Administrando Pessoas Muito Estranhas

 

Eu tenho uma casa num condomínio perto da praia que tem um acesso exclusivo, um direito de passagem ao mar.

Para que banhistas não entrem pela estreita porta, colocamos um aviso. “Proibido a Entrada de Pessoas Estranhas.”

Meus dois pequenos filhos rolaram de rir quando viram aquele cartaz. “Quer dizer que o Paulinho (filho do vizinho) nunca mais poderá entrar?

Para eles estranho era sinônimo de esquisito, e não de pessoas desconhecidas.

Já abordei aqui que o surgimento do movimento de Administração, que começa em 1911, quebra o dogma da Gestão de pessoas conhecidas, os famosos cargos de confiança, que domina a forma de pensar no Brasil até hoje.

É com o advento da Ciência da Administração é que se começa a contratar pessoas estranhas entre si.

É com o advento da Ciência da Administração é que se começa a cooperação humana fora do pequeno círculo familiar e de amigos.

Hoje, fora das Empresas Familiares e Governos, cargos administrativos não são mais dados a familiares ou membros do mesmo partido, mas a gerentes treinados em administração, que nem se conhecem, estranhos entre si.

Mas Administração vai muito além disto.

Quanto se contrata 10.000 funcionários, não somente eles são desconhecidos entre si, mas entre eles há muitas pessoas estranhas, muito estranhas. No sentido que os meus filhos usam.

Usando a famosa curva normal, provavelmente temos numa destas empresas 400 pessoas muito, mais muito estranhas, que dificilmente seriam contratadas em empresas com Gestão familiar.

São os Nerds, os Gênios, os perfeccionistas e assim por diante.

Não conheço nenhum escritório de Advocacia, Medicina, Engenharia que contratou um ex-presidiário, por exemplo, algo muito comum em empresas com mais de 10.000 funcionários.

As grandes empresas têm Nerds no departamento de TI que poderiam encher um hospício, com todo respeito.

Eles podem ser pessoas que jamais seriam contratadas como vendedores ou advogados, mas numa empresa moderna eles se encaixam sem problemas.

Graças aos cursos que se dá a Administradores, seus departamentos de RH sabem que não existe este homem perfeito que os filósofos almejam.

Muito do fracasso do socialismo reside no fato de eles gastarem fortunas com cursos de ética, consciência social, teoria política, cidadania, no afã de criar toda uma população ética e perfeita, para assim poder eliminar a corrupção, a preguiça, etc.

Administradores aceitam as pessoas como elas são, sabemos que não se muda uma pessoa com teorias ou doutrinação, o que podemos fazer é incentivar o que a pessoa tem de diferente e de bom num clima de harmonia.

Criamos centenas de eventos corporativos para que todos possam se conhecer, criamos centenas de cursos de treinamento, onde as qualidades possam ser aprimoradas e não os defeitos.

Temos psicólogos nos nossos departamentos de RH que sabem os defeitos e as idiossincrasias de cada funcionário, os acompanhamos psicologicamente, e nunca despedimos os mais estranhos.

Sempre damos uma segunda chance, mudamos o funcionário de departamento, mudamos de função.

Quem é o psicólogo que cuida de você na Universidade Pública, justamente numa fase da vida que você mais precisa?

Faculdades não são administradas por administradores, mas por sociólogos e cientistas políticos, que ainda acham que todo mundo pode se tornar perfeito.

Administradores trabalham com o que se tem, não com uma utopia teórica inatingível.

Portanto, vocês estudantes de Administração, lembrem-se que as pessoas muito estranhas deste país dependem de você.

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Comentários

6 respostas

  1. Em parte nesta o Kanitz admite que o socialismo fracassou e é bom que saiba que o objetivo básico dele é moldar o ser humano segundo a vontade de “soberanos”, algo impossível de acontecer, uma vez que somos diferentes em vários aspectos. E esta diferença é que o “administrador preparado” sabe da sua importância e cria sinergias positivas que resultam em melhorias pra toda a sociedade.

  2. “Portanto, vocês estudantes de Administração, lembrem-se que as pessoas muito estranhas deste país dependem de você” …… E ainda não podemos deixar de pensar que talvez nós somos estas pessoas estranhas.

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