Queimem Seus Livros de Autoajuda

 

“Onde fica a seção de autoajuda?”, pergunta um cliente ao dono de uma livraria.

“Lamento não poder lhe informar.

Por princípio, essa é a única seção da nossa livraria que o cliente precisa descobrir sozinho.”

Ao longo de 10.000 anos criamos vários mecanismos e instituições cujo objetivo era ajudar os jovens a descobrir os caminhos e as soluções para os problemas da vida.

O primeiro foi a família estendida, onde os avós eram o poço de sabedoria das famílias, a voz do bom senso, da ponderação.

Tínhamos também os tios, que não eram tão envolvidos quanto os pais, e podiam dar bons conselhos, nem sempre de acordo com os irmãos.

Tinha o irmão mais velho, que nos defendia e nos abria alguns caminhos.

O segundo mecanismo foi o poder do grupo, do conselho dos anciões, o shamam, as curandeiras, os mitos, os folclores, as tradições que continham verdades escondidas, conselhos milenares que naquela época ajudavam e muito.

Em terceiro foram as religiões escritas, as bíblias, os salmos com centenas de conselhos úteis, que embora pudessem ser considerados textos de autoajuda, eram escritos por pessoas com credibilidade, talvez até por Deus, e eram interpretados e explicados por sábios, sacerdotes preparados para esta função.

Em quarto, temos as Universidades, onde jovens iam à procura de uma profissão e muitas respostas para as grandes questões da vida, onde encontravam “mestres”, “tutores” e discutiam em colóquios e acalorados debates entre os alunos.

E uma das grandes verdades, que todos aprendiam, era que o objetivo da vida era a cooperação humana, a ajuda recíproca, a solidariedade, o convívio entre as pessoas, o carinho, o abraço, a ajuda fraterna.

O egoísmo, o engrandecimento, o sucesso pessoal eram vistos como o lado menor das pessoas, o lado mesquinho, que só traria a infelicidade.

O princípio do livro de autoajuda significa não precisar de ninguém para ter sucesso na vida.

Basta pagar os R$ 30,00 reais e ler o livro.

Não precisa de um mestre, um guia, um guru, um pai, nem avô. Somente o livro de autoajuda.

Se todos os livreiros fossem iguais ao da piada acima, talvez a ficha caísse para os milhares de compradores de livros de autoajuda.

Que substituiu a religião, a universidade, os pais, os tios, os irmãos mais velhos, a sabedoria dos mais velhos.

Que virou uma religião, uma heresia, e por isto seus livros na tradição medieval, precisariam ser queimados.

Mas não por padres, avós, mestres, mas sim pelos próprios compradores.

Antigamente, o livro de autoajuda mais vendido era o “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, de Dale Carnegie, meno male, pelo menos induzia você sair do seu casulo e conhecer pessoas.

Os mais vendidos de autoajuda hoje são uma tragédia.

Na próxima vez que você comprar um livro de autoajuda, procure os livros sozinho.

Você estará assim aprendendo desde o início a conviver com a solidão.

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Comentários

25 respostas

  1. Incrível, o assunto imediatamente antes de ler este brilhante artigo (como sempre) foi assistir ao vídeoclipe THRIVE! Do you know it?

  2. A literatura de auto-ajuda, às vezes disfarçada de ciência, parece-me enganosa, porque vem com ares de elixir do conhecimento, como se facultasse fórmulas universais para qualquer tipo de pessoa e circunstância. Cada um daqueles livros deveria trazer um sêlo que informasse o consumidor que tal elixir não existe…

  3. Caro Stephen, 99% das vezes concordo com seus brilhantes artigos e comentários. Infelizmente desta vez vou ter que descordar. Os livros de auto-ajuda tem papel importante na motivação de pessoas e fornece técnicas de superação de problemas com o uso da Neurolinguística, ciência que estuda a elaboração cerebral da Linguagem. O homem é feito de seus pensamentos e melhor que sejam positivos, um abraço, henrique

  4. Posso estar enganado, mas a própria palavra auto-ajuda já prova que a total eficácia desses livros é duvidosa. Ajuda é o que você pede a alguém quando não consegue sozinho fazer algo. Se está se auto-ajudando, é porque não precisa de ajuda ainda. Se não precisa dessa ajuda, então, pra que esses livros estão aí? Lugar errado.
    Mas não sendo tão sinistroso (termo que aprendi do Kanitz), sabendo filtrar, pode-se achar algum conselho e inspiração úteis, só não pode-se agarrar a unhas e dentes a esses guias cegos.

