O Brasil tem muitas qualidades, mas também tem muitos defeitos.
Um dos mais graves é que nós ainda não temos o que alguns chamam de senso de urgência.
Deixamos coisas muito importantes para ser resolvidas tarde demais.
Gastamos tempo em excesso cuidando de assuntos que não são urgentes, e devotamos pouco tempo para os assuntos importantes.
Metade da população – ou pelo menos aqueles com algum poder de decisão, acha que na maioria das vezes os nossos problemas se acabam resolvendo sozinhos.
A outra metade acha que a maior parte deles não tem solução.
Com esse tipo de visão, não é de se espantar que a maioria desses problemas nem é discutida, muito menos resolvida.
Infelizmente, o mundo não está esperando o Brasil resolver suas inúmeras dificuldades.
A competição não é mais entre empregados e patrões, como acha a esquerda, nem entre empresas, como acha a direita.
A grande competição comercial é entre as nações, algo que nossos políticos, deputados e senadores não estão percebendo.
Globalização não é uma corrida de 100 metros rasos em que todos os países estão calmamente esperando para que o Brasil amarre o cadarço de seu tênis.
Os países que conseguirem um nível razoável de organização da sociedade sobreviverão. O resto não.
Apesar de o Congresso ter aprovado o início de algumas importantes reformas, é bom lembrar que na realidade estamos até agora simplesmente corrigindo erros conceituais cometidos na Constituição de 1988.
Essas grandes reformas de 1998, como bem apontou na semana passada o deputado Roberto Campos, nada mais são do que correções que nos colocam na estaca zero.
Temos dezenas de outros problemas urgentes ainda a resolver:
(1) a reforma política,
(2) a reforma tributária,
(3) a reforma administrativa, e
(4) a reforma ética, ou seja, combate à corrupção. Precisamos resolver o grande nó da
(5) sonegação,
(6) do empreguismo,
(7) corporativismo. Sem falar de problemas como
(8) balanço de pagamentos,
(9) taxa de juros,
(10) distribuição da renda,
(11) crescimento,
(12) responsabilidade social,
(13) custo Brasil,
(14) custo Brasília,
(15) violência,
(16) aumento do consumo de drogas,
(17) estradas,
(18) ensino público e privado.
Pegue lápis e papel e escreva para seu deputado e seu senador, mande um e-mail com o seguinte recado:
“MEXA-SE”.
Verifique a home page de seu representante para ver como ele anda votando.
Se você já esqueceu em quem votou quatro anos atrás, aproveite este momento para anotar rapidamente em quem você votou em outubro, e coloque o nome do seu deputado e do seu senador na porta da geladeira, num post-it, na tela do seu computador, para nunca mais esquecer.
Muitos acadêmicos acham que a grande arma do consumidor é deixar de comprar um produto novamente.
O mesmo raciocínio é transportado para a política, quando se afirma que a grande arma do eleitor é a reeleição.
Comprar ou não comprar, reeleger ou não reeleger não são as únicas opções de que uma comunidade dispõe.
Existe uma outra alternativa, muito mais eficaz: a sociedade civil organizada.
Uma sociedade que lute diretamente, questionando, ameaçando entrar na justiça, mandando cartas desaforadas para o responsável com cópia para a imprensa, criando home pages pedindo adesões para lutar pela solução de milhares de problemas, desde a reforma política até os meninos de rua.
Toda semana ficava estarrecido ao constatar que dos mais de 5 milhões de leitores de VEJA somente uns 20 escrevem, comentando os problemas – apoiando ou discordando.
Dessa forma, nem os jornalistas ficam sabendo que assunto deve ser repisado ou explorado com mais detalhe.
Se não for considerado um atrevimento da minha parte, eu também gostaria de mandar um e-mail para o querido leitor:
Mexa-se!
Publicado na Veja em 1998, e ainda deixamos problemas acumular, por falta de uma visão administrativa nacional.
Mas uma coisa melhorou. Hoje recebo comentários de 800 leitores por mês, e não mais os 20 da Veja.
13 respostas
Pensei que este texto estava retratando os problemas atuais, mas quando vi a data de 1998 tomei um susto! Estes problemas já há 6 anos atrás e nenhum governante arrumou a situação.
