Uma das tragédias do ensino brasileiro é que ele é totalmente voltado para a análise de “soluções”.
E não voltado para a análise criteriosa do problema.
O problema é sempre dado, 2+2= ?
A solução também.
Basta ler a solução de Adam Smith, Maynard Keynes, Von Mises ou Karl Marx.
Acontece que as soluções deles não nos servem mais, as variáveis hoje são outras, e em muito maior número.
Essa lição foi incutida quase diariamente a nós alunos na Business School de Harvard.
“Qual é o problema” era a primeira questão a descobrir num estudo de caso.
E o primeiro problema que você encontrou é realmente o verdadeiro problema?
Ou só um sintoma, uma greve por exemplo.
Ou a consequência de um outro problema mais profundo?
A regra de bolso que nos ensinavam era “use 80% do seu tempo descobrindo o verdadeiro problema, 20% para achar a solução”.
Achada a solução, jogue fora e comece de novo.
Tendo sido formado pela USP, isso soava heresia.
Acostumados que éramos a gastar 5% entendendo o problema previamente anunciado pelo professor, e devotando 95% para a sua solução.
Dezenas das vezes na minha vida a solução era óbvia uma vez encontrado o verdadeiro problema, que Adam Smith, que Marx, que nada!
A Reforma da Previdência e a futura Reforma Tributária seguem nessa mesma linha da USP.
Dois professores de economia já apresentaram suas “soluções” num anteprojeto, e todos estão discutindo-as e endeusando esses amadores sem analisar os problemas.
Resumindo o que aprendi em Harvard, vamos lá.
1. Devote mais do que 50% do seu tempo determinando o real problema por trás daquilo que você acha ser o seu “problema”.
2. Na maioria das vezes, a solução aparece de imediato, de fácil implantação. Difícil é implantar uma solução errada, porque ela nada resolve.
3. Faça uma lista de todas as variáveis que fazem parte do problema. Como idade mínima, expectativa de vida ao se aposentar, taxa de juros reais nos próximos 30 anos, como se manter empregado após os 55 anos de idade, no caso da Reforma da Previdência.
4. Faça uma lista de todos os personagens do problema, como os aposentados, os próximos a se aposentarem, os jovens que não estão nem aí com esse problema, os fiscais do INSS, os Ministros da Economia que se apropriam do que não deviam, os Deputados que votarão contra os seus interesses, etc.
Temo que essa Reforma Tributária será um fiasco e um enorme retrocesso se for aprovada, porque nada disso está sendo feito.
O Rodrigo Maia sequer convocou uma CPI da Reforma para ouvir os “personagens” desse problema, contadores, fiscais, lojistas, tributaristas, societários, entregadores, empresas de lucro presumido.
São mais de 120 personagens, todos serão contra algum item, por isso jamais se deveria fazer uma “Reforma Abrangente” como propõe Brasil 200, Appy e Cintra.
Eu participei da Crise da Dívida Externa Brasileira e vi mais de 70 economistas proporem soluções sem entenderem o problema.
A maioria nem sabia que o juro real da Dívida era negativo na época, e que isso nos beneficiava.
Era o juro nominal, que não é juro, que achavam ser o verdadeiro problema.
Pior, a maioria achava que os bancos eram o personagem principal, que chamavam de credores.
Esqueceram que os verdadeiros credores eram os depositantes, os Fundos de Pensão e os bancos eram meros intermediários.
Fui eu que montei uma equipe para conversar com Fundos de Pensão Americanos, oferecendo o que se tornou o TIPS, um juro real.
Tudo foi água abaixo porque 120 economistas de Esquerda brasileiros assinaram a proposta de uma Moratória da Dívida.
Que foi aceita pelo Ministro João Sayad, economista da USP, e nos causou duas décadas perdidas.
Estudem ARN antes de opinarem sobre a Reforma Tributária.
Listem as inúmeras variáveis que ninguém está pensando, como aumentar os prazos de pagamento dos impostos, quantos dias as empresas dão crédito, quanto de capital de giro nossos impostos consomem.
6 respostas
É fácil criticar quando não se sabe a real razão por traz de um projeto dessa magnitude. A ideia principal da reforma da previdência (de Paulo Guedes e cia.) é torná-la 100% privada (cada qual cuida de sua poupança), excetuando-se os casos dos miseráveis e inaptos, os quais serão sustentados pelo erário.
👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
O problema professor Kanitz é que aquele pessoal, no congresso nacional principalmente, comem pelas mãos dos outros.
Os deputados fazem discursos calorosos sobre reforma tributária, coisa que não entende, mas fala baseado nos levantamentos e relatórios elaborados por seus assessores;
Ministros falam enfaticamente, mas com base em relatórios do qual ele não participou e foi elaborado pelas assessores e secretárias;
E quando chegamos no senado então a coisa piora e digo isso por experiência própria.
Em 2012 li um artigo da senadora Gleisi Hoffmann, que era membro da Comissão de Assuntos Econômicos, criticando duramente o instituto da Substituição Tributária do ICMS, mas na verdade ela queria atingir o governador Beto Richa e em algum ponto ela tinha razão. Os Estados manipulavam a lista de mercadorias sujeitas a ST ao seu bel prazer, mas a senadora criticava a modalidade em si.
Enviei um e-mail para seu gabinete discordando da forma que ela criticava, afinal a ST é uma boa medida para combater a sonegação do tributo, mas seria necessário que o CONFAZ elaborasse uma relação de produtos que deveriam ter sua cobrança por ST, não deixando margem para os Estados incluírem ou excluírem produtos dessa lista.
Ela achou a ideia interessante e me convidou para falar sobe o tema na “poderosa” Comissão de Assuntos Econômicos do Senado
Me preparei para o embate, mas dos 18 senadores presente, apenas 2 tinham noção sobre o tema, porque eram ex-governadores: Álvaro Dias, do Paraná e Blairo Maggi de Mato Grosso e fizeram perguntas bem colocadas e outros 16 não tinham qualquer experiência e nenhuma noção sobre temas tributários. Fizeram perguntas desconexas e alguns deixaram claro que nem sabiam o significativa Substituição Tributária de ICMS.
Após a sessão, fui conversar com a equipe de assessores, do quadro permanente do senado e daí encontrei gente qualificada e bem preparada.
Disseram ter gostado da minha apresentação e perguntei como uma equipe daquele nível abastecia os senadores e soube que eles preparam relatórios excelentes, inclusive sobre o tema proposto, mas os senhores senadores só se interessam se o assunto tiver impacto político-eleitoreiro e neste caso o senador acata, floreia o assunto e faz discursos empolgantes, mas que na verdade foi baseado em relatório da equipe de assessores.
Fica uma sugestão: não converse com os senadores, mas com a equipe de assessores do quadro de carreira e vai poder dialogar de igual para igual e suas sugestão serão levadas a sério e vai ficar dependendo de como eles vão conseguir convencer o senador a abraçar a ideia.
JOSE RIBEIRO DA SILVA
Administrador
Cuiabá-MT
O Alexandre perdeu uma grande oportunidade de ficar calado.
Falou asneiras, assim como todo bom esquerdista
Desculpem a ignorância mas do que se trata a ARN citada pelo professor?
ARN = Administração Responsável das Nações. Pelo que entendi….