A Coragem de Cobrar Caro

Você tem medo de pedir aumento, você tem medo de aumentar o seu preço. Então leia.

 

Meu médico me recebeu todo envergonhado pelo atraso de duas horas na consulta marcada.

“Doutor, eu não estou irritado pela espera porque o senhor é simplesmente o melhor médico do país, e eu não sou bobo.

Prefiro esperar a consultar o segundo ou o décimo melhor especialista da área.”

Isso o tranquilizou.

“Eu só acho triste que o melhor médico deste país esteja cobrando o mesmo preço que os outros, tendo de trabalhar o dobro, sem tempo para estudar e ver a família.

Eu, palestrante que sou, cobro dez vezes o preço desta sua consulta, só que nunca chego atrasado.” 

Concordou e balbuciou a seguinte frase, que me levou a escrever este artigo.

“Tenho medo de cobrar mais do que os meus colegas. Eles ficariam com inveja, falariam mal de mim, seria um inferno.” 

No Brasil, a maioria dos empregados e profissionais no fundo tem medo de pedir um aumento de salário ou de cobrar mais caro.

Cobrar mais significa criar um cliente mais exigente, que irá reclamar toda vez que o serviço não corresponder ao preço.

Cobrar menos é sempre a saída mais fácil, dá muito menos problemas, menos reclamações, como no meu caso.

É preciso ter coragem para cobrar mais e assumir as responsabilidades inerentes. A maioria prefere o comodismo e a mediocridade do “preço tabelado”.

Só que, se cobrar o mesmo que os colegas menos competentes, você estará roubando clientes deles, e é isso que cria inveja e maledicência.

Você estará fazendo “dumping profissional”, estará sendo injusto com eles e consigo mesmo. 

 Eu sei que é difícil cobrar mais caro, mas alguém tem de dar o exemplo, mostrar aos outros profissionais o caminho da excelência, implantar novos padrões, como pontualidade, por exemplo.

Você será o guru da nova geração, e a inveja que terão de seu novo preço fará com que eles passem a copiá-lo.

E, à medida que seus colegas se aprimorarem, sua vantagem competitiva desaparecerá e você terá de reduzir o preço novamente ou então melhorar ainda mais seus serviços.

Somos essa sociedade atrasada porque, entre nós, cobrar caro, ganhar mais do que os outros é malvisto pelos nossos intelectuais, políticos, líderes religiosos e professores de sociologia.

O paradigma de sucesso deles é cobrar pouco.

Melhor ainda seria não cobrar, oferecendo de graça ensino, saúde, segurança, cultura, aposentadorias, remédios, comida, dinheiro, enfim.

De graça, o povo não tem como reclamar dos péssimos serviços, os alunos desses professores não têm como criticar as péssimas aulas. “De cavalo dado não se olham os dentes.”

Se alguma coisa a história nos ensina é que o “tudo grátis” traz consigo a queda da qualidade dos serviços públicos, a desvalorização do serviço, o desprezo pelo povo nas filas, a exclusão social, a corrupção e a desmoralização de todos os envolvidos. 

O programa Bolsa Escola foi criado no governo do PSDB como uma forma inteligente de incentivar as mães a manter os filhos nas péssimas aulas do ensino público. Quando o estímulo deveria ser aulas interessantes a que nenhum aluno curioso iria faltar.

Nós administradores já descobrimos há tempos que refeições grátis para funcionários não são valorizadas, e a qualidade despenca.

Por isso, cobramos algo simbólico, 10% a 20% de seu valor.

Se o ensino fosse cobrado, em pelo menos 10% do valor, teríamos pais de alunos reclamando do péssimo ensino público e gerando pressão por melhoria e redução de custos.

Dizer que nem isso dá para pagar é mentira – 10% não chegariam a 20 reais por mês.

Tem muito pai que faria trabalho extra pelo orgulho de saber que foi ele quem custeou a educação dos filhos, e não a caridade estatal.

Se temos falta de recursos em educação, por que não cobrar pelo menos 10% do valor? Seria falta de coragem ou simplesmente vergonha?

Precisamos mudar a mentalidade deste país, uma mentalidade que incentiva a mediocridade, e o medo de cobrar pelos serviços, por óbvias razões.

