Uma das matérias que deveria ser obrigatória no ensino médio é a Contabilidade.
Contabilidade, além de permitir todos a organizar melhor a sua vida financeira e não ser enganado por bancos, cônjuges, parceiros e sócios, permite outra coisa importante.
Ela ensina você a olhar o mundo sempre de dois importantes ângulos: o do débito e o do crédito. Nenhuma outra ciência o treina dessa forma, todas as outras ensinam uma visão unidimensional do mundo.
Contabilidade é bidimensional, um avanço.
Débito e Crédito. De onde vem, para onde vai. Quem recebe, quem paga. Investiu, como?
Gastou, no quê?
Permite de cara, analisar uma série de problemas da vida de uma forma mais completa, mais real.
Vou dar um exemplo de como nós contadores enxergamos o mundo sob esta forma de ver e observar.
Quando alguém me diz que ele/a tem “Direitos Adquiridos”, eu sempre pergunto “Contra Quem?”.
Isto você só aprende depois de estudar Contabilidade. Quando alguém diz que vai se aposentar, eu sempre pergunto “Com que dinheiro?”.
“Eu vou investir neste IPO”, e eu imediatamente pergunto “E como você vai desinvestir?”.
“Eu vou receber décimo terceiro e férias.” De quem?
“O governo paga elevados juros.” Com que receitas?
Eu diria que 90% dos erros que eu descubro com o pensamento dos economistas vem do fato de que eles não pensam bidimensionalmente, apesar de tratarem com os mesmos números que nós administradores e contadores.
Vejamos a questão dos juros. Por que os juros são elevados?
Porque os investimentos feitos pelos nossos economistas no passado, não estão gerando receitas.
Se os investimentos com dívida pública tivessem sido bem aplicados, gerariam receitas tais que seria fácil pagar os juros e lentamente saldar a dívida inicial.
Pergunte a um economista do nosso Tesouro “Onde vocês investiram estes 1,5 trilhões desta dívida interna (e a externa)?”.
Jornalistas, peçam o Demonstrativo de Investimento, que o Débito, o outro lado, do Demonstrativo de Dívidas, que é o crédito, aquilo que o governo deve.
Como torraram o dinheiro, economistas passaram a contrair mais dívidas, para pagar os juros das dívidas do passado. Nos Estados Unidos, Maddoff foi preso por fazer isto.
Mas no Brasil, a velha geração de jornalistas que estudou Jornalismo e não Contabilidade, sequer percebe a relação direta entre Maddoff e todos os nossos Ministros de Economia.
Isto mudou com Henrique Meirelles, a primeira vez que nossa dívida interna começou a diminuir.
Quem acha que recebe décimo terceiro e férias do patrão, não entende nada de Contabilidade. Décimo terceiro salário e férias, o crédito, são pagos com os produtos feitos pelo próprio trabalhador, o débito.
Assim sendo, décimo terceiro e férias são um engodo. É simplesmente uma postergação de dinheiro que os trabalhadores deveriam ter recebido em média seis meses antes, nos meses que produziram.
Permitir que os empresários retenham estes valores, para serem pagos somente 13 meses depois, está longe de ser uma conquista social, idem com férias. Férias significam ficar um mês sem trabalhar, não receber um salário 12 meses depois de ter trabalhado.
Novamente, para quem estudou Contabilidade, isto vem naturalmente, um reflexo, mas que permite você perceber uma série de engodos que intelectuais, ditos de esquerda, permitiram aos empresários tirar vantagens do proletariado.
Não há 13 meses no ano nem existe produção no mês de férias. O dinheiro tem que vir de algum lugar, algo que quem nunca estudou Contabilidade não aprende a enxergar.
Para saber porque o Brasil está atrasado coloque Debit and Credit no Google, e depois Débito e Crédito.
Peça para listar as imagens de ambos, não os sítios, e você perceberá que eles entendem mais de Contabilidade do que nós, faz parte do dia a dia deles, e ainda não faz parte do nosso.
Aprenda Contabilidade o mais rápido possível. Você deixará de ser enganado, como a maioria dos brasileiros o é, injustamente.
