A direita e o liberalismo estão tão desgastados por erros cometidos no passado que dificilmente irão ressurgir.
Administração nos ensina inclusive que marcas desgastadas ou queimadas nunca mais se recuperam, por isso o certo é desenvolver outra ideologia política, mais adequada aos tempos modernos.
Com o fim do movimento pendular da globalização, minha previsão é um retorno lento à Idade Média, fim das megalópoles, volta das cidades agrícolas, volta do localismo, da comunidade e do comunitarismo, do near and friendly.
Fiz um resumo de um excelente artigo de João Pedro Schmidt.
“Comunidade é um conceito presente em todas as grandes religiões mundiais, como o judaísmo, o cristianismo, o islamismo e o budismo, e em todos os grandes sistemas de pensamento.
A tradição milenar assegura ao termo presença no vocabulário de todas as principais línguas: Koinonía (grego), Communitas (latim), Kehilla [kehillah] (hebraico), Umma ou Ummah (árabe), Sangha (sânscrito), Shèq’ (chinês), Samud’ya (híndi), Komyuniti (japonês), Soobshchestvo (russo), Community (inglês), Commu- nauté (francês), Gemeinschaft (alemão), Comunidad (espanhol) e Comunità (italiano), entre outras.
Para Robert Nisbet, a história é fundamentalmente a história das ideias e dos ideais humanos quanto à comunidade e à anticomunidade.
(A esquerda foi sempre contra a comunidade, a cooperação humana, a filantropia, o altruísmo recíproco, dos valores espirituais associados à religião e ética comunitária.
O Estado comanda nossas vidas, não as milhares de comunidades.)
O autor emprega o termo comunidade no seu sentido de “relações entre indivíduos que são marcadas por um alto grau de intimidade pessoal, de coesão social ou compromisso moral, e de continuidade no tempo”. (Nisbet, 1982, p. 13)
Elemento central da cristandade medieval, mas recusada por grande parte do pensamento iluminista moderno, a comunidade é redescoberta no pensamento social europeu ao longo do século XIX e assume relevância crescente ao longo do século XX, mantida nos dias atuais.
Após a II Guerra Mundial, lembra Will Kymlicka (2003), o ideal de comunidade foi posto de lado pelos intelectuais.
Uma consequência da ressignificação autoritária do ideal comunitário pelos ideólogos socialistas, comunistas, nazistas e nacionalistas, além da pouca atenção que lhe foi dada pela vertente predominante do pensamento liberal.
Usualmente, quando se fala de comunitarismo entre nós, tem-se em mente não mais que alguns autores (Alasdair MacIntyre, Michael Walzer, Robert Nisbet, Charles Taylor), que, aliás, não se autodenominavam comunitaristas.
O comunitarismo é o pensamento que se preocupa fundamentalmente com a comunidade – e não com o Estado ou o mercado.”
(Por hoje é só, mas todos meus artigos normalmente são embasados no Comunitarismo, bem como meus sites filantropia.org, voluntarios.com.br, thinkers-Brasil.org e o Prêmio Bem Eficiente.)
6 respostas
A partir do dia 13 de dezembro, perdi a fé no Brasil como uma nação livre, com ordem e progresso. Gostaria de dormir e acordar daqui a uns 10 anos para ver como estamos. Abraços professor, continue tentando nos ajudar a pensar.
a volta ao comunitarismo, ao local, vem e traria consigo alguns ganhos, sim, por exemplo, o valor do frete, sob que forma for feito, está se tornando inviavel. há muitos anos, avalio que motivos objetivamente falando, leva a se transportarem milheiros e milheiros de telha e tijolos de ceramica – barro, entre estados tão distantes; ora barro, temos em todos os lugares, um barro melhor um barro pior, um barro branco, uma argila, opa dá pra fabricar louças. assim também outras matérias.se não me falha a memória – há alguma citação sobre o consumo de frutas e outros que tais ” vindos de locais distantes ” que deveriamos nos abastecer e nos satisfazer com os produtos locais. com certeza, os especuladores de plantão tentariam se apoderar deste mercado todinho só pra eles….mas acredito, que as pessoas, quando atingirem este estagio de evolução e sabedoria, por si só, expurgariam, as ervas daninhas, convidando-as a recuperação moral ou prosseguir na busca eterna da evolução.
Sem a menor sombra de dúvida, podemos dizer que vão faltando os corpos intermediários para conter o avanço do Estado que, cada vez mais, vai diminuindo a importância daqueles com o seu aumento incessante, até se tornar um monstro Leviatã, cujo autor, T. Hobbes, desta analogia com o monstro mitológico, ao contrário do que se imaginaria, foi a favor do Estado, por necessidade, no final das contas.
Acredito que estamos abordando a mesma questão quando o Sr comenta sobre o comunitarismo, no que parece conter aí os corpos intermediários que, cada vez mais, vão desaparecendo, frente a um Estado inchadíssimo, socialista. Retorno ao feudalismo? Interessante! Interessante mesmo, como forma de resistência, mas duvido muito! As novas tecnologias nas mãos erradas não permitirão, com a tecnocracia em ação.
Muito bom tema, caro Prof. Kanitz.
Quais são os principais fundamentos e premissas que sustentam a previsão de um retorno lento à Idade Média, incluindo a ideia de fim das megalópoles, ressurgimento de cidades agrícolas, fortalecimento do localismo, da comunidade e do comunitarismo, bem como a promoção do “near and friendly”? Como esse cenário se relaciona com o que é conhecido como o fim do movimento pendular da globalização e quais seriam as implicações percebidas desse retorno nas dinâmicas sociais, econômicas e culturais?
Penso que a Austria com sues cantões autonomos poderia ser um exemplo.
A Suíça é um país regido nos níveis de federação, cantões e comunidades. A democracia direta permite que a população participe diretamente nas decisões em todos os níveis. Com isso o governo central não tem poder sobre o cidadão, pois tudo é resolvido localmente.