Gostaria de ter uma conversa exclusiva com meus leitores negros. Se você é branco peço que pule este artigo, o assunto é particular.
Quero de início declarar que sou totalmente a favor de cotas para negros em universidades públicas e privadas.
Não para os alunos, mas sim para os professores.
De nada adianta cota para alunos negros se isto somente significar que terão o “privilégio” de assistir aulas com o corpo docente 100% branco, a elite branca.
Professores que nunca se preocuparam com os seus problemas específicos, mal os conhecem, e que não estão nem aí por sinal.
Se tivéssemos tido 30% de professores negros nas universidades federais 20 anos atrás, mesmo sem nenhum aluno negro assistindo as aulas, tenho certeza que o tratamento que se daria para os negros no Brasil hoje em dia seria bem diferente.
Eu digo isto porque eu tive a sorte de ter um professor negro.
Aliás, foi um dos melhores professores que já tive na vida.
E aliás ainda tenho, pois obviamente continuo estudando e lendo tudo que ele escreve.
Este professor se chama Thomas Sowell, e a maioria dos negros brasileiros nunca ouviu falar dele.
Inacreditável, não é mesmo?
Eu fui influenciado por um fantástico professor negro, e vocês não. O que já reforça a minha tese acima.
Pior, a maioria dos professores brancos jamais sugeriria para vocês ler um livro dele, porque ele não é branco, não faz parte da panela.
Tanto é que somente dois dos seus 48 livros foram traduzidos para o português, apesar de seus livros mostrarem muita coisa que ocorre no Brasil.
O primeiro traduzido é “Conflito de Visões”, um livro assustador, atual e pertinente ao Brasil de hoje.
O segundo é “Os Intelectuais e a Sociedade”, e quem segue meu blog sabe como este livro me influenciou. Já escrevi n vezes sobre este assunto.
O estilo de Sowell é direto, sem meias palavras, é um dos poucos intelectuais que não aderiu as platitudes do “politicamente correto”.
Outro ponto que me impressiona, e que considero fundamental, é que ele se preocupa com os dados e estatísticas que usa antes de sair endossando ideias alheias, e assim não se deixa enganar.
Vou dar um exemplo.
Foi graças à ele que descobri a farsa usada por Paul Krugman, Joseph Stiglitz e agora Thomas Piketty sobre a má distribuição da renda e os índices de pobreza nos Estados Unidos.
Pessoas que ganham abaixo de 22.000 dólares por ano e estão abaixo da “linha de pobreza”, com direito a Food Stamps, o Bolsa Família do Partido Democrata.
Sowell descobriu que metade destas famílias tinham casas quitadas, carros, casas de campo, etc…
Eram os pequenos empresários, cujas empresas naquele ano da pesquisa apresentaram prejuízos ou seja, renda zero.
Para quem estuda Administração, sabe que isto ocorre um em cada cinco anos em média, e nas 500 maiores empresas do Brasil a média é um em cada dez anos – renda zero para os seus acionistas.
A renda de fato é “mal distribuída”, mas não na gravidade que estes intelectuais alardeiam por aí.
Se você é negro ou pardo, eu certamente recomendo ler todos os livros de Thomas Sowell, que escreve muita coisa sobre negros, racismo e como combatê-lo.
Mas seu livro “Knowledge and Decisions”, nunca traduzido, deveria ser a primeira tarefa que um negro brasileiro tradutor deveria empreender.
Seus vídeos estão no YouTube, inclusive aqueles quando ele tinha 30 anos, que encherão de orgulho todo negro brasileiro, pela coragem e determinação do jovem Sowell.
Muito do meu estilo e forma de pensar devo a ele, a Edward de Bono, a Charlie Munger e Michael Porter, que escrevem coisas brilhantes até hoje.
Portanto, posso dizer com certo orgulho que foi um negro que me ajudou a pensar corretamente.
E mais importante, não é necessário entrar na USP, por quota, para assistir um Thomas Sowell.
