Compre Sempre à Vista

 

Tempo de leitura: 1 minuto

 

A tradição das religiões não permite incorporar algumas modernidades, situações novas com as quais os antigos não conviviam.

Infelizmente não podemos criar mandamentos que eliminariam imenso sofrimento humano, que reduziriam inúmeros conflitos familiares modernos, que devolveriam paz de espírito a muitos seres humanos.

Se pudéssemos, eu proporia um décimo primeiro mandamento: “Jamais comprarás a prazo”.

O endividamento pessoal, o crediário sem fim e as compras a prazo deturpam a condição humana.

O trabalho se torna uma obrigação, a de saldar as dívidas do consumo, em vez do contrário.

O consumo deveria ser a recompensa merecida pelo trabalho bem feito.

“Curta hoje, pague depois” tornou-se o novo lema do consumismo mundial, uma inversão da ética milenar de colocar o sacrifício antes do prazer.

Talvez por isso sejamos um povo eternamente endividado, pendurado. Poupamos pouco, investimos menos ainda.

Não é à toa que para muitos trabalhar é um fardo. O prazer veio antes.

A desculpa de “se eu não comprar a prazo, jamais comprarei algo” não convence, porque comprando a prazo você estará pagando muito mais pelo mesmo produto, acrescido de juros e inúmeros outros custos adicionais.

Se você depositar todo mês numa aplicação de renda fixa o valor equivalente ao que seria o da prestação, depois de dezoito meses terá entre 50% e 100% de rendimento a seu dispor, dependendo das taxas de juros do momento.

A questão nunca está entre comprar e não comprar, mas entre receber a mercadoria já, pagando prestações e juros no futuro, e poupar e comprar no futuro, à vista, com desconto e tudo mais.

Não são os pobres que compram a prazo, é a compra a prazo que os deixa mais pobres. Compre a prazo e você ficará eternamente pendurado. Compre à vista e estará eternamente livre dos juros do crediário.

Quando se compra a prazo, paga-se por muitos custos adicionais, além dos juros, algo que nossos professores não ensinam.

Comprando à vista, uma série de despesas se torna desnecessária, barateando o custo do produto.

Comprando em dez prestações, você está pagando por dez notas promissórias e dez lançamentos que precisam ser contabilizados e registrados.

Cada vez que você paga uma prestação, um funcionário tem de receber e contar o dinheiro, um contador precisará dar baixa na prestação, um recibo deverá ser emitido e assinado.

Tudo isso tem um custo. Além do mais, há o custo do centro de atendimento de crediário.

Nada disso é necessário quando você compra à vista.

Existe ainda o custo da pesquisa de crédito: alguém tem de telefonar para seu empregador, seus antigos credores, para o serviço de proteção ao crédito e assim por diante.

Chamam a isso custo de abertura de crédito. E quem paga é você.

Muita gente acaba não saldando as prestações, e o pior da compra a prazo é que você terá de pagar por esses caloteiros.

De 3% a 8% dos devedores nunca quitam suas dívidas, e quem paga é você.

Isso é uma enorme injustiça, os bons pagadores acabam pagando pelos maus pagadores.

Como nunca se sabe de antemão quem vai dar o calote ou não, não há outro remédio a não ser incluir o custo no preço pago por todos.

Inadimplência não é o único custo que se tem quando se compra a prazo, existem ainda milhares de devedores que atrasam o pagamento.

Embora não sejam exatamente caloteiros, acabam incorrendo em outros custos, dos cobradores, dos advogados, das cartas de aviso, e quem paga novamente é você, pagador pontual.

Todos esses custos estão embutidos nos juros cobrados, o que gera algumas conclusões equivocadas por parte de certos economistas, jornalistas e políticos que acusam o comércio, os bancos e os cartões de crédito de cobrar juros abusivos.

Esquecem que os “juros” são na realidade a soma de juros mais todas essas despesas.

Além de tudo isso, a compra a prazo provoca um senso de superioridade incompatível com sua produtividade, uma ostentação acima de sua capacidade de produção.

Na compra de um imóvel não há alternativa a não ser o plano a prazo, mas na compra de um eletrodoméstico há.

