Longevidade e Seguro Saúde

Longevidade Não É Doença : Uma Estratégia Para O Seguro Saúde

Os honorários médicos representam cada vez mais uma parcela menor do custo de medicina. 

Os custos médicos e de saúde estão aumentando assustadoramente no mundo todo.

Nos Estados Unidos crescem 15% ao ano e já correspondem a 15% do produto interno bruto (PIB).

Um dia, a porcentagem será a mesma no Brasil. Isso não significa que os médicos ganharão mais com este crescimento.

Médicos que já recebem mal receberão cada vez menos e terão problemas cada vez mais difíceis em suas mãos para resolver.

Os honorários médicos representam cada vez mais uma parcela menor do custo de medicina.

O grosso dos dispêndios vai para hospitais, medicamentos, exames clínicos, serviços de enfermagem e seguros contra erros médicos.

Culpar as empresas de seguro-saúde ou o governo por essa situação é não entender corretamente o problema.

E por não entender o problema, a maioria das medidas tem sido no sentido de manter uma constante pressão para redução de custos, o que só piora a situação. NINGUÉM está ganhando dinheiro nesta área crítica para o futuro da humanidade, diferentemente do que os muitos formadores de opinião acreditam.

O cerne do problema é o conceito de seguro-saúde.

Seguro-saúde, seja  governamental ou privado, não tem o mesmo sentido de antigamente, com os contínuos avanços da medicina. Antes, a maioria das doenças era incurável, por isso 50% dos custos médicos eram gastos nos últimos dois anos de vida, que era para custear a grande “encrenca” final e incurável. Na época, seguro-saúde significava poupar ao longo da vida para poder pagar pela doença.

Os avanços na medicina mudaram essa lógica do seguro-saúde. Hoje, 80% de toda a população conseguem safar-se das chamadas doenças sérias, caras e de longo tratamento como as oncológicas e as cardíacas. Ou seja, não haverá seguro-saúde que aguentará sucessivas doenças sérias e caras, mas que agora salvam o cliente/paciente.

O famoso cálculo atuarial, onde todos pagam pelos tratamentos caríssimos de alguns, não vale mais. Todos nós teremos eventualmente um tratamento desse porte.

O problema que as empresas de seguro hoje em dia enfrentam, é que longevidade não é uma doença. A deterioração natural do corpo humano não é uma enfermidade passível de seguro, nem curável.

E quando se trata de postergar essa deterioração não estamos mais comprando saúde, e sim longevidade.

Longevidade e seguro-saúde são dois conceitos diferentes, e as empresas de seguro-saúde não serão obrigadas no futuro a nos garantir longevidade; algo que vem ocorrendo hoje.

Não estou sugerindo o fim do setor de seguro-saúde, mas, sim, alertando o consumidor e segurado que existe um novo componente na equação que não está sendo contemplado. Ou seja, a distinção entre garantir saúde para todo mundo e garantir longevidade para todos.

Na questão de longevidade, os gastos médicos são infinitos, diferentemente das doenças que são finitas e até há pouco tempo calculáveis por técnicas atuariais.

Quem quiser viver até os 80 anos simplesmente terá de pagar os exames preventivos necessários, tomar os remédios adequados e arcar com os gastos decorrentes. Nada mal nesse conceito, contanto que todos tenham sido corretamente avisados, permitindo uma poupança para a saúde adequada. Quem quiser viver até os 90 anos provavelmente terá de poupar mais nos anos produtivos, digamos  em torno de R$ 150.000,00.

Decidir quanto dinheiro você está disposto a gastar para aumentar sua própria vida não é mais uma decisão de saúde nem uma questão médica, é uma questão financeira: o quanto você quer gastar do seu patrimônio ou do patrimônio social da coletividade para continuar vivo.

Infelizmente, ou felizmente, o Estado não pode nem tem os recursos para cuidar da longevidade de todos ao limite máximo que todos nós desejaríamos. Quem terá que decidir isso é você e sua família, não o Ministério da Saúde ou o plano de saúde.

