filhos a mais valem muita coisa, e dizer que a família de classe média é mais rica é falta de humanismo, típica de acadêmicos que manipulam números.
Um casal onde ambos trabalham, as chances de problemas financeiros são maiores do que em um casal em que um dos dois cuida temporariamente dos filhos.
Parece não fazer sentido, mas infelizmente é assim.
O que acontece com casais em que ambos trabalham é que a chance de um dos dois perder o emprego dobra com relação ao casal com um provedor só.
Se as chances são de 10% ao ano de perder o emprego, um casal em que ambos trabalham têm 20% de chance de ver sua renda cair pela metade.
Isso representa uma família em cinco, a cada ano que passa.
Este foi um dos problemas da crise de 2008.
Desempregou 10% da população americana, 20% das famílias, porque hoje a maioria das mulheres americanas trabalha.
Nas famílias nas quais só um trabalha, as chances do provedor são menores.
Casais também não fazem a conta de quanto ter dois membros da família trabalhando custa a mais.
É um carro a mais, roupa de trabalho a mais, uma babá, empregada doméstica, provavelmente mais doenças infantis, quando não alguns problemas que precisam de psicólogos. Com pais fora de casa é maior o perigo de drogas e violência. Tudo isto é custo não computado.
O desenlace começa mais ou menos assim: você poderá descobrir que o segundo trabalhador de sua família não acrescenta 50% da renda do casal, mas somente 30% a 35% no salário do casal.
Não estou defendendo que as mulheres não devam trabalhar, estou defendendo que as mulheres que decidiram pela família acima de tudo não são umas ETs como muitas vezes a sociedade moderna as imagina, e como vimos nas cartas no capítulo anterior.
Quase todas as mulheres que optaram pelas famílias sentem hoje o preconceito dos maridos, das amigas, por terem abandonado carreira e “tudo” para ficar com os filhos.
Se você não tem intenção de largar seu trabalho, seja mulher ou homem, para cuidar dos seus filhos, então adote algumas medidas administrativas que minimizem problemas futuros. Vejamos:
1. Só tenha o primeiro filho quando vocês tiverem poupado um ano inteiro de salário para que possam viver um ano procurando emprego, sem ficarem endividados.
Este era o problema dos casais que casavam às pressas porque a noiva estava grávida. Este é o problema da gravidez não planejada, e que inicia um ciclo de pobreza. De gastos imprevistos, dívidas, juros, menos dinheiro disponível e mais dívidas.
2. Todos os custos fixos do casal devem ser cobertos por aquele que ganha menos, seja ele o homem ou a mulher; a renda do outro deveria ser poupança pura.
Se você ganha R$ 3.000,00 por mês e seu marido R$ 4.000,00, os custos fixos, como aluguel, escola e juros contratados deveriam sair do seu salário. Os custos variáveis, diversão e poupança da família devem sair do salário do marido. Soa impossível, mas reflita um pouco sobre isto. Numa crise, seus custos fixos estarão garantidos.
3. O grande erro de casais que trabalham é justamente aumentarem o seu padrão de vida comprometendo a renda em custos fixos, se comparado aos casais em que só um trabalha. Não é o seu padrão de vida que deveria aumentar, é a sua taxa de poupança.
4. Escolha empresas que são pró-família.
As empresas de capital aberto americanas, que se preocupam com resultados trimestrais, devem ser evitadas como o diabo foge da cruz.
Empresas familiares, que estejam ainda na primeira geração, são paternalistas no bom sentido; consideram todos os funcionários como família.
15 respostas
De uma lucidez estonteante!!!!
Professor, concordo plenamente com a questão do padrão de vida, pois entendo que um aumento de salário/renda não deve se converter automaticamente em aumento do padrão de vida da família (aumento do custo fixo). O padrão de vida sempre deve estar no mínimo um degrau abaixo do seu salário/renda atual.