Basta acessá-lo no YouTube.
Por isto precisamos lutar sim por 30% de quotas, e já, mas para professores, a começar pela FFLCH da USP. (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas)
Vamos despedir 30% desta elite branca, e aí os alunos brancos vão entender melhor o que é pobreza, exclusão social, e vontade de vencer.
Algo para se pensar.
13 respostas
Professor,
Não sou negro. Mas não pude evitar de ler o artigo por completo (obviamente), obrigado por te-lo escrito e divulgado. Acredito que um “problema/issue” para negros, também, o é para todas as outras raças. E vem disso a importância de podemos fazer tudo ao nosso alcance. E te deixo uma pergunta, qual seria o paralelo disso para as corporações? Como influenciar positivamente um jovem negro através da presença e/ou outra forma de influência através da empresa. Minha duvida vai no sentido: o que posso fazer? Já que não sou reitor de universidade.
Apenas uma observação: o trecho “O estilo de Sowell é direto, sem meias palavras, é um dos poucos intelectuais que aderiu ao “politicamente correto”.” Não é justamente o contrário? Um dos poucos que não aderiu ao “politicamente correto”?
Leia novamente
Primeiro gostaria de agradecer a dica de leitura,, não conhecia o professor e seus livros.
Segundo entendo a questão de falta de professores negros tanto em escolas primárias quando em universidades, eu mesmo não me lembro de nenhum á época da minha formação primária, secundária e agora na altura dos meus 34 consegui entrar na faculdade com ajuda do financiamento estudantil e não existe nenhum professor no meu período que seja negro.
Negros são melhores que brancos? Jamais, mas há a questão ai de identificação, de representação e visão semelhantes cujo não encontramos mesmo em professores brancos bem conscientes da causa dos problemas enfrentados por negros.
Justamente ai que divergimos. A falta de professores negros, principalmente em universidades se dá justamente por anos e anos de segregação social ao qual a parcela pobre do Brasil, cuja a maioria são de negros, foi submetida.
Essa segregação refletiu diretamente na educação, no acesso a ela, ou podemos acreditar que realmente existe meritocracia em se disputar uma vaga na USP com alunos que tiveram todo suporte financeiro durante a vida escolar para chegar ali, e outros que desde muito cedo tiveram que dividir estudo com trabalho, tirando que os estudos eram realizados em péssimas escolas públicas que não preparam o aluno para um vestibular da estatura da USP?
Por isso acredito nas cotas como um ingrediente em meios a outros que vai formar uma receita de inclusão e que no futuro não só vai formar professores negros. como engenheiro e outros profissionais.
Sou negro e tenho no senhor, um homem branco, um guia intelectual.
Professor Kanitz, parabéns pela coragem de tocar em um assunto tão polêmico e estranho à maioria das pessoas. Vivemos num país de contradições, onde não se valoriza o quanto a população negra contribuiu para nosso desenvolvimento. Precisamos abrir nossa mentalidade, deixando de julgar a competência pela cor da pele, o que tem excluído excelentes profissionais dos quadros de muitas universidades brasileiras. Thomas Sowell tem lutado muito por tantas pessoas em diversas partes do mundo, mas o acesso ao que escreve é barrado, pois é “subversivo”, ou seja, provoca ideias novas, critica velhas soluções, desperta o interesse em mudanças. No Brasil, tivemos Abdias Nascimento e Mário Santos, que já foram relegados ao esquecimento, tão pouco tempo após morrerem, é preciso rever valores, dando oportunidade a quem queira contribuir, e eu sei que muitos professores como eu, sonham em lecionar em uma grande universidade. Restam-nos, continuar nossa luta, buscando as melhores formações, mas, também, nos mobilizando para que mais portas se abram, para que possamos dar também nossa contribuição. Um grande abraço!!
