Só Existem Duas Classes?

É difícil entender por que um número de professores universitários ainda acredita que o mundo é composto de somente duas classes definidas pelas suas relações de trabalho.

Surpreende a todos que estudam história que Marx desconhecia que a Índia já era composta de 3.000 classes, que também possuíam interesses próprios.

São as chamadas castas, as castas profissionais definidas exatamente pelas suas relações de trabalho, pedreiros, tecelões etc.

Hoje existem muito mais do que somente duas classes, todas com características próprias e interesses comuns.

No Capitalismo, a terceira classe que logo surgiu foi a classe de administradores, que se infiltrava como um fulcro entre capitalistas e trabalhadores.

Os professores da Harvard Business School já em 1908 identificaram essa nova classe.

E decidiram tomar o poder dos capitalistas treinando administradores socialmente responsáveis, em vez de pregar a revolução sangrenta de 1917.

E conseguiram muito progresso. Afastaram os herdeiros das famílias para a filantropia e deixaram a gestão com administradores, que criaram a palavra stakeholders, não preciso dizer mais.

Mesmo formados em outras faculdades, os administradores possuem interesses próprios, um dos quais foi transformar os capitalistas em meros acionistas, com muito menos poder do que imaginara Marx.

A quarta classe que surgiu foram os engenheiros da indústria mecânica que passaram a vender bens de produção para quem quisesse comprar, gerando enorme concorrência aos capitalistas já instalados.

Milhares de trabalhadores finalmente puderam deter seus bens de produção, se juntando e comprando os seus bens de produção financiados ou não.

Foi a indústria mecânica que permitiu a criação das 235 milhões de pequenas empresas do capitalismo de hoje.

Um Estado planificado jamais conseguiria algo perto disso.

A quinta classe que surge é justamente a classe de pequenos e médios empresários, que também tem interesses próprios e trava uma luta de classes entre si, com seus fornecedores, com os seus trabalhadores, com as grandes empresas capitalistas.

A sexta classe que logo surgiu foi a dos advogados, que chegaram a ser o poder dominante no início do século, controlaram o Judiciário, muitos congressistas são advogados, e criaram a poderosa OAB.

Se você realmente acha que os empresários exploram seus advogados, todos dirão exatamente o oposto.

Tem a classe dos funcionários públicos, que não há como extrair mais valia deles, novamente é o contrário, eles que tiram 40% de mais valia de nós.

Tem a classe dos políticos profissionais.

Tem a classe dos aposentados, cada vez maior, que faz a mesma coisa.

Estou assistindo entrevistas de novos representantes de esquerda, e fico imensamente decepcionado que a maioria não percebe o mundo que os cerca.

Achar que ainda existem somente duas classes no século XXI é um reducionismo científico fora de propósito.

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Comentários

21 respostas

  1. Precisa de um artigo sobre o custo do judiciário e o excesso de advogados ( maior índice do mundo /habitante) . E não esquecer as “jabuticabas” Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho e 4 instâncias!

  2. Olá, Stephen. Tudo bem? Na linguagem, muitas vezes, usamos simplificações para fins didáticos. Em Economia, usam o termo “ceteris paribus” (tudo o mais mantido constante), por exemplo, pois a vida é bem complexa e há vários fatores que influenciam.

    É comum, em muitas coisas dividirmos de forma binária:
    a) sim ou não;
    b) certo ou errado;
    c) inteligente ou burro
    d) capitalismo ou comunismo.

    E, claro, muitas vezes é uma simplificação grosseira. Assim, é possível falar em “duas classes”: a) as pessoas que tem (máquinas, terra, dinheiro… ) e b) as que não tem.

  3. Para falar sobre qualquer assunto, é importante conceituar, partir de algo em comum. Muitas vezes, usamos uma pessoa escreve “manga” e podemos entender: uma fruta, uma parte da roupa, o desenho oriental (mangá) ou o verbo escarmecer (ele manga de mim toda vez que eu riu).

    Acho que o equívoco está no conceito do que é “classe social”.

    Se para o Stephen, “classe social” é o mesmo que “profissão”, logo teremos várias “classes sociais”.

    Pesquisei aqui e encontrei “Classe social é um conceito sociológico que remete à divisão de grupos que compartilham dos mesmos interesses e apresentam situação socioeconômica semelhantes.”

    Assim, é comum que pessoas ricas pensem de determinada forma e pessoas pobres pensem de outra forma.

  4. Olá, Kanitz. Parafraseando o título: “será que só existem dois sistemas econômicos”?

    Acho que o Capitalismo é, praticamente, uma unanimidade. Partidos que defendem outro sistema conseguem apenas uns 5% dos votos no Brasil.

