Entenda Jornalismo


Muitos leitores perguntam porque nunca escrevo artigos ridicularizando um governante, ou desancando o governo PT ou ridicularizando as bobagens ditas por algum de nossos senadores.

Não faço este tipo de colunismo porque é ilimitada a quantidade de bobagens feitas por seres humanos.

Estaríamos destruindo todo o papel do planeta se comentássemos cada besteira feita.

Depois, o tempo do leitor é curto, um jornalismo construtivo deveria também divulgar possíveis soluções e não ficar somente na crítica dos erros dos outros.

Leitores são presas fáceis desta forma de crítica jornalística, porque ela insinua equivocadamente que somos superiores aos nossos semelhantes, governantes e amigos.

Noventa por cento das nossas conversas é para se comentar gafes e fracassos dos amigos, nunca suas conquistas e realizações, por isto nunca sou o primeiro a sair de uma festa de amigos.

O jornalista do deboche sabe que o sucesso do outro incomoda, e se aproveita disto.

O jornalismo do deboche não somente mostra que somos supostamente mais inteligentes do que os que estão no poder, mas tem uma outra coisa “freudianamente” muito importante: mostra que o colunista é mais inteligente do que todos nós juntos.

Não pelas suas ideias originais, critério único para se medir inteligência, mas pela burrice dos outros que o jornalismo do deboche tem o prazer de desancar. Como o debochador sempre trata do passado, quando os erros já são óbvios e evidentes, ele tem sempre a vantagem da onisciência, algo que o governante não teve na hora da sua decisão.

Não faço referência àqueles que escrevem uma crítica de forma construtiva, precisamos ser informados das mazelas e erros do governo. Um artigo debochado de vez em quando nos faz rir e permite aguentar o fardo da incompetência alheia. Mas muitos fazem do deboche a sua especialidade, sua razão de ser.

O jornalismo deve criticar e ao mesmo tempo propor soluções para serem discutidas, inclusive correr o risco de ver a ideia debochada.

Só que aí, o artigo teria de ser inovador, competente, criativo, sensato, conciliador, persuasivo e corajoso.

A crítica barata é muito mais fácil do que a análise profunda. A análise requer pesquisa, números e estatísticas, o deboche só precisa de uma língua afiada.

Se você adora o jornalismo do deboche, porque ele é engraçado, lembre-se que você está rindo de si mesmo, e embora autocrítica e umas risadas sejam sadias, limitar-se a isto é dar um tiro no pé.

O Brasil está diariamente dando tiros no pé, e achando graça.

Num congresso de estudantes colocaram-me para falar em penúltimo lugar, e o encerramento foi feito pelo Arnaldo Jabor.

Ele simplesmente destruiu o meu discurso otimista anterior, dizendo que o Brasil jamais daria certo, de que estávamos condenados pelo gene do patrimonialismo português, que o fracasso estava no nosso sangue, e assim por diante. Para a minha grande surpresa, a plateia simplesmente adorou.

Riram a valer, e no final aplaudiram de pé. Inacreditável para mim!

Se um grande intelectual prevê que o Brasil jamais dará certo, não precisamos nos esforçar.

Pode-se justificar o nosso fracasso pessoal, nossa mediocridade individual, como sendo inevitável, é nosso destino.

“Não preciso melhorar, a culpa não é minha, a culpa é do Brasil, a culpa é dos portugueses”.

Muitos de nossos intelectuais jogam para a plateia, curvando-se à força do mercado, um discurso de que jamais daremos certo, quando a função do intelectual seria justamente mostrar as soluções, mostrar o caminho, mostrar o que nós pobres mortais não vemos.

Onde estão os poetas que antes nos inspiravam e motivavam, onde estão os filósofos que nos mostravam a essência do que está ocorrendo, onde estão os padres com seus sermões edificantes, onde estão os visionários que nos mostravam o caminho?

Eles estão presentes como sempre estiveram, mas hoje estão sem plateia, porque o jovem brasileiro está encantado com o discurso do deboche, é sempre mais fácil culpar os outros.

O jornalismo do deboche é um fenômeno mundial, atingiu até o New York Times.

Se acabou acreditando que você é mais competente que Dilma e Obama, consulte um especialista.

O mundo não é tão simples nem tão ridículo quando lhe fizeram imaginar.

Graças a Deus!

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Comentários

12 Responses

  1. Fantástico Stephen!
    A situação que chegamos é justamente o resultado da movimentação da massa, causada por esse tipo de jornalismo destrutivo (parcial e com mercado-orientado). É sempre mais fácil ler uma notícia, que já contém uma opinião formada para você e para “facilitar” ainda mais, é uma crítica – um deboche. Obviamente a tendência é se juntar a massa e criticar ao invés de propor soluções ou promover debates.

  2. Grande Mestre Kanitz sem tem ao menos certeza que eu tenho é esta … O Mundo não é tão simples e nem tão ridiculo, o Ilustre Jabor sempre teve meu respeito até o dia de seu infeliz comentário sobre as manifestações, agora não esperava dele uma posição dessa que nunca daremos certo.
    Realmente, os Otimistas, os Visionarios, os Empreendedores são tidos como sonhadores e chatos, pois vislumbram coisas grandes e buscam metas de altissimo alcançe e isto incomoda aqueles que estão acomodados em um mundo que nao precisa se esforçar.

    Sei que mesmo sendo minoria, ainda existem aqueles que buscam o algo alem ….. ouve uma vez que o senhor postou um artigo que continha a seguinte frase:

    “Quanto mais alta é a montanha mais difícil é a escalada. Poucos conseguem chegar ao topo, mas são eles que admiram a paisagem do alto e fazem as fotos que você admira dizendo “queria ter estado lá”.”

    Continuo todos os dias tentando, projetando, buscando ….. pois eu ainda vou tirar a minha foto.

  3. É bem mais fácil criticar do que reconhecer o bem-para alguns.Um prédio se constrói em alguns anos e se destrói em 15 segundos. .

  4. Magnífico texto. Reflete exatamento o que penso. Concordo com tudo o que foi dito em gênero, número e grau.

  5. Belo texto, professor! Mais um dos seus, dentre a enxurrada de leituras que fazemos, onde consigo me sentir menos sufocado. Feliz em encontrar em seus textos um suporte aos meus pensamentos.

  6. Texto inteligente! Talvez, o que mais nos falte seja a consciência de que as soluções devem ser propostas e tentadas em todos os níveis, até mesmo em situações que parecem insignificantes. Quando se vê, da janela de nossa casa, um lixeiro juntando as sacolas de lixo que os moradores depositam em frente a casa, para facilitar a coleta, porque não tomamos a iniciativa de nós mesmos depositá-las em um único monte? É assim: eu creio que a mudança deve começar do menor para o maior!

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