Coloquei tempos atrás esta pergunta no ar:
Imagine que você tem uma máquina do tempo e poderia ir para alguma data do passado, e mudar algum evento histórico do Brasil.
Qual seria este evento?
Infelizmente tivemos menos que 30 respostas, muitos criticaram a própria pergunta como masturbação histórica. Não é.
Nas nossas escolas de História, prevalece a ideia Marxista de determinismo histórico, que a história segue um percurso mais ou menos previsível, aquela prevista pelo economista Karl Marx, baseada nos inúmeros livros que ele estudou no Museu de Londres.
É tão dominante esta tese no Brasil, que é muito difícil aceitarmos outra tese vindo da teoria de complexidade, que simples eventos podem gerar mudanças espetaculares.
Muitos irão lembrar a frase, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas, tipo um tufão na Indonésia.
Que eventos poderiam ter sido diferentes e que mudariam o Brasil?
A maioria dos votos foi para o Descobrimento dos Portugueses.
Se tivéssemos sido descobertos pelos holandeses ou ingleses, acham que tudo seria diferente.
Talvez, mas como comenta X, as colônias inglesas da África estão piores que o Brasil.
As outras respostas foram: A guerra do Paraguai, a Decretação da República, mudança do governo para Brasília, o nascimento de Getúlio Vargas e a queda do Barão de Mauá que viu a industrialização da Inglaterra antes dos americanos.
Uma opinião interessante vem de Edgar Antonio Sbrogio.
Ele opina que foi a Lei da Informática que atrasou o Brasil uns 15 anos, que atrasou a formação de jovens especialistas em software e TI, achando que o futuro seria hardware.
Sbrogio sabe o que diz, segundo a Revista Época.
Revista Época. Da participação de Luciano Coutinho no governo Sarney, o que ficou para a posteridade foi a assinatura da Lei de Informática.
Como secretário executivo do recém-criado Ministério da Ciência e Tecnologia entre 1985 e 1988, Coutinho optou por impedir a entrada de novas tecnologias no país – no momento em que a indústria de computadores pessoais se tornava uma realidade internacional – para estimular o fortalecimento de uma indústria nacional. Não se conhece até hoje uma autocrítica à experiência.
A amigos, ele diz acreditar que estava certo.
Bom, eu endosso a autocrítica de Edgar Antonio Sbrogio.
Minha opção particular seria a mudança para Brasília, mas ainda acho que esta discussão deveria continuar.
Vamos fazer uma segunda rodada, por favor coloquem as suas opiniões.
22 respostas
Será que sem a lei de informática Software e TI teriam se desenvolvido mais no Brasil? Será que não teríamos nos tornados mais facilmente clientes das consultorias internacionais?
Na verdade, não exatamente o descobrimento pelos portugueses, mas a forma como se deu a colonização, com os patrícios vindo para cá com o claro objetivo de ganhar dinheiro, enriquecer e voltar pra Portugal, visão que não estimula a construção de instituições e não cria uma nova identidade como nação. Esta visão sobre o Brasil até há bem pouco tempo era ainda verdadeira. Pergunte aos donos de padaria que vc conhece se quando eles vieram ao Brasil tinham a intenção de ficar definitivamente por aqui. A maioria dirá que não mas acabou ficando por que constituiu família ou não viu boas oportunidades na terra de origem. Deste modo, mesmo quando acabam ficando por aqui, não tem a mentalidade de contribuir com o local e sim usufruir ao máximo dele. Este modo de ver o país foi passado para nós e nenhum exemplo melhor dele nos dias de hoje pode ser dado que não os nossos bons políticos.
Em tempo, a lei de informática foi um belo atraso para o país…
Acredito que mudaria o modelo industrial implantado no país, adotando o mesmo utilizado pelos países asiáticos. Não conheço bem os detalhes de como se deu as medidas citadas, mas penso que se prosseguissemos com o modelo iniciado por Getúlio, adicionando o projeto plataforma de exportação. A realidade brasileira em todas as áreas impulsionadas pela indústria seria diferente.
