Erros de Magnitude

Há muito tempo descobri que nossa elite brasileira não sabe pensar.

Meu blog se chama Para Se Pensar.

Pensar não é fácil.

É assustador ver tantas Fundações estudando e propondo soluções para o nosso ensino, e nenhuma propõe que a verdadeira solução seria ensinar em torno do mote “resolvendo problemas”.

Ao que eu acrescentaria “com n variáveis” e não somente duas, temperatura e pressão.

Ninguém sabe quais serão as profissões daqui 10 anos, fim de um ciclo educacional. E agora estão ensinando o quê?

Mas se ensinassem a pensar, usando projetos, estudos de casos, solução de problemas, nossos filhos teriam uma chance.

Vou dar um exemplo do que é ensinar a pensar.

Um dos erros mais frequentes que vejo entre os comentários, é o que se chama erro de magnitude.

Digamos que eu tenha escrito que um dos problemas do Brasil é a previdência com um furo de 24 trilhões, como fiz essa semana.

Aí alguém discorda, dizendo que o problema é a corrupção.

Só que a corrupção chega a 24 bilhões. Resolvendo a corrupção não irá resolver o problema da previdência.

Houve um erro de magnitude.

Outro exemplo é a resposta de alguns com relação à corrupção do PT, de que todos os partidos roubam, e aí acham que o placar nessa questão volta a ser zero a zero.

Outro erro de magnitude.

Ou as explicações de dezenas de economistas que o problema é o deficit, a inflação, os juros, os juros reais, sem medir a magnitude dessas variáveis e como afetam a economia.

A única vez que Paulo Freire usa o termo pensar é nesta frase.

“Só, na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às vezes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo.”

Precisamos urgentemente discutir educação para o futuro, e esquecer o passado.

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Comentários

15 Responses

  1. O Ensino Médio e o Fundamental poderiam (ou deveriam) ter foco em Interpretação de Textos e Matemática Básica. Ferramentas para a comprensão mais básica do mundo.

  2. Professor, na realidade já existem métodos antigos de construção de uma formação intelectual sólida que trazem como resultado uma melhor capacidade na resolução de problemas reais. As Artes Liberais (não possuem vínculo com o liberalismo, que fique claro) trabalham no sentido de transformar a pessoa a partir de um conhecimento progressivo expresso no Trivium (Gramática, Retórica e Lógica), e no Quadrivium (Música, Aritmética, Geometria e Astronomia).

    Não há necessidade de inventar a roda.

    É necessário o resgate de boas ideias e de caminhos realmente preocupados com a formação integral das pessoas (coisa que, infelizmente, os governos liberais e socialistas nunca se propuseram a fazer, limitando-se à formação de profissionais técnicos e militantes políticos, exclusivamente).

  3. Oi Kanitz,
    Conheço o teor do erro, mas não o erro de magnitude. Gostei do nome.
    Sobre ensino, grade curricular etc recomendo o manifesto de C.P. Snow, na Inglaterra, em que levanta essa questão sobre o que ensinar aos alunos e o que seria melhor para o país.
    Abraço.

  4. Aproveito, caro Kanitz, para comparar com o termo que eu aprendi a usar para identificar este erro, mas na realidade mesma e não apenas entre discursos. Pensando um pouco mais (e até por burrice minha) ele, ao que parece, é o mesmo que a falta de senso de proporcionalidade. E se o discurso refere-se à realidade, acho que podem se equivaler.
    De acordo com Olavo de Carvalho, os três principais erros ao tentar entender a realidade de um fato são: a falta de senso de proporcionalidade, a falta de juízo de valor e a fragmentação do conhecimento.
    Abraço!

  5. É realmente preocupante a quantidade de gente “sem noção” ou sem bom senso de avaliação dos fatos. Exemplo frequente é previsão de inflação por grandes economistas. Quando se espera entre 5 e 7% para o ano seguinte, aparece um gênio que crava 6,13% e pior, saí nos jornais! Até penso em escrever um manualzinho de grandezas para jornalistas, pois incendios na Amazônia destroem entre 5km2 e 5 milhoes de km2. Isto quando não aparece a área em km e não km2. Para sorte dos jornalista e editores, quem lê também não nota as diferenças!

  6. Sou médico oftalmologista, e quando atendo um jovem em meu consultório, para quebrar o gelo inicial da consulta, costumo perguntar o que gostaria de fazer como estudos superiores, e na sequência, pergunto quanto é 7X8. Pasmem, somente cerca de 10% dos pacientes respondem, e isto para surpresa dos pais que os acompanham! Escolas que não ensinam nem operações simples, que diria problemas como regra de três.
    E isto eu falo de São Paulo, Jardins. Não ouso nem pensar nos rincões do Brasil.

  7. Professor Kanitz,

    A raiz de todos os nossos problemas ( inclusive e principalmente a educação ) é sempre a mesma: a péssima qualidade de nossos governantes e parlamentares principalmente.
    Precisamos partir deste ponto ou daqui a 50 anos estaremos discutindo os mesmos problemas.
    Já escrevi sobre isto e não me canso de repetir.
    1- O voto não pode nunca ser obrigatório.
    2- Não havendo comparecimento de no mínimo 80% dos eleitores a eleição deve ser anulada e os candidatos necessariamente trocados; sem possibilidade de se apresentarem novamente.(inelegíveis por 10 anos )
    3-Depois de 5 pleitos, se necessário, os candidatos eleitos terão mandatos proporcionais ao comparecimento dos eleitores nas urnas.
    4- ou seja: comparecimento de20% : um ano de mandato. ( abaixo disso não há nenhuma representatividade )
    comparecimento de 30% : dois anos de mandato.
    comparecimento de 40% : três anos de mandato.
    Comparecimento de 50% : quatro anos de mandato.
    comparecimento de 60% ou mais : quatro anos de mandato, com possibilidade de reeleição.

  8. O brasileiro que já não tinha nenhuma noção de magnitude pirou de vez com a roubalheira generalizada do PT. Lembro que na época quando vc dizia 10 milhões ou 10 bilhões as pessoas jogavam tudo no mesmo saco.

    O melhor exemplo pra explicar isso foi a relação com os segundos. 1 milhão de segundos ~ 2 semanas. Já 1 bilhão de segundos ~ 30 anos. Se nem assim o brasileiro entender então somos caso perdido mesmo.

  9. Admirável… realmente precisamos urgentemente rever esse conceito do que é a educação atual, e como devemos ensinar a nova geração a pensar.

  10. Perfeito, professor!!!
    Lembrando Alexandre Dumas (filho): “Como é possível que, sendo as criancinhas tão inteligentes, a maioria das pessoas sejam tão tolas? A educação deve ter algo a ver com isso!”
    Há algumas décadas, parte do Curso Médio se chamava Ginásio, um curso que, mais que ensinar, buscava o exercitar o cérebro!
    Um amigo professor lutava com uma aluna que, simplesmente, cruzava os braços em algumas matérias. Dizia ela: – Não preciso estudar Matemática, não vou ser contadora; não vou estudar Química, não vou trabalhar com química etc.
    Meu amigo disse uma frase que considero magistral: – “Boa parte do que estudamos nos ajuda a entender o mundo que vivemos! Tem certeza de que você entende minimamente o mundo em que vive?”
    A aluna calou o bico. Não sei se mudou a postura.
    Abraço!

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