Várias pessoas, preocupadas com a situação,  já discutiram com seus médicos um limite fixo nesses gastos, para não comprometer as finanças da família num coma prolongado, por exemplo. Curiosamente, nem temos legislação que permita fazer isso.

No fundo precisamos definir bem claramente nos contratos de seguro-saúde o que é de fato saúde e o que é de fato compra de longevidade. Não é uma tarefa simples, mas também não é algo que possamos deixar de lado.

Se o governo não definir essa questão terá diante de si uma classe média que exigirá esses direitos adquiridos ilimitados, bem como teremos dezenas de companhias de seguro falidas sem condições de honrá-los.

Precisamos evitar os erros que outros países já cometeram, como nos Estados Unidos, que têm um Medical care com passivo superior a 20 trilhões de dólares, que a nova geração terá de pagar, e que a nova geração da Grécia já está rebelando-se para não pagar, e com razão.

Isso será uma mudança brutal de concepção e de expectativa em termos de saúde que exigirá uma enorme campanha educacional, e uma enorme mudança cultural em que clientes e pacientes terão de se conscientizar de que não poderão esperar que tenham assistência médica para combater a natural deterioração do corpo humano. Saúde é um direito constitucional, mas a longevidade não é. Longevidade é uma obrigação, não um direito.

Quando um consumidor compra uma viagem para a Disney, será que ele está sabendo que aquele dinheiro poderia lhe comprar cinco anos de vida? Ninguém nos avisou, e por quê?

Se deixarmos claro que degeneração do corpo é um problema caríssimo de se resolver, a população terá mais preocupação médica, com mais respeito aos problemas como fumo, sedentarismo e obesidade que contribuem no processo de degeneração.

Caso contrário, teremos uma conta impagável, ou pior, teremos empresários ou governos decidindo quem vai viver e quem vai morrer.

Algo inadmissível numa democracia e num estado de direito.

Publicado na Revista CHYMION número 7 / 2010

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Comentários

13 respostas

  1. Sr Kanitz.
    Excelente artigo. O problema maior, é que governantes e politicos, nunca irão falar sobre isso. Então, certamente la na frente as coisas tendem a se agravar. Por isso, cada um de nós que cuide e analise o problema futuro, ou presente.

  2. Professor Kanitz
    A sua argumentação é parcialmente válida, mas tem um porem, ninguem determina vou viver até 80. 90 ou mais anos, a menos que haja suicídios coletivos, adequando a cabeça ao chapéu. Sugiro colocar a Longetiividade da população na conta do Pré-Sal, e criar-se um fundo para solucionar o futuro.

  3. Parabéns…
    Artigo claro, objetivo…pode ser dolorido porque é apenas a VERDADE, no entanto, ninguém quer saber da verdade. As pessoas ainda não amadureceram, não saem do eterno Jardim da Infância de suas vidas e ainda acreditam que o Governo, Plano de Saúde ou Papai Noel ou a Mamãe Noela irão cuidar delas…

  4. O receio é que um artigo com este teor justifica o aumento de impostos, sob a alegação de que é necessário o governo confiscar mais para poder prover o futuro dos cidadãos… O estado confiscatório como condição de sobrevivência, garantidor da longevidade… eita…

  5. Caro Kanitz … entendo ser excelente a abordagem e os que vivem uma vida planejada com certeza vão preparar sua estratégia para conviver com essa realidade.
    Aproveito para informar como no sistema Usiminas (do qual sou aposentado) esse assunto é tratado. Temos dois tipos de despesas: um para cobrir gastos diretos advindos dos consultórios médicos. Ou seja, o que eu gastar eu reembolso o plano de saúde. Agora, quando o tratamento requer procedimento hospitalar e afins a despesa vai para uma conta geral que é rateada pelos participantes. Há alguns detalhes nessas trativas mas grosso modo é assism que funciona.
    Temos duas despesas portanto: uma é direta (eu pago) a outra socializada (todos pagam), e funciona satisfatoriamente. Entretanto, a parte odontologica é outro capitúlo.

