De tempos em tempos alguém me faz essa pergunta, como se ambos esses cursos ensinassem mais ou menos a mesma coisa.
São ciências diametralmente opostas, e quem faz a pergunta obviamente nada pesquisou.
Há várias formas de responder a esta pergunta, relevância, praticidade, muita teoria, inutilidade da microeconomia, mas vou responder pela diferença do método de ensino.
Administração, pelo menos os cursos legítimos e não esses caça-níqueis que criamos no Brasil, é ensinado exclusivamente pelo método de estudo de caso.
Em Harvard tive 1.200 casos de problemas reais que ocorreram no passado em todo tipo de empresas, e tínhamos que, em 24 horas, achar uma solução.
Os casos explicavam mais ou menos a situação vigente, mas boa parte da informação eram números, tabelas, estatísticas, pesquisas e relatórios, como na vida real.
Já no primeiro dia você descobre o grande problema do ensino mundial.
O problema que afligia a empresa não era explicitado, você é que teria de descobri-lo, sozinho.
O caso não dizia o que tinha que ser analisado como “A empresa deve abaixar os seus preços?”, “ou deveria despedir o Diretor de RH?”.
Não existe 2+2= em Administração.
“Calcule a elasticidade do preço do açúcar, calcule a resistência do concreto”, são exercícios que não existem em Administração, muito menos na vida real.
Os problemas da vida estão sempre escondidos, difíceis de achar. Achar os verdadeiros problemas é o principal desafio da humanidade, e isso não ensinamos nas demais profissões.
Por isso os economistas são muito bem treinados para resolver problemas velhos e conhecidos.
Aprender a pensar como economista não é aprender a pensar os problemas modernos, multidisciplinares que são com n variáveis.
Precisamos urgentemente de generalistas e não somente de especialistas.
Por isso o Brasil está fadado a nunca achar uma solução, porque não sabe identificar seus verdadeiros problemas.
A segunda característica do ensino de administração com relação ao resto, é que administradores aprendem a trabalhar com 40, 50 variáveis por vez, e não as 2 ou 3 variáveis específicas da profissão.
“Oferta e demanda, desemprego e inflação.”
O mundo real é determinado por dezenas de variáveis que precisam ser levadas em conta e nunca são.
Economistas até confessam suas limitações alegando “ceteris paribus”, e que a ciência é por definição “reducionista”. Ledo engano.
Aprender a lidar com 50 variáveis por vez, não é nada fácil. Muitas vezes é a 51a. variável nem considerada que destrói o plano mais bem elaborado.
Por isso os economistas não aprendem a pensar por si próprios, mas sim a repetir as soluções encontradas por economistas antepassados.
Um passado onde as 50 variáveis eram totalmente diferentes, mas eles nem percebem porque trabalham com duas ou três.
As chances das 50 variáveis, ou mais, da época de Adam Smith e Marx se repetirem com os mesmos valores anos depois é zero.
Veja os métodos nas fotos acima. Qual replica melhor a realidade no dia a dia profissional?
3 respostas
Pena que não soube dessa diferença anos atrás. E eu achava que o economista era um administrador de países. Baita engano, eu sei, e fui descobrindo isso aos poucos.
“O mundo real é determinado por dezenas de variáveis que precisam ser levadas em conta e nunca são”. “Aprender a pensar como economista não é aprender a pensar os problemas modernos, multidisciplinares que são com n variáveis.” Você fez uma crítica ao reducionismo dos economistas, mas suas afirmações anteriores são, sobretudo, reducionistas e simplistas. Economistas lidam com dezenas de variáveis do mundo real, usando para isso estimativas de modelos econométricos e também usando pesquisa operacional, a qual, aliás, também é estudada nos cursos de administração. Também não entendi a referência à “inutilidade da economia”. Diversos problemas reais são resolvidos pela aplicação desta disciplina, como política de aluguéis, de regulação de monopólios e de cartéis, políticas de comércio exterior, dentre tantos exemplos que poderiam ser citados.
Prof, o senhor sabe um site onde possamos fazer/praticar “study cases” online ?