Me lembrei da frase do finado bissexual maconheiro Cazuza: “Quero ver quem paga por esta droga (Brasil) que já vem malhada antes de eu nascer”.
É isso mesmo. Sobre os itens 4 (ética e combate à corrupção) e 5 (sonegação), devemos começar a exigir dos senadores que assumam a responsabilidade de pagar o imposto de renda que devem, e não empurrem para o contribuinte esse onus.
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Estou lendo este excelente texto em 2023 originalmente publicado em 1998 e… é triste constatar que o Brasil conseguiu piorar!
Existe um conceito na cultura nipônica chamado kaizen (改 善) onde prega-se um auto-policiamento para uma constante melhora pessoal, familiar e no trabalho. Concordo com o texto, falta um senso de urgência na nossa cultura (no nosso dia-a-dia, nos jornais, nos blogs, na boca dos jovens e adultos), mas também falta uma ânsia pelo querer fazer certo as coisas certas ao invés de apenas fazer para tirar o atraso.
Talvez falte um pouco de kaizen no nosso dia-a-dia.
Excelente texto e sempre atual.
Temos marchas e mais marchas no Brasil, reúne-se milhares de pessoas na Paulista, no centro do Rio, em Curitiba, em vários lugares, defendendo interesses de grupos e minorias. Fala-se todos os dias de comissões da câmara de deputados (Bois de piranha, num jargão), e as várias “minorias” esquecem-se do coletivo, do público e de tudo o que assola o bem comum. Ou seja, somos individualistas demais para enxergar problemas gerais que levam a problemas individuais. Resolver questões ligadas a ética, corrupção, e outros como bem colocado no artigo, seriam uma excelente forma de haver maior aceitação das minorias na população.
Com efeito, todo comunicador necessita ser realimentado para medir a repercussão de suas opiniões.
Em relação à insatisfação com o comércio, as redes sociais têm muita utilidade. Não comprar mais daquela marca que falhou na assistência técnica e divulgar a falta – é informação que se multiplica.
Em relação aos políticos, não sei não… Na hora do voto, não vale partido, não vale o trabalho. Ao cabo prevalece o que o marketing vende nos meios mais massivos, como a TV. Aí, até a repetição de uma mentira deslavada vira verdade incontestável, como reza “A mistificação das massas pela propaganda política” que li há 50 anos na tradução de Miguel Arraes.
Resumindo, como diria JF Kennedy: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país.”
Hoje, na hora do almoço estávamos conversando a respeito da globalização e como o Chile que cresceu tanto. Porque tem visão. Mas o problema aqui é cultural, educacional e tudo mais.
A principal questão a ser debatida, de fato, você a colocou em último lugar: educação
Outro Fator que eu acredito ser de grande valor é o seguinte ….
É muito comun esquecermos de quem votamos …. mas … a questão principal é que eu não preciso me lembrar se eu votei no fulano da direito ou dr. ciclano da esquerda …… quem esta no cargo hoje é o joãozinho …. então eu vou cobrar é ele, porque independente de que eu votei, Eu pago o salario de quem está no cargo. O que me da direito de cobrar tudo dele …. educação, saude, segurança, menos impostos o que eu quiser.
Pode ser que não vão me ouvir …. Mas como diria Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.”
Kanitz ….. parabens pelos 800 …. vamos para proximo alvo ….. 2.000
ÓTIMA IDÉIA , COBRAR POSTURA DOS PARLAMENTARES.
ESTOU INVESTINDO MEU TEMPO NA EDUCAÇÃO DE MEUS 3 FILHOS (3,5 E 8) E PERCEBO QUE COM A AJUDA DE UMA ÓTIMA ESCOLA, ELES JÁ DEMONSTRAM A POSSIBILIDADE DE UM FUTURO MELHOR.
Isso mesmo, temos que nos unir não só para diversão, ou atender uma necessidade eminente como doação de roupas, alimentos, sangue ou qualquer outra coisa do gênero nos casos de enchentes ou catástrofes, não que essa união nessas horas não devam acontecer, deve sim e isso é muito louvável e aprazível a todos, mas digo que temos que ter essa mesma força e garra para exigirmos nossos direitos e cobrarmos as obrigações de nossos eleitos, afinal de contas nesse país parece que só nós temos deveres e obrigações?
Temos que mudar isso.