Se você acha que cobrar caro e ficar rico é politicamente incorreto, como muitos professores têm ensinado por aí, doe o adicional pelo meu site www.filantropia.org.

Ou então passe a trabalhar menos, volte para casa mais cedo e curta sua família.

Mas não faça a opção pela pobreza, não tenha medo de cobrar cada vez mais.

Caso contrário, continuaremos pobres e medíocres para sempre.

 

Revista Veja,  2006, página 28, Política de Preços

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Comentários

18 respostas

  1. Muito bom. Realmente temos que parar de ter medo de enriquecer.
    Mas não concordo com um ponto: educação e saúde no Brasil não são de graça. Pagamos, e pagamos muito, pela péssima educação e saúde que temos (e tudo mais que supostamente é gratuito no Brasil) através dos altos impostos.
    Talvez as pessoas ajam assim por não saberem o quanto de impostos pagam, e como são utilizados. Talvez uma boa proposta para isso seria pagar impostos com um carnê, como o IPTU, onde a pessoa possa ver o que está pagando (e o dinheiro saindo de seu bolso e indo para os cofres públicos).

  2. Uma das coisas que mais me incomodam em nosso país é justamente essa cultura da mediocridade. Quem faz sucesso por fazer algo realmente bem feito é visto como um vilão, ou qualquer coisa do tipo.
    Na verdade, vivemos em uma cultura da mediocridade, da pobreza e da ignorância. Três conceitos que permeiam os discursos intelectuais que veem na valorização desses uma forma de redenção dos “menos favorecidos”.

  3. desculpe , mais vc parte de uma premisa falsa, o encino gratuito , não é gratuito, quem ganha 100mil por ano paga 40mil de imposto e isso vai para educação , saúde etc.. que esses serviços sejam ruins é porque quem paga imposto nunca foi educado a acompanhar como esta realmente utilizado seu dinheiro.
    em relação a cobrar caro acredito seja um problema mais de auto estima do que mercado.

  4. (desculpe , mais vc parte de uma premisa falsa, o encino gratuito,) Realmente a Educação anda tão ruim que escreveram ENCINO COM “C” quando deveria ser ENSINO, PREMISA quando deveria ser Premissa,voltando ao tópico, nada é de graça pagamos impostos altíssimos, mas muitos nem se dão conta disso e chegam a achar que o ensino é de graça mesmo.

  5. Diego said…
    Parece que vc acredita em Pai Noel esse governo tem pessoas de confiança? vc pode crer que esse imposto vai para educação ou vc não tem televisão pra ver o verdadeiro estado dos colegios de ensino público? Vc coloca su filho num colégio público? vc ja foi num posto de saúde do SUS? teve que acordar que horas?
    Para de fala merda cara acorda pra realidade das coisas filho leia mais ok
    abraços

  6. Percebo que os comentarios nem sempre sao tao faceis de se compreender….realmente existe uma parcela da populacao que paga altos impostos para sustentar as politicas publicas. Mas ha uma parcela da populacao que nao sabe que paga estes altos impostos e tem a falsa sensaçao de que recebem muito do governo principalmente quando comparamos era antes de Lula e após. Entao essa gente nao consegue pensar em exigir algo, principalmente porque sequer tinham acesso ao minimo necessario. O que me espanta e me faz refletir um pouco mais sobre o artigo é que mesmo pagando altos impostos, a classe que os paga arduamente, digo quase 4 meses do seu ano vai para o governo, muito pouco fazem para exigir coisa melhor que por direito já está sendo pago. Muitas vezes as exigencias recaem sobre as instituiçoes as quais estao pagando adicionalmente pelo serviço pois nao ha como exigir ou brigar por melhor qualidade do servico revertido do pagamento de impostos.
    Sao coisas a se pensar….e estah cada dia mais complicado saber o que realmente eh o justo num pais onde nossos representantes hajem com extrema impunidade

  7. Eu acredito que o principal deste artigo, seja a mensagem de que a EXCELÊNCIA deve ser valorizada sempre.
    Seja o melhor e cobre o maior preço por isso!
    Parabéns Stephen Kanitz.

  8. Eu concordo que deve-se primar pela qualidade dos serviços prestados, e que um serviço de boa qualidade tem seu preço diferenciado. Contudo tive ansia de vômito ao ler a sugestão de pagarmos 10% pelo ensino afinal, todos sabemos que esse dinheiro nao falta… concordaria se pagassemos menos impostos, pois sabemos que o que nao falta é politico querendo mamar numa teta gorda.