  5. hummm, vou ter que discordar. “meio radical” essa sua opinião, as vezes “ouví-lo” assim lembra uma pessoa muito chata e impertinente que conheço, o dono da razão.
    auto-ajuda é só uma classificação de tipos de livros.
    A pessoa está conversando com o autor do livro, ouvindo na forma de leitura alguém que é especialista em determinado assunto específico, e isso é muito prazeroso.

  6. Parabéns pela reflexão. O ser humano é muito complexo.Não existe, nem existirá, manuais normatizando as ações humanas no tocante a si mesmo.

  7. Concordo plenamente!
    Há livros, como os de autoajuda, que são verdadeiros atentados ecológicos, quando se pensa que para serem eles editados, algumas árvores foram derrubadas, além do consumo de muita água e energia.

  8. Mestre Kanitz …. conversa com minha irma essa semana, e disse a ela :
    Vou Escrever um Livro e vou ficar rico., é muito facil ganhar dinheiro hoje.
    O Titulo seria: ” Como Ficar Rico vendendo Livros “.
    Seria vendido centanas de cópias, porque hoje ninguem quer mais buscar o caminho das pedras, é muito mais facil obter conselhos de livros com titulos absurdos e assim desviar-se de todos os desafios.

  9. Concordo parcialmente com sua opinião Stephen.
    O maior problema é que nossas escolas e até mesmo universidades não ensinam mais as pessoas a viver, mas sim decorebas inúteis.
    Por isso, a busca pela leitura de auto-ajuda é um reflexo de nosso ensino escolar… e por que não familiar? Os pais têm cada vez com menos tempo para educar seus filhos, terceirizando a tarefa para babás e avós.
    No fim, os filhos tornam-se adultos despreparados para a vida. E voltam-se para algum tipo de instrução que os ensine a viver melhor nesse mundo cada vez mais louco em que vivemos. E o que encontram? Livros de auto-ajuda… milhares e milhares de respostas… muitos são uma porcaria, mas o tempo ensina a escolher.

  10. Eu adoro ler livros de auto-ajuda, eles me ajudam a entender o que eu realmente sinto. Não acho que substituo uma conversa com minha mãe por exemplo, eu acho que eles só me dão uma base para entender melhor o que acontece comigo.
    E garanto, alguns livros me ajudaram muito…
    Mas de qualquer forma, gostei do seu texto, acho que você expôs muito bem a sua opinião sobre o assunto…
    Abraços

  11. Não acho que livros de autoajuda substituem essas boas conversas, e são sim realmente muito bons, e a maioria da vezes situações reais, e nem todas pessoas passam pelas mesmas coisas.

  12. Não concordo com nada deste artigo. Tem mto livro bom que até incentivam a pratica dos conselhos aos mais experientes e a se interagir com outras pessoas. Acho que quem escreveu este texto, só teve a infelicidade de pegar livros ruins sobre o tema, assim como tem diversos livros ruins sobre qualquer outro tema.

    1. Concordo plenamente com você Cris! Como exemplo, cito o livro O Poder do Agora que me beneficiou imensamente. Vale a pena lê-lo.

      Se gosta de autoajuda acesse meu blog: discoveringmyworld.blogspot.com.br

  13. O artigo é interessante e inteligente, mas passível de algumas ponderações. Se você estudar a fundo a genealogia da autoajuda verá que a mesma sempre existiu, tendo sua origem provavelmente nos países de culturas orientais, afinal o quê os monges e antigos sábios faziam ? Meditar, encontrar seu equilíbrio interno, ajudar a si próprio para depois ter condições de ajudar ao próximo desprovido de tais conhecimentos. (e isso não está contido na filosofia da autoajuda?). E no ocidente podemos pesquisar obras dos filósofos gregos como aristóteles, socrátes, platão e outros…e me digam se a filosofia da autoajuda não passa por essas obras. Agora …Imaginem que grandes conhecedores dessas obras contrários a todo massacre emocional , psicológico e físico imposto às pessoas pela monarquia e em paralelo pela igreja, decidissem mostrar para essas pessoas que elas podem mais, que podem se livrar dessas correntes….bom…assim se iniciou a demanda pela autoajuda e é provável que muitos desses instrutores tenham sido mortos pelo rei, pelo imperador ou queimados pela inquisição. Só pra reforçar estudem a fundo os evangelhos que estão na Biblia e estudem os apócrifos ( Seria JESUS um grande mestre também da autoajuda ? ). O que ocorreu é que com a chegada e difusão desses conceitos por toda Europa e principalmente Estados Unidos iniciou-se um processo de massificação abrindo oportunidades para oportunistas irresponsáveis. Mas lembrem-se toda demanda se inicia em um ponto e se inicia por algum motivo ou necessidade. A minha dica final é antes de comprar um livro de autoajuda, pesquise o autor, só pra ter certeza de não está comprando lixo. Grande abraço a todos!

