Mais uma vez no Rio+20 iremos ouvir o brado da devastação da Amazônia, e ninguém vai sair protestando contra o desmatamento quase total das Florestas Temperadas.
Por que ninguém exige o reflorestamento do Mid-West Americano e da Europa?
Por que os brasileiros gastam 95% do seu tempo contra o desmatamento da Amazônia e nada protestam contra o desmatamento das Florestas Temperadas?
Em 2003, escrevi o artigo abaixo na Veja: Salvem as Florestas Temperadas, e a repercussão foi quase nula.
Não fui convidado para nenhuma das 54 Conferências sobre Ecologia realizadas no Brasil de lá para cá, ninguém achou este tema importante o suficiente para se discutir.
Eis o artigo de 2003, que infelizmente continua válido.
No filme A Bruxa de Blair, sucesso de bilheteria do cinema alternativo americano, há uma cena que fez meu sangue de ecologista amador brasileiro e defensor do crescimento sustentável literalmente borbulhar.
Os três estudantes do longa estão totalmente perdidos numa floresta da Nova Inglaterra e a garota começa a entrar em pânico achando que nunca mais sairia daquela selva.
Seu colega então diz algo parecido com:
“Não seja idiota, nós destruímos todas as nossas florestas temperadas.
É só andarmos mais meia hora em linha reta que logo sairemos daqui”.
Ecologistas do mundo todo vivem fazendo protestos para preservar a floresta tropical brasileira, mas raramente param para refletir sobre essa corajosa crítica contida nesse filme, que fez tanto sucesso.
Se alguém se perder na Floresta Amazônica, poderá ter de andar por noventa dias até achar uma saída, tal o nível de preservação de nossa Amazônia, comparada com as demais florestas.
Então, não seria correto também discutir a reconstituição das florestas temperadas, há muito tempo dizimadas?
Na Europa e nos Estados Unidos, boa parte das florestas foram destruídas.

O “Crescente Fértil” descrito na Bíblia é hoje o Iraque da “Desert Storm”.
Em contrapartida, 86% da Floresta Amazônica continua intacta.

No famoso Museu Smithsonian, de Washington, vi um painel que orgulhosamente mostrava um pioneiro derrubando uma árvore para criar uma área arável e poder “suprir nossos antepassados com a comida necessária“. Texto deles.
Destruíram tantas florestas temperadas para plantar comida que hoje eles têm muito mais agricultores do que o necessário, a maioria economicamente inviável.
Com a produtividade atual da agricultura, bastaria cultivar as planícies naturais que todos os países já possuem.
A destruição das florestas temperadas é uma das razões dos maciços subsídios que a Europa e os Estados Unidos dão à agricultura, razão de nossos protestos junto à OMC.
Quando negociadores do governo brasileiro reclamam desses subsídios, a resposta é que eles são necessários para manter a população no campo.
Caso contrário, os países teriam enormes espaços e terras vazias, com todo mundo vivendo nas cidades.
O erro dessa lógica política está na frase “espaços e terras vazias”, uma vez que essas terras não eram “vazias” antes de as florestas temperadas serem dizimadas.
Há muito deveríamos ter colocado na agenda mundial a necessidade da reconstituição das florestas temperadas ao lado da preservação da Floresta Amazônica – o que exigiria dos países desenvolvidos a lenta substituição dos agricultores subsidiados por guardas e bombeiros florestais em constante vigilância.
Pelo menos os agricultores passariam a ser úteis, em vez de receber subsídios para nada plantarem.
Os espaços não ficariam vazios, como temem os políticos desses países. Voltariam ao equilíbrio original.
Isso teria importantes consequências econômicas para o Terceiro Mundo.
Acabaria com os enormes subsídios agrícolas e equilibraria a balança comercial de muito país em desenvolvimento.
Bjorn Lomborg, autor do The Skeptical Environmentalist, escreve na página 117 uma frase de muita coragem política:
“Que base nós (Primeiro Mundo) temos para nos indignarmos com o desmatamento das florestas tropicais, considerando o nosso desmatamento na Europa e Estados Unidos?
É uma hipocrisia aceitar que nós nos beneficiamos imensamente da destruição de enormes áreas de nossas próprias florestas mas não vamos permitir que países em desenvolvimento se beneficiem como nós o fizemos.
Se não quisermos que eles usem seus recursos naturais do jeito que nós usamos os nossos, devemos compensá-los de acordo“.
Obviamente, ele foi massacrado, e por muitos brasileiros.
Da próxima vez que um amigo, um jornalista ou um diplomata estrangeiro lhe indagar sobre o que estamos fazendo com nossa Floresta Amazônica, antes de responder, pergunte-lhe o que ele está fazendo para reconstituir 85% de suas florestas temperadas.
Stephen Kanitz é administrador por Harvard (blog.kanitz.com.br)
Revista Veja, Editora Abril, edição 1823, ano 36, nº 40 de 8 de outubro de 2003








Uma resposta
A questão do desmatamento no planeta sempre foca nas consequências e esqueçe as causas.
30 mil anos atrás, a população humana girava em torno de 30 mil habitantes. Sempre lembrando que pouco mais de 10 mil anos atrás houve a última Era do Gelo, o que reduziu bastante a população de Homo sapiens, entre outros animais.
A população humana mundial atingiu a marca de 1 bilhão de pessoas por volta do ano de 1800. Esse marco coincidiu com o início da Revolução Industrial, um período de grandes avanços tecnológicos e melhorias nas condições de vida que permitiram um crescimento populacional mais acelerado.
Antes disso, a humanidade levou cerca de 200 mil anos para atingir essa cifra. Após 1800, o ritmo de crescimento acelerou significativamente:
2 bilhões: por volta de 1927/1930, pouco mais de um século depois.
7 bilhões: em 2011.
8 bilhões: em 2022.
Considerando que cada ser humano consome diariamente, em média, 1 quilo de alimentos, 1 litro de água e produz 1 kg de lixo, 8 bilhões de litros de água e 8 milhões de toneladas diárias desses outros dois ítens citados causam devastações enormes pelo mundo afora.
Não seria hora de se popularizar o planejamento familiar até o ponto de que todas as nações adotassem o filho único, até normalizar essa situação de bomba relógio humana na Terra?