A proclamação da república, que tentou criar algo nos moldes dos EUA mas acabou saindo uma federação de cabeça pra baixo, em vez de uma nação apoiada em seus estados são estados apoiados no governo central, modelo esse que continuou por todas constituições e nos trouxe ao que temos hoje, um governo paternalista e muito centralizado. Refaria a república de uma forma mais liberal, tanto a nível dos estadoa quanto dos indivíduos.
Certamente poderiamos ser socialistas hoje se não houvesse a época militar. Lula não seria presidente, Collor também não. E nem existiria Sarney – isso sim mudaria para melhor o nosso país.
Se fossemos socialistas, Sarney e Lula certamente seriam dois dos nossos maiores bolcheviques. Isso pra não entrar na discussão sobre o socialismo em sí…
Há algum ponto na história do Brasil onde pode-se notar quando o sistema de educação se deteriorou? Infelizmente acho que não, isso foi acontecendo aos poucos, silenciosamente até chegar ao caos que está hoje. Apesar de que no estado de SP esse ponto possivelmente foi quando instituíram a aprovação automática nas escolas.
Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria uns 30 anos atrás e lutaria por um sistema de educação mais robusto, que realmente ensinasse os alunos a aprenderem. Se o Brasil tivesse investido mais em educação nas ultimas décadas provavelmente a situação hoje estaria bem melhor.
Isto é que nem acidente de avião , não existe uma única causa e sim uma sucessão de erros.Minha visão é simplista. após o descobrimento recebemos dois tipos de “entrantes”. os aventureiros (catadores) e os colonos (gestores). Os aventureiros viveram da exploração (solo, roubo,contrabando, sonhos delirantes de riquesa rapida)com uma visão muito longa sonhadora sem gestão. os colonos por sua vez, baixaram a cabeça e trabalharam gerenciando seu negócio localmente, sem ver um mundo com uma visão mais longa.
Ninguem gerenciou nada
Caro Kanitz,
Vou responder por saber que ao menos em parte você me dará crédito. Há alguns anos eu diria prontamente algo a mudar na história para que fôssemos hoje um país “super-desenvolvido” ou “super-poderoso”.
Bem, o mundo girou bastante, compreendi outras coisas, e tenho visto como a aceitação do Evangelho (protestantismo) tem explodido entre os brasileiros, uma das maiores taxas (se não a maior) de crescimento evangélico na atualidade (ao lado talvez da China e da Coréia do Sul).
Em outras épocas foram alguns países europeus, seguiu-se para Inglaterra, EUA, os quais se apostataram da fé ou o vêm fazendo (como nos EUA), mas em nossos dias somos nós mestiços tropicais, outrora condenados à corrupção e à miséria, é que estamos abraçando o Evangelho. É claro que isso não é uma competição, mas me alegra saber que é o meu time é que está fazendo isso, afinal minha terra é esta.
Uma mudança dessas trás conseqüências para um povo, de fato, você poderá evocar a tese de Max Weber, que o seja, de qualquer forma a riqueza de uma nação ou a grandeza de seus feitos não poderia ser mais importante do que a redenção dela, desse modo, para o Brasil já não importará se acaso ele tenha escrito uma história inglória pois maior é o desfecho dessa história à medida que os homens são atraídos pela cruz.
Todas as opiniões são válidas porque o nosso atraso econômico e socal é complexo e resulta de muitos erros. Mauá não ter sido apoiado pelo governo imperial já foi um enorme erro seguido de outro maior ainda: a proclamação da república que foi feita por uma elite escravagista que queria manter o seu status quo.
Sermos uma nação cuja a Igreja Católica foi a religião oficial foi outro erro porque nos impos a cultura de que a riqueza é “coisa do diabo”. A nação americana fortemente influenciada pelo calvinismo saiu de condições iguais ao Brasil e tornou-se uma potência e nós ainda continuamos sendo o país do futuro, sem um presente e que insiste em se esquecer do passado, ficando a mercê da repetição dos mesmos erros.
Caro Kanitz mesmo com a máquina do tempo para corrigir o nosso maior erro, com tudo o que sabemos hoje, ainda seria muito dificil acertar na “mosca”. Mais que consertar o passado eu tenho me preocupado e fazer o que é certo hoje no presente e por isso tenho sido um verdadeiro evangelizador da educação, sendo que eu próprio, aos 50 anos, voltei a sala de aula através da excelene (e má gerida( idéia do ENEM e PROUNI.