Para sua felicidade e de sua família, incorpore mais um lema em sua vida: compre à vista!

 

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Comentários

11 Responses

  1. O problema, no caso, é conseguir calcular o quanto o produto deverá ter de desconto em uma compra a vista. Depois, é conseguir convencer o vendedor a nos dar este desconto.

      1. Não. Mas, posso conseguir um pouco para você. Importa-se se eu mandar entregar um livro sobre discernimento, educação e gentileza, para você tentar ler enquanto degusta sua refeição?

    1. Cid, o código de defesa do consumidor não permite preços diferenciados para o cliente que paga a vista e o que paga a prazo, é um atraso pois o cliente que paga a vista tem que arcar com os mesmos custos, algumas lojas tentam burlar essa lei e oferecem descontos de 7 a 10%.

    2. A maioria das grandes redes evitam de vender à vista. Eles preferem a venda à prazo. Se vc chegar e pedir algum desconto por pagar à vista, os vendedores criam um monte de desculpas, empecilhos e por fim, dizem que o “sistema” não aceita dar desconto, que só podem vender por aquele preço mesmo, sendo à vista ou à prazo…
      Levantei, agradeci e deixei pra próxima!

  2. Muito bom o texto, se o brasileiro deixasse de comprar a prazo, não ficaria tão vulnerável a “marolas” da economia brasileira ou a barbaridades como o parcelamento do salário dos funcionários públicos do Rio Grande do Sul feita pelo nosso “ilustre” governador. Economicamente seríamos um outro país.

    Já assisti vária reportagens sobre trabalho escravo no norte do país, as pessoas são atraídas por um trabalho aparentemente normal, mas com um “empregador” que cobra por tudo que é necessário a sobrevivência naqueles lugares remotos, cobra pela moradia, botas, luvas, ferramentas de trabalho, alimentação e ou por ser um local remoto ou por imposição só pode ser comprado do “empregador”.

    Antes de receber qualquer salário o empregado/escravo já está iniciando uma dívida que o manterá amarrado, pois nunca consegue terminar de pagar.

    Esta é a mesma estratégia da compra a prestação.

    Caso você esteja comprando a prazo, se você ainda não é, pode estar se tornando um escravo.

  3. Sei dos custos para a manutenção do crédito e as desculpas para a manutenção das altas taxas de juros.
    Mas juros de 15, 16% é inexplicável em qualquer situação! É o mesmo que justificar um carro popular ser vendido à 35, 45 mil aqui no Brasil, e o mesmo carro, custar menos de 20 mil (com frete incluso) em outros países e dizer que são os impostos que encarecem o produto!

  4. .. equivale a fabula “a formiga e a cigarra”. mas geralmente é o “status quo” que empurra a pessoa para a compra a credito: meu irmão tem, meu vizinho tem, meu cunhado tem e eu sou o unico pobre que ainda nao tem ?
    para esticar seu dinheiro a compra a vista é a unica solução… educação financeira.

  5. Excelente artigo! Estou escrevendo algo sobre o mesmo tema e resolvi procurar na internet fontes sobre “compre à vista” e “endividados”. Adivinha quem ganhou?!
    Desculpe a audácia de complementar tudo o que você explanou, mas além do PDD, do maior custo financeiro e operacional, quem compra a prazo ainda paga mais imposto, uma vez que, na formação do preço de venda ele é considerado no final, ou seja, incide sobre o preço à vista + PDD + custos financeiros e operacionais extras, etc.
    Sinceramente, eu não tenho dinheiro para comprar a prazo, tem que ser à vista porque é mais barato.

  6. A muito mas a muito tempo tempo mesmo que compro tudo a vista ! O que geralmente o povo compra a prazo eu sempre comprei a vista ! O segredo é ajuntar e comprar a vista mesmo.

  7. Depois que incorporei a “provisão” utilizada nas empresas para as minhas finanças pessoais, ficou tudo mais fácil. Ao invés de esperar chegar a conta do IPVA, provisiono (guardo) o valor que pagarei todos os meses para poder pagar a vista e sem dor.

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