Tenho 33 anos e uma filha com 1 ano, com este comportamento superamos tranquilamente os períodos de vacas magras.
abraços
Caro professor,
Admiro tanto a sua competência em tratar de assuntos familiares com a lucidez e a experiência de sua formação em Economia. Ninguém (que eu conheça)se prepara para ter uma família com essa riqueza de detalhes, essa é a verdade. Assuntos “sentimentais” não são tratados racionalmente na nossa sociedade. Infelizmente…
Mais uma vez parabéns!!
Abçs.
Sempre tive um pensamento que admito não ser nada sofisticado e é 100% puramente machista.
Se as mulheres estivessem em casa teria mais emprego para os homens.
Consequências: homens saindo da casa dos pais antes dos 30, diminuição do número de mulheres solteiras e desesperadas, arranjos familiares pelo menos um pouco mais estáveis e……. o presidente do FMI voltaria a ser um velho sacana…rsrsrs
Muito bom o texto e concordo com a maioria dos pontos, porem uma das frases centrais do artigo apresenta um erro estatistico que invalida alguns argumentos apresentados.
Se um casal em que ambos trabalham têm 20% de chance de ver sua renda cair pela metade, um um casal com apenas um provedor, tem 10% de chance de ver sua renda se reduzir a zero !
Creio seja muito mais dificil sobreviver sem nenhuma renda, do que com 50% da renda.
Assim como se procura diversificar os investimentos para diminuar a exposicao do patrimonio investido, o fato de dois trabalharem, DIMINUI o risco de perder toda a renda familiar, ou seja, que ambos percam o trabalho, para apenas 1%
“Se as mulheres estivessem em casa teria mais emprego para os homens.
Consequências: homens saindo da casa dos pais antes dos 30”
Sobraria mais emprego para os incompetentes, a qualidade dos serviços na ausência da concorrência cairia, isso não seria bom para o consumidor-nem para a Sociedade de modo geral. Quem não tem competência não se estabele, simples assim. Prefiro lidar com profissionais competentes-qualquer que seja seu sexo- a lidar com os incompetentes que tem o gênero certo…
Texto preferido do meu marido. Discutimos ele VÁÁÁÁRIAS vezes antes de casar e adotamos esse estilo de poupança…
Aliás, Sr. Kanitz, domingo compeltaremos 1 anos de casados! O Sr. fez parte disso.
Um abraço.
Andressa – RJ
Gustavo, isso é muito verdade. Parabéns pelo excelente senso matemático. Eu entendo a ideia do texto de valorizar a paciência, prudência e planejamento antes de “aumentar a família”, mas a verdade é que a base do texto, de que seria danoso ter duas rendas em uma família, é mais ou menos como a antítese da história de todos os ovos num só cesto. Tá certo que dois cestos ocupam mais espaço na mesa e, portanto, esbarrar em um deles se torna mais provável e, com isso, a probabilidade de quebrar metade dos ovos aumenta… mas isso também significa uma maior robustez, resiliência, na economia familiar. A grande verdade é que o maior problema é as pessoas manterem um padrão de vida que onera quase na totalidade a sua economia familiar. É isso que acontece, foi isso o que as famílias americanas fizeram e é por isso que se deram mal, quando veio a crise.
Em grande parte, é essa idéia de competitividade desenfreada que gerou essa sociedade doente que vemos atualmente, altamente viciada no consumo (afinal quem “tem mais” vence a competição sobre quem “tem menos”) e, para saciar esse consumo, precisa ganhar mais e mais a cada dia. Veja bem, eu não concordo com a “idéia puramente machista” do Fabiano, tampouco concordo totalmente com a tua. Talvez com o pé “fora do acelerador” e com uma maior oferta de empregos, tu terias mais pessoas competentes fazendo aquilo que gostam, com menos estresse e muito mais qualidade de vida. Claro que o mundo não é simples assim, mas é uma idéia que pode merecer alguns instantes de pensamento.