  6. Ótimo artigo. Acredito que uma forma de garantir a viabilidade do mercado de saúde seria todos os atores deste negócio trabalharem sob a ótica de uma seguradora de saúde com uma franquia mínima de uso e esta ao não ser utilizada ao fim de um prazo seria destinada para um fundo. Este fundo poderia no futuro sustentar o que todos já sabem, a alta sinistralidade que ocorre com o avanço da idade. Tentar negar o inevitável é aumentar a gravidade de problemas futuros. Devemos discutir mais sobre este assunto e buscar as melhores alternativas para o financiamento da saúde, tanto pública quanto privada.

  7. “(…)Decidir quanto dinheiro você está disposto a gastar para aumentar sua própria vida não é mais uma decisão de saúde nem uma questão médica, é uma questão financeira: o quanto você quer gastar do seu patrimônio ou do patrimônio social da coletividade para continuar vivo.”
    Bem complexa esta questão. De fato, nossa população – assim como a de todo o mundo – está envelhecendo. Junto a esta questão inevitável, está uma outra: várias doenças crônicas tornam-se verdadeiras epidemias. Só para termos um exemplo, vejamos a Insuficiência Renal Crônica: atualmente há mais de 1 milhão de pessoas em diálise, sendo que a expectativa é que este número dobre até 2015. Por que ocorre esta epidemia? Tanto pelo aumento da expectativa de vida, quanto pelo aumento incontrolável de suas duas maiores causas – também doenças crõnicas – o diabetes mellitus e a hipertensão arterial.
    Diante disto tudo há o seguinte pensamento “dialético”: Se o envelhecimento gradativo da população é inevitável, o surgimento de doenças crônicas sim… pode ser até certo ponto evitado. Pensar em logenvidade é, portanto, pensar em medicina preventiva.
    Na prática tudo isto é muito difícil… e muito desgastante para quem está diariamente envolvido com o setor de saúde – pacientes e profissionais de saúde. Falta boa gestão.
    Assim como em alguns estados há um atendimento diferenciado – específico – para gestantes, é bem provável que o mesmo sistema seja destinado aos nossos idosos.
    Preciso pensar mais nesta frase tão forte: “Decidir quanto dinheiro você está disposto a gastar para aumentar sua própria vida não é mais uma decisão de saúde nem uma questão médica, é uma questão financeira”…
    De qualquer forma, não temos culpa de envelhecer. Todos caminham para isto. Mas.. temos culpa de não prevenirmos o que um dia, pode tornar-se uma doença crônica. Temos culpa pois conhecemos este fato. Mas quando se trata de uma população que desconhece inclusive o que é “pressão arterial”… isto se torna bem mais difícil.
    Muito preocupante esta questão… muito preocupante.
    Saudações,
    Andrea Pio

  8. Caro Kanitz, ótimo ponto a ser discutido por muitos artigos. Você não tem o direito de tocar num assunto de tamanha importância, e no proximo já vir comentar que o homem ha dez mil anos caçava para comer e não sabia que os filhos eram seus. Você pode mais. Tem muita lucidez nos pontos abordados relacionados à saude na longevidade.
    Com o que for colhido aquí neste democrático espaço que gentilmente nos proporciona, podera ser coado, polido, podado e sair no final uma solução se não definitiva, adequada a amenizar as dificuldades dos governos e usuários nesta questão.
    Exemplo;aumentar o tempo de contribuição para 45 anos, podendo ser requerida aos 40 anos com redução da aposentadoria.
    Está comprovado. Uma queda significativa na saúde de aposentados nos primeiros anos de aposentadoria. O numero de separações de pessoas com mais de trinta anos de casados, mais de 50% delas acontecem nos dois ou tres primeiros anos de aposentadoria de um dos cônjuges.
    Outra boa comprovação é de que os clubes de terceira idade, públicos ou privados, estão “esvaziando” ambulatórios. É uma direção a seguir. Outras devem ter.
    Planos particulares de saúde perdendo dinheiro? NÃO ACREDITO. Apenas não ganham mais o que queriam como era a uns vinte anos. Vão ter que contratar ADMINSTRADORES, e buscar efeciência.