3 respostas
Olá, Kanitz. Estudei contabilidade apenas por um ano , mas entendo perfeitamente o que o senhor falou. Acabei fazendo Direito e, diariamente, vejo pessoas dizendo que “saúde”, “educação”, “água”… é direito de todos.
Entretanto, não entendem que pagarão mais impostos ao Estado para que ele, de forma ineficiente, forneça bens e serviços. Ocorre que, no caso específico do 13º salário, creio que na época foi uma grande “sacada” populista. Algo como Robin Hood institucional: o governo obriga os empresários (ricos) a pagar uma gratificação natalina aos (pobres) empregados. Dessa forma o governo ganha apoio popular. No início teve um choque, principalmente para os empresários que pagavam salários justos, mas creio que hoje, depois de tantos planos econômicos, tal valor já está embutido nos cálculos do empresário.
Tirando as horas extras e talvez algum outro, acho que todos os outros “direitos trabalhistas” (Descanso semanal remunerado, férias, FGTS…) são meros salários diferidos. Seria o governo querendo impor como o empregado usa seu dinheiro. Qualquer governo que tentasse deixar as o Direito do Trabalho mais simples e claro seria taxado de “liberal” e contra os direitos trabalhistas. Uma revolução poderia ser feita se a imprensa começasse a criar manchetes sensacionalistas (a especialidade delas) nessa linha (“Fim do 13º Salário”).
E assim vivemos. Um teatro onde um grupo manipula as massas dizendo que elas tem “direito” a parcelas salariais criadas na farta imaginação sindical, um governo que aprova tais medidas com o foco nas eleições e continuam “demonizando” o empresário. Justo ele, que organiza tudo para que Governo e Sociedade continuem em pé.
Uma solução seria incorporar tudo isso no salário mensal. Pode ser que, temporariamente, vendo que não houve prejuízo salarial, os empregados concordem. Contudo, em pouco tempo, surgirão vozes pleiteando a volta de tais “apêndices”.
A solução simples é não mexer em nada. A solução mais complicada é educar a população a raciocinar que o empresário é um cidadão. E que ele deve ter segurança jurídica para planejar seu negócio, para o bem de todos. O que ele gasta com advogados numa audiência, poderia ser dado aos trabalhadores. Teoricamente, o empresário poderia estipular que gasta 10% do seu lucro com advogados e caso não houvesse esse gasto, tal dinheiro seria distribuído com os trabalhadores. Creio que a solução do Rei Salomão, seria algo assim.
Pedido 1 – Qual a sua opinião sobre o o adicional que fará os motoboys receber mais 30%?
Pedido 2 – Estou tentando achar um texto seu na Coluna Ponto de Vista da Veja em que há uma comparação com colegas da faculdade que participavam de grêmios estudantis (e hoje são profissionais pouco remunerados) e aqueles que assistiam aulas e hoje podem ajudar a sociedade com seu conhecimento e recursos financeiros.
Pedido 3 – Não coloca o estudo da Contabilidade como o mais importante. Isso cria um ciúme desnecessário com os outros ramos. Creio que não é necessário estudar Contabilidade em todos os seus aspectos, e sim, entender o conceito básico e multidisciplinar que sempre há alguém pagando por aquilo que se chama (universidade) grátis.
Nunca gostei de cálculos, números, etc, mas esses artigos estão me fazendo enxergar com outros olhos. Muito bom !!
Professor Kanitz, entendo q a Contabilidade é um dos assuntos mais antigos do mundo, desde o tempo em que o homem aprendeu a se relacionar comercialmente.
vive-se a Contabilidade sem perceber q ela atua todos os dias e em todas as áreas e lógicamente se a relaçao de troca nao for equilibrada alguem ha d sair perdendo.
na pratica a Contabilidade serve de “alicerce” para as iniciativas de economistas e financistas e principalmente os empresarios nao a largam pois perseguem avidamente a paga pelo seu capital empregado num negocio.
se a Contabilidade é importante dirá entao os Contadores de Custos ….