Nosso Trágico Setor Bancário

O fato de termos somente cinco enormes Bancos é somente parte do problema.

Problema maior é que são cinco Bancos com culturas administrativamente totalmente diferentes, feudos individuais por assim dizer.

Sendo assim, não há como uma inovação administrativa ou técnica bem-sucedida em um desses Bancos migrar para os demais.

O Itaú não contrata funcionários do Bradesco, e vice-versa.

O Bradesco somente promove de dentro, justamente porque quer preservar a cultura criada por Amador Aguiar.

Banco do Brasil idem, é a cultura do estatismo, do governismo.

Santander é espanhol, segue também a sua cultura de origem e os valores compartilhados da matriz espanhola.

Por que isso é grave?

Porque não temos uma cultura administrativa compartilhada por todos, Bancos e administradores financeiros.

Os poucos administradores financeiros que temos precisam se adaptar ao Itaú ou ao Bradesco ou ao BB, uma insanidade, mutuamente exclusivas.

Por isso sequer temos no Brasil um “School of Banking” ou uma Escola de Administração Bancária, como o Baruch School of Banking de Nova York.

Pior, nenhum intelectual brasileiro, que vive criticando o sistema bancário, se dá conta disso. Nem ninguém percebe a falta de uma escola que ensine banqueiros a administrar com eficiência.

Mas o problema fica pior.

Nossos Bancos inovam somente adotando teorias acadêmicas tiradas da literatura internacional, como agora todos interessados no Blockchain.

A pouca inovação que houve nesses 60 anos veio da contratação de jovens direto das universidades.

E mesmo assim contratam as pessoas erradas.

No caso do Itaú, Santander e Citi, contrataram não Analistas de Crédito ou Administradores Financeiros, treinados para as funções necessárias.

Contrataram justamente profissionais nada treinados nessas áreas, Engenheiros Civis, Engenheiros Mecânicos e Engenheiros de Produção da Politécnica de São Paulo, alma mater de seu fundador, também engenheiro.

Como Engenheiros, fizeram aquilo que foram treinados a fazer, trocar seres humanos por máquinas aumentando a “produtividade”.

Foi o que permitiu a Revolução Industrial, não estou aqui criticando essa nobre função do Engenheiro.

Mas isso não se faz no setor de Serviços, onde o relacionamento humano é a essência do negócio.

Hoje quem empresta não é mais o Gerente, acabaram com a essência da atividade bancária, Relationship Banking.

O Gerente só administra os formulários para alimentar os computadores, as máquinas dos Bancos.

Relationship Banking que criamos ao longo de 400 anos, e que foi jogado fora em 10 anos.

Li no Valor que a solução é outra. “O acesso ao crédito só deve melhorar em 2020 com a vinda do open banking, fintechs e startups.”

Esquecer Bancos não é a solução, precisamos administrá-los melhor como profissionais do ramo.

Ou seja, continuaremos a fazer os diagnósticos equivocados, e numa Reforma Bancária por vir iremos mais uma vez para trás, por nem nos preocuparmos em formar profissionais preparados para financiar esse país.

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Comentários

5 Responses

  1. O atendimento, independentemente do seu saldo, ficou deplorável.
    Nos bancos estatais, é triste ver como tratam os correntistas. Fui funcionário de um destes grandes bancos privados por 9 anos e ainda mantenho a conta corrente na mesma agência por só 38 anos. Pra que serve isso ? Pra nada!
    As fintechs serão muito bem vindas….

  2. Sr. KANITZ…Nos últimos 40 anos o setor bancário brasileiro evoluiu sendo reconhecido no mundo inteiro. Atingiu picos de rentabilidade. Mantém presença marcante nas decisões da política de governos. A identidade das instituições são preservadas, mas suas técnicas de atuação são aprimoradas e são exemplos para seus parceiros mundiais..São facilmente adaptáveis a alteração da situação economica..isso se chama eficiência da empresa privada. Se algo esta errado, não são com os banqueiros….ganham com ineficiência da política pública.

  3. Permita-me discordar mas penso que a cultura administrativa dos grandes bancos são muito semelhantes. O que muda são as pessoas que constroem ou destroem os relacionamentos e algumas peculiadidades de sistema que talvez seja a grande dificuldade dos adm financeiros de se adpatar. Os produtos de crédito são basicamente giro, financiamento e antecipação de recebíveis (para PJ) que têm diferenças do tipo, sistema price ou Sac, financiamento do IOF e tarifas ou não e garantias. As análises de crédito levam em conta o endividamento que os clientes já têm em outros bancos, o ramo de atuação, a região e em alguns casos a impressão que o gerente possui da empresa pleiteadora de crédito em todos os bancos. As inovações estão acontecendo com muita velocidade puxada pelas fintechs. São bancos sem agências, sem funcionários e com análises de crédito bem mais aperfeiçoadas. Os gerentes já não preenchem formulários rotineiramente, atuam como consultores. A dúvida é se há limite para a atuação do app e o ser humano na oferta e indução de negócios de produtos financeiros.

  4. São contratados doutorandos de engenharia financeira e graduados para construírem tabelas (que o gerente não precisa saber bem fazer)…falta humanizar e valorizar funcionários e fazer como a Tramontina: 50% de mão de obra local a outra metade é robotizada! E dá certo sempre…o sucesso centenário deveria servir de exemplo para os bancos…

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