Todos os que estão no meu circulo de influência (e não são poucos) tem sido encorajados a estudarem e se qualificarem melhor nas suas atividades. Se não tenho uma máquina do tempo e nem sequer a certeza do que poderia mudar no passado para evitar o que temos hoje, pelo menos estou tentando deixar um legado melhor as gerações futuras. Abraço a todos os participantes deste blog que fica cada vez melhor.
O Brasil é fruto da contrareforma, aqui nos tornamos especialistas em mudar para manter tudo igual. Se pudesse mudar os rumos das coisas, permitiria que franceses e holandeses fixassem no Brasil, com seu protestantismo mais tolerante. Aqui várias possibilidades de organização foram propostas (Canudos, contestado, quilombos, 32, etc) e todas foram brutalmente reprimidas em favor de uma unidade portuguesa e católica). Teve seu preço, pagamos até hoje.
Nem tudo foi errado, um grande acerto foi nossa conquista do Oeste pois ainda que a custo de muito desmatamento e danos ambientais conseguimos sair da condição de país importador de alimentos para país exportador em algo como 30 a 40 anos. Muito disso se deveu a uma politica de intercâmbio técnico cientifico com os EUA, com envio maciço de pesquisadores agricolas para estudarem por lá, e além disso a estruturação de diversos orgãos de pesquisa agricola em nível federal, estadual e excelentes pesquisadores nas Universidades públicas. Um modelo que infelizmente ainda não aprendemos a replicar no setor de industrias e serviços. Quem sabe assim poderíamos ter superavits comerciais também nestes setores!
Eu sei de algo que poderia ter mudado completamente o rumo de nosso país. Quando da eleição de Collor, aventou-se a possibilidade de se trocar o vice-presidente da chapa de Collor pelo candidato à presidência de outra chapa, a fim de fortalecê-la de vez. Sabem quem era essa pessoa? Guilherme Afif Domingos! Como seria o Brasil hoje se ele viesse a ser presidente?
Caro kanitz,
Sou engenheiro de redes de comunicação e concordo plenamente com as afirmações que mostram os malefícios que a lei de informática trouxe à economia nacional. Lembro, porém, que esta lei não foi uma invenção do governo Sarney, ela foi inspirada em outras mais de igual teor e igual capacidade de prejudicar as o Brasil. Creio que os dois maiores exemplos foram a lei de remessa de lucros, que causou a fuga de capitais extrangeiros do Brasil no início do século XX e o pacto colonial que impediu que fossem criadas estruturas para uma futura e inevitável industrialização.
Se conseguíssemos voltar no tempo e antecipar a industrialização do Brasil muitos dos fatos citados nos outros comentários seriam resolvidos (O nascimento do VARGAS, a guerra do Paraguai e queda do Barão de Mauá). O que nos prejudicou não foi a colonização portuguesa, mas o pacto colonial.
O Brasil foi a colonia mais rica do mundo, todo mundo viha prá cá se enriquecer e depois viver bem na Europa.O maior erro foi a proibição da educação na colonia, enquanto nos USA todo mundo aprendia a ler, porque protestante reza lendo a Biblia e aqui as orações são decorebas.O resto é só consequencia, faltou povo.
Além do mais, antes mesmo da Lei de Informática, se algum Historiador colocar uma lupa no comentário do Edgar Sbrogio, irá verificar que (com precisão de datas e eventos) a decisão do Governo (Militar) Brasileiro em criar uma reserva de mercado para produtos de informática (Curiosamente apoiado pela Industria Nacional, Sindicatos de Trabalhadores e Oposição), impediu o Brasil de acolher uma industria nascente que foi parar na Asia onde haviam condições favoráveis de mão de obra (não qualificada, mas barata) e incentivos fiscais de muitas naturezas.
Perdemos o bonde da história: Taiwan/HongKong/Cingapura poderia ser aqui!