    Existem equívocos no capitalismo, correto? O que pode ser melhorado?

    Da mesma forma que é um erro achar que existem “duas classes” também é errado pensar em apenas “duas possibilidades” (Capitalismo ou comunismo).

    O grande desafio é melhorar o Capitalismo. Qual sua sugestão para termos mais capitalismo entre os bancos?

    1. O problema maior é a falta de capitalismo, não seu suposto excesso (se é que isso existe). Quando se fala em melhorar o capitalismo, geralmente tem-se em mente um problema que não foi em realidade gerado pelo capitalismo, mas pela aplicação de ferramentas que contrariam seus princípios.

  5. ” … reducionismo científico fora de propósito … ”
    Adorei essa frase professor, mas acredito que conheço um sinônimo, chama-se ignorância!

  6. Discordo.
    No fundo existe a real dicotomia entre
    a pessoa com mindset fixo X a de crescimento.
    E isso difere de papeis sociais “ tematica/ plano de fundo”.
    No mindset fixo o esforco nao é valorizado, ha estigmatizacoes, ego inflado e necessidade de se sentir superior “ sou especial”. É aquele que empaca nos seus potenciais por nao querer arriscar e ser mal visto.
    No mindset de crescimento, alem do contrario, a busca eterna e a sensacao de que sempre se pode melhorar e desafiar é mandatória, valorizando esforco e conquistas.. ego nao deseja o se sentir especial e melhor que os demais.
    Parece um reducionismo mas isso tem proporcoes de grande magnitude (escravo x liberto)
    – destrutores x construtores
    – iniciativos gogó x acabativos
    – ladroes/ tiktokers modinha x microempresarios
    – geradores de problemas x resolvedores
    – refens de cartao de cred x investidores
    E assim gira o mundo.
    Muito lindo Eduardo galeano retratando brilhantemente a exploracao dos países desenvolvidos frente aos sub, mas a verdade é que aqui de fato a mentalidade é escrava e 95% da populacao tem mindset enterrado em concreto no manto terrestre.

  7. Poderia por gentileza indicar ao menos uma fonte que valide a informação de que professores afirmem que só há duas classes?

    1. Está na foto e em vários pdfs. As duas classes são os “donos dos meios de produção” e os assalariados.

      Porém, vejo q Kanitz mistura conceitos. Em toda profissão tem “tubarões” e “sardinhas”.

  8. Se depender do novo comunismo, temos: rico x pobre, patrão x empregado, negro x branco, homem x mulher, homem x homo, mulher x trans, gênero x diversidade, gordo x magro, bonito x feio …. Na realidade o que existe é a diversidade, buscando ocupar seu espaço e trabalhando para ser feliz.

  9. Os que têm esse conceito de duas classes jamais se rendem a qualquer evidência. Certa vez, fui com um amigo marxista a uma visita à diretores da Volkswagen. Depois, passamos por um passarela sob a Anchieta, onde algumas pessoas com garrafas vendiam cafezinho e pinga.
    Quando meu amigo veio novamente com o papo das classes, perguntei: quer dizer que aqueles caras vendendo pinga e café perto da empresa são burgueses exploradores do Wolfgang Sauer, presidente assalariado da VW? Ficou furioso e me chamou de ignorante.
    Acredito que a esquerda vá manter esse conceito por, no mínimo, os próximos duzentos anos.
    Abraço, professor!

    1. Com perguntas elementares se derruba a tese marxista, sem muito esforço. Por isso a revolta desses fanáticos, pois ficam sem argumento. Chamam de ignorante quem não comunga da seita.

  10. Acho que somente no Brasil a esquerda ainda fala no Karl Marx e no Marxismo ….A ignorancia dos “Progressistas” brasileiros e’ de dimensoes galaticas. Leiam os Programas de Governo do PT, PSol, PCdoB, PC etc e voces verao o atrazo dessas criaturas. Pobres diabos mas perigosos.

    1. Mesmo que disfarce, o progressismo bebe naquela mesma fonte antiga e desmoralizada que você referiu, e que só sobrevive por conta da militância gramscista, esta sim muito atuante em todo o mundo.

  11. Lembrem_se. Num país democrático, qualquer um pode mudar de classe, quando se dispuser a realizar isso. Na maioria das vezes exige esforço, mas com determinação, paciência, etc se consegue. Minha família é exemplo disso. O problema não é falta de oportunidade e sim falta de vontade ( para não ser muito grosseiro).

    1. Acho que todos temos exemplos nas próprias famílias. Há aqueles que foram atrás de seus objetivos e prosperaram e aqueles que ficaram inertes – reclamando da vida e invejando a posição dos que prosperaram.

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