  14. Uma tragédia é acreditar que a auto ajuda não seria um mecanismo perfeito para superação de problemas. Na minha opinião é a ÚNICA saída. Não é possível ajudar alguém que não se ajude primeiro. Isso sim é definido como um indivíduo solitário, aquele que acha que ele mesmo não tem poder de ajudar a si mesmo.
    Acredito sim no poder desses livros, eu mesmo me sinto imensamente beneficiada por seus ensinamentos profundos que nos levam para dentro de nós mesmos. Ainda, é através de nós mesmos que iremos ajudar o próximo!

    Meu Blog que também fala sobre auto ajuda: discoveringmyworld.blogspot.com.br

  15. O livro de Auto-Ajuda só ajuda uma pessoa: o próprio autor. Ele fica rico vendendo estas porcarias. Se as pessoas procurassem saber como funciona o mundo, a economia, a administração, a engenharia, o consumo…ela enriqueceria sua vida em todos sentidos, inclusive a financeira.

  16. Acho que posso resumir o texto do autor com a seguinte pergunta:
    Você continuaria comprando de uma loja se vc descobrisse que, perto dela, se encontra o seu fornecedor,uma fábrica,sua fonte de produtos, com preços menores e com uma variedade maior?
    Quem são essas fábricas na nossa vida? Pais, avós, tios, irmãos …
    Por que se aconselhar pagando, por exemplo, com um psicólogo no terceiro casamento, sobre relacionamento conjugal,se vc tem um irmão que está há trinta anos bem casado com a primeira esposa?

  17. Estranho, sempre pensei que este blog fosse de autoajuda, agora estou em dúvida, vou procurar o livro: Como achar livros de autoajuda sem a ajuda de ninguém.

  18. Olá,
    Acredito que o problema não esteja com o livro em si, mas com a ausência de pensamento crítico. Talvez algumas pessoas não precisem ou não queiram buscar o conhecimento em livros de autoajuda (prefiro o termo desenvolvimento pessoal, se vai desenvolver alguma coisa ou não é outra história). Respeito a opinião do autor, porém nem todo mundo esta cercado de boas pessoas e instituições (para se aconselhar) e nem de bons livros. Enfim existem muitos livros bons que trazem grandes insights, mas concordo com Kanitz é preciso sair do casulo…

  19. Acho que entendi o que ele quis passar, não é substituir o livro de autoajuda pela ajuda dos mais antigos, sábios ou qualquer outra coisa. Com o tempo, começamos a perceber que não existem fórmulas prontas, a vida não vem com manual de instrução e é isso que a maioria das pessoas procuram nos livros de autoajuda, uma forma certa de viver, uma fórmula mágica para a resolução de todos os seus problemas e isso não existe. As pessoas buscam caminhos duvidosos simplesmente por conseguirem lidar com a sua própria solidão. E veja como isso é absurdo, querer que os livros ou outras pessoas nos digam como viver a nossa própria vida. Além de ser absurdo, é triste.

  20. Entendi um pouco o preconceito com os livros de autoajuda através do seu texto. Obrigada. Acredito que alguns livros sejam apenas caça-níqueis realmente. Afinal, vivemos em uma cultura que cultua o dinheiro. Mas foi com o livro Poder do Agora, que você coloca a capa no alto do texto, por exemplo, que eu mudei toda a minha pesquisa de mestrado e agora de doutorado. O que li ali, aliado obviamente às minhas experiências pregressas, deram nova dimensão a toda minha pesquisa. Reflexo da mudança interna que o livro me proporcionou. Precisamos avaliar melhor onde a crítica soa como preconceito.

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