  9. Não sei até que ponto vale a pena viver bastante e empacar a vida dos outros.
    Quando ficar velho e sem poder andar, quero ir viver numa cidade como Vancouver.
    Mas sei lá se vale a pena viver tanto ficar velho chato e ranzinza…

  10. Outro dia achei um texto sobre outro ponto de vista.
    Vou dar um exemplo de meu avo, ja falecido ha 8 anos.Minha mae cuidava dele, e ela so vivia reclamando o quanto estava exaustaa de cuidar dele, ele tinha mais de 90 anos, e dava muito trabalho…minha mae so vivia doente…mas a minha mae e minhas tias nunca pensaram em colocar ele num asilo de velhos pois tudo mundo ia ter pena dele…acho que na verdade nao era exatamente pena dele, mas eles tinham medo de doer na consciencia e de ouvir o povo falar mal deles por jogar ele no asilo, entao minha mae e minha tia se revezavam em cuidar dele…ums meses na minha mae, outros meses na minha tia…mas tinha no ar muito falsidade…todo mundo desejava que meu avo morresse logo,pra se livrar dele..pois bem, ele morreu e todo mundo ficou tao feliz…eles nao dizeram assim em palavras, mas eu notei aquele ar de alivio e felicidade.
    Cada caso é um caso. Tem pessoas que vivem em estado vegetativo, esclerosadas, e dão realmente muito trabalho a quem cuida delas. Essa pessoa saudável que exerce os cuidados, normalmente, com o estresse e o desgaste dos anos de dedicação, acaba ficando doente também. Se ela sai para trabalhar, então, sempre esta pensando que aconteceu alguma coisa com o velho em casa, uma preocupação constante.
    às vezes precisam de enfermeiros dia e noite, revesando. E onde o dinheiro pra custear tudo isso? Se colocar umas empregadinhas mais baratasdamas de companhia, a maioria não é qualificada e tem umas que não dão comida e até agridem os velhos.
    E o resto da familia, como é que fica? Os netos vendo o avô naquele estado, a filha deixando de se dedicar ao marido e aos filhos para se dedicar à mãe esclerosada que não reconhece ninguem….

  11. Sinto muito por sua materia , em partes ate concordo pois o custo da saude seja ela publica ou privada nunca vai deixar de subir, mais sem sombra de duvidas podemos sim reduzir a velocidade que esta subindo onde medicos ganham cada dia menos, isso para medicos que nao sao empreededores ou seja que nao fazem parte do esquema (de imagens,labarotorios,receitas etc.) pessimos medicos no mercado de trabalho que nao sabem curar uma doeenca mais sim e um eximero vendedor de medicamentos (business men corrompido) por uma cultura arcaica e que precisa ser renovada, agradeco a nova tecnologia que nos da condicoes de avaliar cada medico pela sua performance e assim ser melhor remunerado, essa tecnologia rejeitada por muitos da classe , exatamente porque revela que sao maus profissionais, eu acredito sim que se atacarmos o despercio poderemos sim fazer uma economia entre 10 a 40% dependendo do setor, e com essa economia pagar melhor o medico pela sua performance. isso ja esta sendo feito aqui nos EUA e com sucesso e nos da Apicalcare estamos entrando no Brasil e adpitando nossa tecnolgia para ser aplicada no mercado Brasileiro, para a tristeza de uma menoria e para a alegria da maioria dos brasileiros principalmente para medicos honestos e paciente que sonham com um tratamento de primeira.

    1. Luiz Alvez,

      Esta é curiosamente a posição de muitos médicos. Ignorar a questão fundamental, e argumentar que a saída é reduzir os custos em 40% como você sugere.

      Mas isto é ignorar a questão que eu coloco. Os custos podem ser ilimitados, depende de quanto tempo alguem que permanecer vivo com os impostos dos outros.

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