O leitor Jeronimo Santos pergunta: por que o varejo não dá desconto para pagamentos à vista?
Num mundo racional, seguindo os princípios da administração financeira, seria do interesse de cada lojista evitar inadimplência, atraso nos pagamentos, mais imposto de ICMS, mais juros, dando um desconto para pagamento à vista.
Considerando que inadimplência, juros, imposto chega a 15%, um desconto de 10% seria um ganha ganha para ambos – lojista e consumidor.
Então, por que não vendem à vista? Muitos colunistas que desconhecem Administração, acham que é estratagema para “ganhar nos juros”, “ganância”, mas não é.
A razão é devida à Economia Tributária.
Nossas leis tributárias não seguem os princípios da Administração, e sim da Ganância, dos espíritos animais do Estado.
Vejamos.
Primeiro, poucos consumidores pagam à vista, com desconto ou sem desconto.
Se derem um único desconto de 10% para um único consumidor, os lojistas seriam imediatamente autuados por sonegação de impostos, o que nenhum obviamente quer.
Se derem um único desconto, os 99% restantes dos consumidores que compram a prazo pagariam 10% a mais, e isto seria considerado juros, com pagamento tributário diverso.
Juros são taxados nas empresas a uma alíquota de 45%, outro erro do Nominalismo, enquanto que o ICMS é de somente 18%.
É um erro brutal ter duas alíquotas de tributação, um para vendas à vista e outra para a prazo. Mas não somos um país bem administrado.
Portanto, não é sacanagem do varejo querer só vender a prazo, para se locupletar com juros do consumidor.
O Core Business do varejo é varejo, financiamento não é bem uma competência que eles possuem.
O problema é a tributação dos juros nominais neste país, a uma alíquota extorsiva de 45% ou mais, dependendo da inflação.
O dia em que formos bem administrados, os juros serão tributados a 15% e todas as lojas incentivarão seus clientes a comprarem à vista, reduzindo atrasos, inadimplência, juros, ICMS e uma nação endividada por erro nominalista.
9 respostas
Parabéns pelo artigo. Gostaria também de lembrar que outro motivo pelo qual não se concede desconto a vista e que o consumidor muitas vezes negocia o desconto para pagamento a vista e passa no debito ou no credito para uma vez. O que gera um custo adicional ao lojista, que segundo a lei e obrigado a manter a mesma condição para pagamentos em espécie. Vale lembrar que mesmo as transações de debito em conta, que são uma mera transferencia de dinheiro, cobram um percentual sobre a venda que varia de pode chegar a 4%.
Exatamente. E 4% é alto. E toda legislação ignora esses custos que são do tipo variáveis (e nunca fixos como “sócios” do negócio). E tem peso alto nos custos. Só discordo da frase dele “poucos consumidores pagam a vista” . Atualmente já que não é possivel mensurar porque essa opção nunca esta disponivel.Kanitz poderia elaborar mais o artigo comentando que no Brasil desde impostos, cartórios até o varejo todos os custos são variáveis numsociedade indesejada no negócio.
Absurdo uma transação de débito (simples transferência)custar 4% (confesso, não sabia disso). Penso que o comércio varejista, conhecedor de sua força, pode negociar melhor isso com seu fornecedor dessa tecnologia. Vamos partir do pressuposto que se o comércio se unir e disser “nào pago”, o produto desse fornecedor desaparece, e isso não prejudica a venda pois o consumidor continuará comprando, porém pagando em espécie. Também concordo que não pode ser de graça, mas 4%… Agora, uma dúvida… se o imposto sobre juros é 45% (realmente muito alto), o correto nào seria exatamente estimular a venda à vista? Nào entendi como imposto alto concorre em vantagem com a venda à vista.
Há equívocos materiais de toda ordem no texto do Prof. Kanitz. A afirmação, por exemplo, de que “Se derem um único desconto de 10% para um único consumidor, os lojistas seriam imediatamente autuados por sonegação de impostos” é um erro brutal; não encontra respaldo algum. Em que pese a tributação brasileira irracional, há dispositivos legais, doutrinários e pragmáticos que tratam dos “descontos à vista”; e no mesmo sentido da tributação dos juros (que não é de 45%!!!).
Professor, o sr. poderia nos esclarecer como chegou à conta de 45% de imposto sobre juros? Obrigado.
Marcelo SIlva,
Cuidado ao ser tão rápido no gatilho. Os juros reais são sim taxados em 45% ou mais, dependendo da inflação. Quem vive no mundo nominal não enxerga corretamente o que ocorre nas empresas.
Grandes lojas tem medo de dar descontos a vista, porque os 5 vezes sem juros se tornariam uma farsa.
Assim, todas as vendas futuras teriam que ser claramente segregadas em vendas ( ICM de 21% ) e juros ( IR de 45%)
Você daria um único desconto, ou proibiria vendas a vista?
Professor, fica mantida minha opinião profissional; há equívocos no texto, no contexto, e na réplica. Confundir o leitor com questões semânticas, para a réplica, não corrigiu em nada os equívocos do texto original.
Concordo com o comentário do Marcelo Silva, Contador Tributarista. E discordo totalmente dos argumentos do colunista Stephen Kanitz. Na verdade, as empresas no Brasil se acostumaram com margens altas. E principalmente no Varejo, as vendas a prazo são financiadas por financeiras. O lojista na venda a prazo repassa para a financeira. Quando diz que é 3x vezes sem juros o juro já está embutido no preço. Se vendesse a vista teria que dar desconto o que reduziria sua margem bruta. E o brasileiro também viciou comprar a prazo. Faz parte da nossa cultura. Ainda não nos tocamos que numa economia estável, 2, 3, 4 ou 6% de juro é muito. A pessoa apenas foca a analise no valor da prestação. Se pode ou não pagá-la. Isso me faz lembrar a época da crise econômica quando as revendas de automóveis preferiam dar (?!) viagens internacionais ao cliente do que dar o desconto?
Paulo Seibel,
Lojistas preferem vender a vista. Não o fazem porque no Brasil toda a poupança vai para o governo. O povo tem que comprar a crédito porque não tem outra alternativa. Financiar a compra não faz parte do core business do varejo.
A margem média de uma empresa comercial brasileira é de 4% sobre vendas, leia Melhores e Maiores, publicada há 40 anos. Isto é uma margem baixa.
E a questão Paulo, é porque as lojas não dão desconto para os poucos que os pedem, e razão é tributária.