Professor,
Fantástico!! Também não sou negra, e quando vi o tema do artigo, me identifiquei. Por opção, saí da minha área de (saúde coletiva) na Ufba, onde estudo e fui cursar algumas disciplinas de comunicação e política na FACOM, na mesma Universidade, não só pelo meu interesse em ciências políticas, mas por saber da competência deste nobre professor, líder comunitário da comunidade onde nasceu, onde é um exemplo para negros, brancos, pobres, principalmente aos que residem na periferia. Fernando Conceição, é jornalista, professor da Ufba , está escrevendo a biografia do nosso ilustre Milton Santos. Perdoi-me todos os meus mestres, mas ele foi o melhor!!! (Não por ser negro, mas pela transformação que fez em minha vida) Acho que esse é o pepel de um mestre, seja lá qual for sua “cor”
Abraço
Kanitz, não sou negro . Também tive meus problemas e dificuldades. Pai semi alfabetizado, nordestino e cresci na periferia de SP. Agora sou da “elite branca “. Aprendi o valor das pessoas pelo exemplo dos meus pais e pela religião cristã. A ideia de professores negros nas universidades é ótima , mas para com essa bobagem de elite branca ! Santa Catarina, Rio Grande , Paraná e boa parte do NE está cheio de pobres de olhos claros e pele clara !
Para quem aprecia a matemática seus cálculos são meio “complicados”. Deveríamos ter cotas para professores negros nas universidades, mas não para estudantes. Como poderíamos ter 30% de professores negros sem nenhum negro entrar para a universidade e conseguir formar-se professor? Eu sei que você usa apenas um jogo de palavras sinuoso, afinal se a elite tem dificuldade de aceitar negros nas universidades como estudantes, imagine como professores. Mas sua lógica matemática deveria ser melhor construída, se é que você a valoriza tanto. Ter negros neoliberais que apontem as soluções que os brancos de Wall Street defendem vai ser a solução para combater o racismo? Boa tentativa.
Os pobres de olhos claros e pele clara terão muito mais “chances” de se dar bem na vida profissional e social. Sabe por quê ?
Professor, gostei muito do texto e o achei muito coerente e importante, mas discordo diametralmente de seu primeiro paragrafo, me parece que o sr. deveria é estimular seus leitores brancos a lerem esse texto, só assim poderíamos ajudar as pessoas a sair de sua área de conforto e encarar a realidades dos outros, para tentar tornar o mundo um lugar mais justo, não só para negros, mas também para mulheres e transgêneros, entre outras minorias culturalmente e socialmente perseguidas. Obrigado
Ler este seu artigo é um presente. É claro que ninguém quer ler sobre as mazelas que afligem não a cor, mas a dor da indiferença. Isso provoca o preconceito e faz do racismo a arma letal que é. Concordo plenamente com a sua ideia sobre aonde melhor seriam aplicadas as cotas. Sem orientação não adiante ter uma bussola. Vi alguns comentários aqui que já não me deixam mais triste. Isso consegui buscando ver esses pensamentos, apenas como “Conflitos de Visões”. Ainda se perde muito tempo em continuar a dizer que o negro precisa é ser por si mesmo. É o mesmo que combinar de ir pescar com alguém e ninguém levar a isca. Suas palavras poderiam vir a contribuir para um novo discurso negreiro – https://www.youtube.com/watch?v=rSVxT9E33hM. Espero que aconteça. Eu tenho feito a minha parte e alegre vejo que estou mergulhado em suas palavras, professor Kanitz. Vamos conversando. Abração.
Adotou o discurso segregacionista da esquerda. Que pena!
Gostaria que o senhor refletisse a respeito de que: caso 1-
se sou alguém, independentemente da cor, que vai fazer determinada contratação,
onde há dois candidatos, sendo um branco, e outro negro, os dois cursaram a
mesma faculdade, mas quem me garante que o negro entrou por merecimento ou por cotas? contratarei o branco que sei que ele estudou para estar la – caso 2 dois porteiros, com filhos, mesma escola, mesmo salário, mesmas notas,
um entra na faculdade por ser negro com cotas, outro por ser branco não entra!, sera uma maldade com o branco!