Os Bancos Centrais, historicamente concebidos como instrumentos vitais para a estabilidade econômica, são hoje percebidos por alguns como parte integrante dos problemas econômicos contemporâneos.
Originalmente, essas instituições foram estabelecidas com o objetivo de mitigar crises financeiras, fornecendo liquidez e suporte financeiro a bancos que enfrentavam dificuldades temporárias de liquidez.
Historicamente, os depósitos bancários eram frequentemente à vista, enquanto os empréstimos possuíam prazos mais longos (variando entre 60 a 600 dias), resultando em um descompasso no fluxo financeiro.
Este desequilíbrio ficou evidente durante a Crise Knickerbocker nos Estados Unidos em 1907, quando as corridas bancárias levaram à falência de diversas instituições financeiras e culminaram na criação do Sistema da Reserva Federal em 1913, com o intuito de prevenir tais corridas bancárias.
No entanto, a eficácia desses Bancos Centrais em prevenir crises tem sido questionada, particularmente ao se observar eventos históricos significativos.
A Grande Depressão, ocorrida entre 1925 e 1930, é um exemplo notório, onde falências bancárias maciças contribuíram para uma das mais severas crises econômicas da história.
Alguns argumentam que as falhas do Federal Reserve (FED) nesse período tiveram implicações que ultrapassaram o âmbito econômico, influenciando até mesmo o cenário político global, como a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Outras crises econômicas também lançam dúvidas sobre a eficácia dos Bancos Centrais.
Por exemplo, a Crise da Dívida Latino-Americana na década de 1980, envolvendo diversos países, incluindo o Brasil;
a Crise das Poupanças nos Estados Unidos entre as décadas de 1980 e 1990;
a Crise Financeira Asiática de 1997-1998, que se alastrou por vários países asiáticos;
a Crise Financeira Russa em 1998;
a Crise Econômica Argentina entre 1999 e 2002;
a Crise Financeira Global de 2007-2008, originada nos Estados Unidos;
e a Crise da Dívida Soberana Europeia nos anos 2010.
Estes eventos levantam questões pertinentes sobre a natureza e a função dos Bancos Centrais.
Uma questão que todo economista formado deveria se perguntar é por que os bancos podem alavancar seu capital em proporções significativamente maiores (12 vezes ou mais) do que outras entidades econômicas, que operam com níveis de alavancagem mais conservadores.
Vide o gráfico da situação das 500 maiores empresas brasileiros, do banco de dados que administro.
Por que bancos conseguem se alavancar 12 vezes seu capital, enquanto o resto da economia , por prudência , alavanca bem menos, 1,67 por exemplo?
Por que capitalistas banqueiros arriscam seu capital 12 a 36 vezes, com o risco de perder tudo com uma queda de 8% a 3% nos depósitos?
Em contraste, outros setores, como comércio e indústria, geralmente operam com uma alavancagem de apenas 67% do capital investido, em vez dos 1200% comuns no setor bancário.
Estas discrepâncias apontam para uma necessidade de revisão e reavaliação crítica do papel dos Bancos Centrais na economia contemporânea, bem como das práticas bancárias.








Respostas de 3
Na minha visão, todas essas crises tiveram suas verdadeiras causas fora da atuação antecipada dos bancos centrais. Temos que separar causas e efeitos.
As causas da Grande Depressão foram complexas e multifacetadas, incluindo:
Superprodução: A indústria e a agricultura dos Estados Unidos produziam mais bens do que o mercado interno e externo podiam consumir, resultando em excesso de oferta e queda de preços.
Especulação Financeira: Houve um “boom” na bolsa de valores nos anos 1920, com muitos investidores comprando ações com dinheiro emprestado (especulação com margem). Isso criou uma bolha que estourou em 1929.
Falta de Regulamentação: Havia pouca ou nenhuma regulamentação sobre o sistema financeiro e a economia, o que permitiu práticas arriscadas e a formação da bolha especulativa.
Desigualdade de Renda: A distribuição de renda era desigual, e os baixos salários da maioria da população limitavam o poder de consumo, agravando o problema da superprodução.
Instabilidade Global Pós-Primeira Guerra Mundial: A Primeira Guerra Mundial perturbou os equilíbrios de poder internacionais e o sistema financeiro global, contribuindo para a fragilidade econômica.
Crédito Excessivo: A expansão creditícia temerária, gerada pelo Federal Reserve System sob a administração do presidente Calvin Coolidge, incentivou o endividamento.
A quebra da bolsa de Nova York foi o estopim que desencadeou uma série de falências de bancos e empresas, aumento do desemprego e uma redução drástica na produção industrial e no comércio internacional.
Entre as causas de 20 milhões de mortes na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) mais 20 milhões na pandemia da Gripe (1918-1920), a Europa, maior consumidora dos EUA, estava arrasada.
Com o surgimento da URSS, nos anos seguintes a Europa estava às voltas com milhões de desabrigados, pobres, esfomeados, e a nova ideologia à leste desviou a atenção. O “American Way of Life” foi ficando de lado e os americanos começaram a sentir os graves problemas entre 1925 e 1930.
Bom dia, professor!
Começaremos a entender melhor quando o assunto for mais explanado, principalmente sobre como os bancos centrais controlam a expansão de moeda, as garantias dos correntistas etc. Também seria interessante entendermos como funciona um central coletivo, como da União Europeia, e quem assume os papéis, em caso de sua extinção.
Abraço!
Penso que o assunto aqui tratado seja decorrente da promessa de campanha de Milei na Argentina que por fim ao Banco Central Argentino.
Também penso que não passa de marketing de campanha do candidato eleito e que, tal como ocorrerá com outras bravatas, o fechamento do Banco Central não ocorrerá; nem a dolarização (justamente por falta da tal moeda).
Se de fato nada ocorrer, pode-se considerar como um estelionato eleitoral, tal como o cometido por Lula no primeiro mandato cuja campanha que o elegeu era detonar o Plano Real, reestatizar empresas etc. e nada ocorreu por pressão do então Ministro Palocci, o que nos salvou do desastre de retomar à hiperinflação.
Tomara que Milei também, nesse caso e somente nesse caso, cometa o estelionato.