Não tem que ser “centrada no consumo”, tem que ser centrada na ideia de que um incompetente com o “tipo certo” genitália não tem mais direito a um emprego do que uma pessoa competente. Os homens que acham que há escassez de empregos por causa das mulheres competentes podem entregar os seus e ir para a saia da mamãe em vez de querer fazer “caridade” com o emprego dos outros. Consome quem quer, o que quer. E, falando em “consumo”, este consumo também é o de cirurgias, que salvam vidas e podem contar com os profissionais mais competentes de ambos os sexos em vez de só quem tem um certo tipo de genitália (quer comparar a expectativa de vida atual com a de algumas décadas atrás), este “consumo” também é de livros e informações de modo geral, produzidos por gente qualificada. não mais só porquem tem o sexo certo, é de softwares, que melhoram vidas e eficiência, feitos por quem é mais capaz, não por quem tem um tipo específico de genitália. É fácil falar contra a sociedade de consumo e a meritocracia quando se pode usar um computador e se sabe que, graças à luta de gente com mais caráter do que em caso de enfarte, o cirurgião será a pessoa mais capaz que encontrarem, não alguém que está lá porque tem o tipo certo de genitália. Eu acredito em meritocracia e trabalho duro.
Sei, a “qualidade de vida” era melhor nos anos quarenta, daí as expectativas de vida menores, os índices de analfabetismo maiores,a renda per capita menor, os índices mais altos de mortalidade infantil, etc… A única qualidade de vida que piorou por causa das mulheres competentes é a dos acomodados e incompetentes.
Este pessoal que diz não gostar de “concorrência” não gosta é de trabalho, detesta que seu trabalho possa ser comparado com o de gente competente e trabalhadora, gosta é de embolsar seus cobres fazendo o mínimo possível. Como no mercado de trabalho, não se destacam pela sua capacidade, tentam se destacar pelo que têm no meio das pernas…
Para acrescentar neste “food for thoughts”: existe uma horda de mulheres altamente qualificadas, 36a+, c/ filhos, a procura de emprego/empreendimento a q possam dedicar 4h/dia. Será q o mercado n sabe q montanhas podem ser movidas nestas horas?
Andrea,
Nao é o mercado, é a legislação trabalhista, que como no caso das domesticas, atrapalham as mulheres em vez de ajudar.
Em paises menos centralizadores, empresas pro familia, de fato estao bombando com mulheres meio periodo como voce.
Ajude a criar o Partido Bem Eficiente, que abracs a Administracao Socialmente Responsavel.
Não concordo. Texto realmente machista e que utiliza o cálculo inverso para justificar a mulher fora do mercado de trabalho.
Outra coisa é argumentar que o problema social do nordeste são os filhos. Por favor, né, Kanitz, menos.
Sim, uma família com apenas um filho seria melhor. Uma família onde a mulher trabalha pouco ou não trabalha seria perfeito, mas e as variáveis?
E se o casal encerra o relacionamento? Quem banca a vida da mulher-parideira? O homem?
Empresas de capital aberto americanas? Estamos no Brasil, onde a grande maioria das pessoas vivem com trabalhos autônomos e/ou em micro e pequenas empresas. Este argumento não é válido.
Acho que escreveu o texto para seus alunos e não para a grande maioria dos brasileiros.
A poupança e o planejamento valem para todos. Se um casal trabalha e compartilham as despesas, as chances de sucesso são maiores.
Alexandre,
Leia de novo. Eu não disse que o problema social do nordeste são os filhos.
Eu disse que esta idéia de medir felicidade pelo PIB, esquece que existe sim valor em ter 4 filhos.
Achar que Nordestinos são “pobres” porque optaram por ter uma família e não bens materiais, é uma arrogância da ciência econômica.
O índice de GINI não contempla este tipo de distribuição.
Só o que se gasta em “bens e consumo” entra no cálculo mas não o que se gasta com filhos.
É o materialismo da ciência econômica contra o humanismo da família.
Meus elogios porque você criticou, bem intencionadamente, mostrando a cara e prenome.
Por isto você mereceu meu respeito a uma explicação.
Parabens.
PS. “acho que você escreveu para os seus alunos”, ofende os meus alunos, cuidado.