  9. O segredo de cobrar caro é : ter a coragem de cobrar por algo onde o preço terá sempre alguém que possa pagar.Quanto a relação custo benefício, o que vale é o prazer de poder pagar por algo que me satisfaça.Quanto ao Valor, a única coisa que tem verdadeiramente um valor fixo e estipulado é moeda corrente, o resto pode valer 1 ou 1 milhão, depende de onde e como está sendo procurado.

  10. A mediocridade correr solta nas veias de alguns brasileiros, qualquer um que tenha pretensões fora do comum, logo sofre com preconceitos e piadinhas.

  11. é um bom texto, com bom argumentos; mas nem por isso tem que ser verdadeiros; um país capitalista onde tem uma boa saúde gratuita é a Inglaterra, paga-se imposto caro lá e é bem retribuído para sociedade; a americana por outro lado apenas é de excelência para quem gastar bastante. É injusto alquem com doença crônica e não poder ter a seu dispor profissionais de alto padrão; quem trabalha com saúde é para ser bem remunerado sim e ser cobrado por isso, eles tem preocupem com os grandes agravos que venham surgir em seus pacientes, e não o quanto o paciente possui em sua conta bancária para saber se vale a pena ou não pesquisar e tentar solucionar seu problema. O médico ou outro profissional de saúde com um plano de carreira organizado, cobrado com exames anuais, exigência de atualização acadêmica periódica; limitava-se sua carga horária com condições humanas (60 horas semanais), poderia então ser cobrado com pontualidade e bom serviço; aqueles sabidamente mais competentes, destacados em suas áreas, seviriam para solucionar os casos mais difíceis e receberiam melhor por isso.

  12. Interessante o argumento de que os grandes profissionais devem se valorizar sem receios, sustentando a idéia de que serviços públicos deveriam ser pagos para permitirem cobrança de quem os recebe.
    Principalmente quando a história nos prova o contrário.
    Grandes nomes da ciência brasileira, como Aziz Ab Saber por exemplo, foram professores escolares em escolas públicas.
    Foi justamente a destruição dos salários dos professores que acabou com o ensino no país!
    Em contrapartida me formei em universidade pública, onde ainda há salários dígnos (embora devessem melhorar), e nunca sequer imaginei idéia tão rasa de o valorizar mais ou menos em função de pagá-lo diretamente, ao contrário.
    Tenho orgulho e me sinto responsável por contribuir com a sociedade.
    Portanto, cabe afirmar, que ao contrário da idéia apresentada, foi justamente por ser de péssima remuneração que os bons profissionais se afastaram das escolas.
    Foi, também, pela referência a métrica hora/aula, e não salário, que foi eliminada a possibilidade de professores se aprimorarem e seguirem estudando.
    Tudo isso com um único e óbvio intuito: abrir espaço para a iniciativa privada.

    1. Você matou a charada. Não existe iniciativa estatal, ficam somente reclamando dos baixos salários, redução de número de alunos em aula, aposentadorias integrais para aposentados, e por isso, faça a conta, sobra menos recursos para pagar salários para os que estão na ativa.

  13. “Neste paragrafo ” —>>>> Se alguma coisa a história nos ensina é que o “tudo grátis” traz consigo a queda da qualidade dos serviços públicos, a desvalorização do serviço, o desprezo pelo povo nas filas, a exclusão social, a corrupção e a desmoralização de todos os envolvidos.

    Prolixo e texto enfadonho, vai viajar por países desenvolvidos e percebe-se que vários serviços públicos são gratuitos e de excelente qualidade, (alguns também são cobrados como transporte público) diferente da bananalândia o se paga por tudo e péssima qualidade

  14. Aqueles que tem o destino da herança maldita, que é a miséria em todos os sentidos, só querem ser felizes, entender o cotidiano, ter comida, uma moradia, ver seus filhos estudando e serem todos felizes, será que o capitalismo tem espaço para esses que herdaram essa herança maldita?
    Qual o preço você paga para ver essa situação sem solução, quanto vale resolver isso? Será que devemos continuar pagando esse valor altíssimo para ver nossa nação sempre na miséria?

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