Um dos melhores livros que li nos últimos anos foi A Mente Seletiva, de Geoffrey Miller, um especialista em psicologia e genética comportamental.
Nunca escrevi algo polêmico aqui antes, porque assuntos polêmicos requerem um livro inteiro, não uma única página como esta.
Vou arriscar e abrir uma exceção. Ele começa apontando um segundo livro de Darwin que poucos leem, A Origem do Homem, em que ele fala de seleção sexual.
Mulheres selecionam homens, e vice-versa. A variação genômica não é só consequência do meio ambiente.
O melhor exemplo é a plumagem do pavão, que o torna mais lento na hora de fugir dos seus predadores, mas é do que as fêmeas gostam, e por isso ele deixa mais descendentes quanto maior e mais bela for sua plumagem.
Se você achava que Darwin e “evolução” significam “a sobrevivência do mais forte”, você foi ludibriado por alguém.
Não podemos esquecer a seleção sexual que age para “a sobrevivência dos mais atraentes ao sexo oposto”. Uma bela diferença.
Geoffrey Miller traz uma nova teoria sobre por que o cérebro humano é tão mais desenvolvido que o dos outros animais.
Ele sugere que foram as mulheres que nos fizeram mais inteligentes.
Até hoje, homens selecionam mulheres bonitas, mas mulheres selecionam homens inteligentes.
Elas namoram mauricinhos, mas casam-se com o que chamam de “homem-cabeça”.
Muitos homens já sabiam disso intuitivamente, basta responder a esta singela pergunta: “Para conquistar o amor de uma mulher você usaria prosa ou poesia?”.
Se respondeu que amor se conquista com poesia, você é do time do Miller.
Pela lógica, você deveria ter respondido “prosa”.
Prosa é mais amplo, você pode dizer absolutamente tudo.
Poesia é limitante, especialmente se for rimada em versos alexandrinos.
Tente rimar “seus lindos olhos azuis”.
Você só tem mais alguns segundos antes de ela sumir. Não conseguiu, eu sabia. Que pena, perdeu a fêmea.
Só que Miller está certo: mulheres ficam fascinadas com homens que sabem escolher o ritmo das palavras, que selecionam um pequeno grupo estranho de termos, não aqueles que realmente descrevem seus sentimentos.
Arnaldo Jabor está certo quando escreve que Amor é Prosa, Sexo é Poesia.
Mulheres preferem um homem feio com senso de humor ao homem lindo de morrer e burro.
Se a tese for comprovada, as consequências são múltiplas e devastadoras.
O cérebro seria mais um órgão sexual que muitos homens usam descaradamente, mentindo, por exemplo.
Isso explica o intelectual pavão, que utiliza o cérebro não na busca da verdade, mas para seduzir o sexo oposto. Quantos professores transam com suas alunas? Pesquisa a se realizar.
Explica por que tão poucos intelectuais conseguem convencer outros intelectuais nesses simpósios e debates públicos que acabam sendo conversas de surdos e que são feitos só para as pessoas aparecerem, e não para criar o necessário consenso para consertar alguma coisa.
Miller explica o motivo: homem não aceita ideia de outro homem, por uma questão de honra.
Mais uma vez, nesta semana usei os ensinamentos de Miller ao ler uma crítica de um aos nossos políticos e presidentes, por terem filhos fora do casamento.
Nossos políticos não são mulherengos, pelo menos não mais nem menos do que o resto da população.
O problema da democracia atual é que são os mulherengos que se tornam políticos por ter justamente os requisitos intelectuais necessários para seduzir o eleitor.
Vide Bill Clinton, Mitterrand e Kennedy.
Se Miller estiver certo, é uma pá de cal na democracia, não é esse o tipo de político que queremos, gastador por definição. Vide A Generosidade Masculina.
Se mulherengos escolhem propositadamente algumas profissões, em que possam usar seus privilegiados cérebros para conquistar mulheres, quais seriam elas?
E, aí, como vamos separar o joio do trigo?
Como teremos uma sociedade mais justa e igualitária?
Miller responde a algo que sempre me intrigou: por que alguém com 1 milhão de dólares arrisca tudo para dobrar o seu capital?
O que estaria por trás de toda essa ganância da direita e dessa ânsia de poder da esquerda?
A resposta dele para as duas perguntas: mulher.
Por outro lado, aponte-me alguém que continue rico após o quarto casamento ou que atraia mulher em fim de mandato.
O que chamamos de egoísmo é no fundo altruísmo, um desejo de atrair o sexo oposto e compartilhar a vida com ele.
Por isso, intelectual odeia rico, e vice-versa, e as mulheres adoram ambos.
O trailer é esse, minha gente.
Leiam o livro para tirar as próprias conclusões.
Stephen Kanitz artigo originalmente publicado na Veja em 2007
Fatos Subsequentes
No livro, “Carla e Nicolas, a verdadeira história”, Carla Bruni fala não só do “físico” de seu marido – Nicolas Sarkozy, mas também de seus “cinco ou seis cérebros”, Folha de São Paulo, 05/06/08.