Análise de Crédito, por algum motivo desconhecido, nunca tinha sido aplicado à avaliação de ONGs.
Quais são as instituições de caridade e ONGs mais bem administradas do Brasil?
Quais são as ONGs mais bem administradas do mundo?
Quais são as organizações de caridade que realmente merecem receber nossas doações?
Quais são as ONGs que vão fazer o melhor uso do nosso dinheiro?
Estas são as questões mais urgentes em filantropia, e é a primeira pergunta que qualquer filantropo potencial pergunta a si mesmo.
Infelizmente, não há praticamente uma resposta objetiva, técnica e bem sustentada.
As métricas geralmente utilizadas para avaliar organizações com fins lucrativos não são adequadas para as ONGs.
Para começar, o lucro não pode ser usado como uma medida de sucesso como ele é usado para companhias.
Lucro mede se as empresas produzem mercadorias de uma forma eficiente, mas empresas sem fins lucrativos não tem esta métrica de avaliação. Vendas e crescimento do mercado também são sem sentido, no sentido de que o crescimento depende de doações e não sobre a demanda por seus serviços, embora haja uma correlação direta entre o dois.
Muitos substitutos para o lucro como medida de eficiência foram criados, nenhum dos quais são verdadeiramente satisfatórios, como “orçamento base zero”, “controle do orçamento”, “benchmarking“, e “avaliação do projeto”, mas estes não ajudam o doador a decidir, somente ajudam a execução.
Ninguém mede “boa administração da ONG”. Na verdade o critério mais utilizado é “baixos custos administrativos”, que pode selecionar exatamente o oposto, economia na contratação de bons administradores.
Isso é contraproducente e leva filantropos a criarem fundações pessoais ou projetos “de estimação”, e não financiar aquelas que já existem e precisam de recursos.
Outro fato que descobrimos é que Fundações tendem a investir em instituições de caridade conhecidas e grandes, e não nas pequenas.
Compare isso com a maneira como Fundos de Investimentos investem seus fundos: raramente em ações de primeira linha, sempre em empresas pequenas e startups.
Pode ser uma coincidência que Warren Buffett optou por não criar uma outra fundação, a sua, mas dar sua fortuna a uma fundação de sucesso já existente, a do Bill Gates.
Doar para instituições de caridade bem administradas permite uma utilização muito melhor de nossos recursos limitados, então por que tão poucos filantropos seguem este caminho simples e comprovado?
A resposta é simples.
Ninguém sabia como identificar as instituições de caridade mais bem administradas.
Em 1995 desenvolvi um método para identificar as instituições de caridade mais bem administradas do Brasil, e criei um prêmio nacional para a melhor Entidade do ano, o “Prêmio Bem Eficiente”.
O “Prêmio Bem Eficiente” em Março de 2006 tinha 15.000 referências no Google, contra 350 do Prêmio Peter Drucker que seleciona a caridade mais inovadora dos Estados Unidos.
O “Prêmio Bem Eficiente” criou uma revolução no Brasil.
Ao tornar público as Entidades Mais Eficientes do Brasil, permitimos as seguintes consequências previsíveis:
1. As 50 instituições de caridade mais bem administradas do ano dobraram a sua renda de donativos nos três anos seguintes.
2. Em média receberam R$ 2.000.000,00 de donativos adicionais no triênio seguinte.
3. A maioria do dinheiro adicional veio de pessoas que nunca haviam doado antes.
4. As Instituições de caridade que não receberam o prêmio, mas apresentaram-nos os dados exigidos, tiveram um aumento de 30% em doações. Portanto, houve um efeito geral.
5. O prêmio trouxe para casa a mensagem de que as instituições de caridade teriam, como todo mundo, que se esforçar para se tornarem mais eficientes.
A mensagem era que as instituições de caridade também teriam que gerar reduções de custos e melhorias de metas de eficiência que a globalização tem exigido de cada empresa do mundo.
Fazer mais caridade com o financiamento que temos se mostrou um paradigma difícil de quebrar, para um setor acostumado a só fazer mais, desde que mais fundos estivessem disponíveis.
O “Prêmio Bem Eficiente” levou 20 anos para ser feito, e começou na Harvard Business School, quando eu aprendi os rudimentos de classificação de crédito com o Prof. Charlie Williams.
Análise de crédito é um método estatístico através de análise discriminante que permite que banqueiros e os credores discriminem entre bons devedores e devedores ruins.
Eu fui um dos pioneiros na introdução de classificação de crédito no Brasil em 1972, provavelmente antes de seu tempo, porque poucos bancos se interessaram. Acabei usando esta técnica para em 1974 criar o Prêmio de Melhor Empresa do Ano, a edição Melhores e Maiores, sucesso até hoje da Revista Exame.
O fato de que as melhores empresas do Brasil eram escolhidas por um conjunto de critérios objetivos, medidos corretamente por um método científico, deu enorme credibilidade à publicação e MELHORES e MAIORES se tornou um sucesso.
Eu tinha sido o editor da publicação por 25 anos, quando decidi usar a minha experiência para criar um prêmio similar para as instituições de caridade mais bem administradas.
Classificação de crédito, por algum motivo desconhecido, nunca tinha sido aplicado à avaliação de instituições de caridade, e pode-se tentar adivinhar o porquê.
Filantropos não “emprestam” para instituições de caridade. Eles não querem ver o dinheiro reembolsado como querem os bancos, o dinheiro é simplesmente doado, não é o que os bancos costumam fazer.
Mas isso não é realmente a verdadeira descrição de uma operação de crédito.
Os banqueiros também não querem ver os seus empréstimos reembolsados, porque é assim que eles ganham dinheiro, é este o seu negócio.
O que os bancos realmente se preocupam é se seus mutuários estarão fazendo bom uso dos empréstimos que tomaram, para pagar juros e se for necessário, pagar a dívida.
Depois de entender o verdadeiro espírito de empréstimos, percebe-se porque a classificação de crédito pode ser usada para identificar as instituições de caridade com os mesmos resultados positivos.
Filantropos se preocupam com o bom uso do seu dinheiro, mesmo que eles não esperem ganhar juros ou ver suas doações pagas de volta.
A partir desta perspectiva montamos uma pesquisa abrangente comparando dados de instituições de caridade que fracassaram e as que foram extremamente bem sucedidas. Para assim determinar quais variáveis, medidas de desempenho, e dados de instituições de caridade que na verdade identificassem as boas das más.
O Prêmio teve como patrocinadores a Accor e Firmin Antonio meu maior incentivador, TAM, Natura, Lojas Americanas.
Mais sobre isso, no próximo capítulo.
Stephen Kanitz
2 respostas
“A mensagem era que as instituições de caridade também teriam que gerar reduções de custos e melhorias de metas de eficiência que a globalização tem exigido de cada empresa do mundo.” — É importantíssimo que as ONGs e instituições filantrópicas absorvam os aspectos positivos das empresas com fins lucrativos e, ao mesmo tempo, criem um precedente, uma via de mão dupla, para que as empresas tradicionais compreendam melhor seu papel social (e façam um marketing social mais eficaz também, por que não?).
Ao mesmo tempo que informa, este artigo serve de biografia para o Professor Kanitz. De agora em diante, sempre que me perguntarem por que gostaria que o senhor fosse presidente, irei linkar este texto.
Adorei o conteúdo!!!
Para quem quiser conhecer um pouco melhor sobre novidades do universo audiovisual é só dar uma espiadinha nesse link: https://www.sagicapriprodutora.com.br/
Vocês sinceramente são muito bons!
O melhor conteúdo da internet, sempre estou acompanhando.
Um grande abraço