Eu estava pensando sobre este assunto nestes últimos dias e tive uma idéia em meio a uma sondagem do governo à indústria de informática sobre incentivos fiscais para os “pads” e, creio somente com a redução de impostos não seria possível alcançarmos a Coréia do Sul em números de equipamentos eletrônicos na mão do cidadão brasileiro. Devíamos zerar os impostos para todos os tipos de equipamentos eletrônicos (pad, celular e futuras tecnologias, desde que integradas à internet. Isto para todos os níveis da cadeia industrial, inclusive para venda direta ao consumidor e, principalmente na instalação de novos empreendimentos. É voltado para tecnologia? Então zero de imposto por uns cem anos. As indústrias teriam apenas que contratar, treinar e ter centros de desenvolvimento avançados em “todas” nas universidades federais do Brasil. Todas teriam uma ou mais empresas mantenedoras. Seria a verdadeira universalização da informática neste nosso pais. O mal exemplo dos militares do passado poderia ter sido apagado durante o governo Color quando o mercado foi ligeiramente aberto, porém de forma acanhada. Eu mudaria este momento.
Sei lá, deixaria o Nordeste na mão dos Holandeses. (assim não teria Sarney e outros coroneis atrapalhando tudo).
Financiado a passagem para vir ao Brasil de pessoal altamente qualificado durante o período da primeira e segunda guerra, incluindo o pós guerra.
Feito guerra na Independencia, Na queda da Monarquia, na queda da Ditadura.. (assim o povo ligaria mais para politica).
Não tenho a menor dúvida:
Mudaria o sucateamento da educação básica.
Não sei se podemos definir como um fato pontual, mas, com certeza, é o mais importante.
Wasabi comentou e concordo que poderíamos ter colhido mais frutos no período das guerras, trazendo mão de obra qualificada. Pessoas fugindo das áreas de ocupação alemã durante a guerra, pessoas fugindo das áreas de ocupação soviética e pessoas fugindo das ruínas da guerra. Todos poderiam ter sua qualidade bem aproveitada aqui, ao menos temporariamente como professores.
No campo político, acredito que um fato que poderia mudar nossa atualidade (embora sem alterar muito a essência do país) seria o cumprimento por Castelo Branco de devolver o poder aos civis ao final de seu “mandato”.
Para mudar radicalmente a realidade: uma amizade verdadeira, no lugar da inimizade, entre Dom Pedro II e o Barão de Mauá.
Há montes de acontecimentos históricos que são ruins em si mesmos ou tiveram consequências negativas na nossa História, mas é difícil dizer que, tudo considerado, não estaríamos mais ou menos no mesmo lugar se eles não tivessem acontecido. Além disso, mesmo sem subscreve uma posição determinista, acho que os acontecimentos históricos não ficam suspensos no ar, estão presos, ligados uns aos outros. Não se pode mudar uma coisa só. O que teria sido necessário para que não tivesse acontecido o Golpe Militar? Que esquerdistas e direitistas não ambicionassem o poder, que as potências da Guerra Fria não estivessem lutando através de seus clientes do Terceiro Mundo, que o Brasil não estivesse sofrendo a desagregação política e financeira do modelo populista? Na Rússia, os bolcheviques tomaram o poder por causa do deterioramento da situação militar da Rússia em uma guerra sem sentido, da desorganização dos outros grupos políticos, da situação do Governo Provisório, que atrasara a convocação da Constituinte, uma exigência popular, e nem se sentia forte o bastante para enfrentar os sovietes nem se decidia a se submeter de vez a suas exigências. Os ingredientes do desastre já estavam lá.
Fico pensando se o acontecimento a ser evitado não é um pequeno, pouco “histórico”, mas de graves repercussões. Algo sobre o qual a maior parte das pessoas não teria lido em jornais ou livros de História. A lei eliminando os cursos de Administração, que o senhor critica, é justamente algo assim.
Vou especular longe, acho que a mudança mais significativa na história do Brasil aconteceria se a expedição de 1536 que levava a mais organizada e armada força para iniciar a capitania do Maranhão não tivesse naufragado. Caso ela chegasse a seu destino não seria tolo imaginar que toda a América do Sul hoje falasse Português.