Meu pai era engenheiro responsável por uma fábrica de 500 funcionários em Sorocaba.
Só que ele não aguentava mais as pessoas da Administração Geral, de São Paulo, que vinham constantemente exigir redução de custos aqui, redução de custos ali.
“Filho, o segredo é trabalhar no escritório central. É lá que fica o poder, não é mais na fábrica como antigamente.”
Mesma lição que todos os gerentes de bancos também perceberam.
Foi por isto que desisti de ser Engenheiro e fui para Harvard Business School aprender Administração Geral e ficar na “Central”.
Anos depois fiz uma parceria de pesquisa com a Revista Exame, onde criei centenas de Benchmarks das empresas brasileiras, e eles publicavam em troca as Listas de Melhores e Maiores. Oito meses de intensos trabalhos, e a primeira edição foi um sucesso.
A Edição Melhores e Maiores sustentou por 8 anos o prejuízo inicial da Revista Exame, garantindo os salários dos então jornalistas e a Revista em si.
A primeira edição foi obviamente comemorada.
Todos foram convidados para a sala do Roberto Civita, onde notei duas caixas de Champagne.
Obviamente seriam dadas para mim e minha equipe, que tivemos a ideia da edição, e camelamos nada menos do que 8 meses a fio.
“Quero agora premiar a equipe, sem a qual, não teríamos este maravilhoso resultado” disse RC.
Eu instintivamente já ia dar um passo a frente, mas sendo novo fiquei quieto.
“Quero premiar Orlando Marques, e a sua fabulosa equipe de vendas, que batalharam por duas semanas …..”
Meu pai pelo jeito só percebeu metade da história.
De fato, nunca trabalhe na fábrica, que hoje se chama “Centro de Custo”, que são os departamentos que só geram despesas.
O segredo é trabalhar num Centro de Receitas, que são vistos como os salvadores da pátria em muitas empresas.
Falarei sobre isto mais tarde.
18 respostas
Nao vejo a hora da continuacao deste artigo …
Por pensamentos como estes, somos um país de merda….
Trabalhar que é bom ninguém quer, todo mundo só quer encostar o seu burro na sombra.
Já Passei por situação semelhante em uma empresa de Telecom. Não é legal, por isso, também desitir das ciências exatas e fiz Administração.
Em nosso país quem trabalha de verdade e não faz uma boa auto-propaganda fica para traz, talvez seja um sintoma mundial!!?
Creio que se os líderes estivessem realmente preparados para a função, teriam uma visão holística e não uma parcial dos fatos. Dessa forma saberiam realmente de onde vem cada parte do esforço para que um resultado fosse alcançado.
Poucos diretores tem o hábito de conhecer seu time e o que efetivamente fazem. O que eles querem conhecer eh o resultado financeiro final. Eh isso o que importa. O resto… Eh resto…
Êh, mas a vida é difícil mesmo! Quem disse que o mundo é justo?
Talvez por atitudes como essa a Revista e a empresa estivesse dando prejuízo. Quem se motiva assim?
Concordo plenamente, trabalhar no centro de despesas e buscar a falência.
O foco deve ser no centro de Receitas, se não têm receitas, o que adianta olhar para o centro de despesas.
Creio eu, que quando olho para o centro de despesas é sim para verificar se estou esbanjando o que tenho de receita.
O hábito que devemos ter e buscar aumentar sempre nossas receitas, seja como Pessoa Jurídica ou Física.
Parabéns pelo artigo.
Iússef
De todas formas, entre Centro de Produção, Centro de Custo ou Centro de Receitas, a melhor posição é a do RC, ou seja, no Centro de Direção. Esse é o segredo…
Tambem acho que esse artigo deva ser continuado e aprofundado. Há certamente importantes lições a serem aprendidadas. Essa questão do mérito do sucesso e da culpa no insucesso é algo de fato muito profundo. Sobrepõe de longe questões de cargo e salario, por exemplo.Sou diretor de uma agencia de propaganda. Quando uma conta é conquistada, todo mundo é o pai da criança. Sobretudo se ela for linda. Quando se perde uma concorrencia ou fica um certo tempo sem entrar uma conta, há um cara a ser crucificado pelos cantos das salas. Como já tenho certo tempo de carreira, vejo que político bom e técnico de seleção bons só existem no papel, então convivo bem com a coisa. Mas jovens executivos certamente caem muito de rendimento em função disto. Vale a abordagem caro professor. Abraço
E ainda ouvimos o famoso discurso que cada área, cada setor é uma engrenagem da empresa.
Felizes são aqueles que sabem vender não só o produto da emnpresa, mas vender sua importancia para a empresa.
Marketing pessoal é fundamental para alguns tipos de empresas.
A pergunta é: se todos forem para a central quem vai trabalhar para dar sentido à existência da central?
Quem sustenta a central?
A questão não é trabalhar na fábrica. O Kanitz e sua equipe fizeram acontecer por meses a fio e quem levou os méritos foi o comercial que gera “receita”. Quem gera receita são os que fazem o produto ou serviço. Seja na fábrica ou num departamento que produz na central.
Caro kanitz,
Não sei se vc vai entender o quero dizer mas ouvindo a sua história é consolador saber que isso não acontece apenas conosco, meros mortais.
AO mesmo tempo isso é realmente desanimador.
Fabiano
Só se valoriza fazer o gol. Pelé fez mais de mil gols e é um herói. Quem deu mais de quatro mil passes para ele (supondo que de cada 4 passes ele fez um gol) nem é citado.
Qualquer diretor sendo ele formado em administração ou outra coisa, e que tenha uma verdadeira vocação gerencial e administrativa, tem a visão correta da empresa como uma peça única, mesmo tendo vários departamentos.
Um administrando vendas, outro administrando receitas que quando ingressam no caixa, já se sabe que o que é líquido é o que resta após cumprir todas as despesas, reconhecendo-se a necessidade delas para se comemorar o “resto”.
Na fábrica robôs não pedem aumento, e não se entristecem com desfeitas!!!!!!
Aconselho uma formação técnica de “chão de fábrica” a qualquer administrador ou economista.
a formação em metalurgia sujando as mãos, é o que me dá maior equilíbrio como economista.
Embora tenha desistido da carreira de engenheiro, continua fazendo o papel de um.
Assim é que faz o engenheiro, pensa, elabora e os outros levam a fama.
Também espero a continuação do artigo.
Infelizmente, de nada adianta fazer um produto de excelente qualidade, atender as necessidades do mercado se não souber vende-lo, acredito que o erro do Roberto Civita foi não ter premiado toda a equipe, e não só vendas. O pessoal da produção não sabe a dificuldade que é vender, o extresse que se passa, ja fui gerente de vendas apesar de ser originário da administração, para onde voltei e ainda estou, eu compraro o vendedor a um artista. Mas TODOS devem ter seu devido reconhecimento.
É preciso repensar os valores do capitalismo atual. Só assim teremos um mercado e uma sociedade mais justa.
Mais uma vez tem razão…sem contar que existem empresas ( ou até mesmo departamentos dentro das empresas ) que vivem para produzir e outros, que sem tanta vocação para isso acabam sempre tendo o foco em redução ( de pessoas, recursos, etc ).