O ex Ministro da Fazenda Palocci disse uma frase que me lembrou da minha ida ao governo, como assessor do Ministro do Planejamento.
Diz Palocci: trabalhar no governo é uma “experiência única que dá enorme valor depois para a gente no mercado privado“.
Cita em seguida vários professores acadêmicos que nunca trabalharam antes na vida que foram para o governo, e de fato ficaram ricos com o “valor” citado pelo Palocci.
Outros países convocam administradores financeiros, treinados e com vasta experiência anterior, para ocuparem cargos no governo, justamente o contrário. Isto se chama ética profissional.
Eles trazem experiência ao Governo, que normalmente é o último a adotar as técnicas de administração desenvolvidas pelas empresas.
Uma tragédia da União Soviética é que com 70 anos de economia centralizada, não saiu uma única técnica de administração nova.
Nenhum conceito novo que pudéssemos adotar nas empresas.
Não conheço um guru, um livro de administração de sucesso escrito por um Russo. Nada!
Portanto, que “consultoria empresarial” é esta que acrescenta tanto dinheiro e valor?
O governo Brasileiro prefere convidar professores acadêmicos sem nenhum valor e experiência que vão justamente para o governo pela “experiência única que finalmente dará valor às suas insignificantes carreiras”.
E pelo jeito a maioria dos engenheiros, sociólogos, advogados, aprovam e são contra quando fico aqui mostrando que governo não é para amadores em administração da coisa pública.
Quando recebi o convite para trabalhar no Governo consultei meus colegas Professores da USP.
Alguns me incentivaram, “você tem muito a contribuir“, “você entende do assunto, já está com tudo pronto“. Outros repetiram 30 anos atrás exatamente o que vocês ouviram do Palocci. “Vai, você vai adquirir muita experiência.”
Por isto, estamos atolados. Estamos treinando amadores a terem experiência, um dos mais elevados custos de treinamento do mundo, e o único beneficiado é a carreira dos valorados.
Seja profissionalmente ético. Nunca aceite uma cargo para o qual você não se sinta preparado. Seja cidadão.
Nunca aceite um cargo no governo se não foi duplamente preparado e testado para a sua função.
Governo não é o local para você adquirir experiência, para depois ser consultor do setor privado. Convite para trabalhar no governo é para você usar a sua experiência e não adquirir experiência à custa do povo brasileiro.
10 respostas
Bom artigo!
Não tinha pensado nisso.
O que se podia se esperar de um governo, que recoloca tudo o que tinha de podre no governo Lula, Paloci, Genuino, Dirceu etc…
E investe somente 4 porcento do PIB em Educação, sendo que estava previsto 7 porcento.
Meu caro Kanitz, adorei vê-lo no Roda Viva. Apesar das nossas alfinetadas, tenho um enorme apreço por sua pessoa. Isso porque vejo sempre verdade, mesmo que apenas sua em tudo o que diz ou faz; isto é integridade.
No assunto “capacidade” do Sr Palocci, só alunos do jardim ou pré que vão acreditar nas explicações do seu modesto patrimônio. Quem acreditará que o Sr Palocci tinha um patrimônio de apenas 350.000,00 a quatro anos passados?Mesmo depois de vários anos como prefeito de Ribeirão Preto? Tinha muito mais, só que não podia aparecer. Então com uma firma de consultoria fica muito fácil “aparecer” o dinheiro. Ex: Vou a um lugar qualquer conto uma piada; uma só, dou recibo de R$ 200.000,00, e o dinheiro que eu já tenho pode aparecer. É uma modalidade boa para isso, pois não se compra ferro, não se solda nada, não se tem grande grupo de funcionários, não se tem embalagem nem “viajantes” para trazer pedidos.
Quem pede palestras ou consultorias? Quem já tinha no passado contribuido, e agora terá apenas acertar a contabilidade. O que uma empresa consegue com isso? Transito para interesses em detrimento de competências e lisuras.
Em relação aos conselhos ouvidos 30 anos atrás, eu digo: Um administrador honesto dirá “voce está pronto vai contribuir muito”. Um administrador desonesto dira: “vai, voce vai adquirir muita experiência e vai poder enfiar a faca em troca de qualquer bobagem” O mesmo diria economistas honestos ou desonestos. A propoporção do conteúdo moral não passa pela profissão, passa por outros caminhos na vida do indivíduo.
Esta implicância vai lhe dar uma úlcera.
Direto no ponto. Parabéns! Quanto à “experiência adiquirida” pelo Palocci (e outros de língua presa), estou com o Edgar, que colocou um ótimo comentário acima.
Por favor, corrigir “adquirida” no meu comentário.
Esse episódio tem vários desdobramentos. Segue um deles: se, como a defesa do Sr. Palocci alegou, trabalhar para o governo valoriza tanto o cidadão, não seria o caso de esse benefício entrar na negociação salarial e esses profissionais ganharem menos do governo? Seguindo sua própria argumentação, a Sra. Marta não deveria fazer uma campanha enorme para diminuir salários de ministros e outros profissionais que já estão tão bem recompensados pelas perspectivas excelentes de ganhos no futuro? Afinal, recursos públicos poupados são sempre desejáveis.
Não será esse o motivo de tantas “palestras” do Ex?
Caro sr. kanitz, como sempre um ótimo artigo. eu ainda não vi nenhum comentário do senhor sobre os futuros eventos esportivos que teremos aqui no Brasil, com certeza veremos o quando se faz necessário termos administradores de verdade no governo, pois até então me parece que as obras para tal estão todas atrasadas, e governo parece totalmente perdido… Por favor comente algo a respeito.
Se for assim, todas as pessoas que passaram pelo governo (ou quase todas) terão que pagar fortunas ao tesouro pra reembolsá-lo pela experiência que adquriram! Idem aos que vão ingressar! Vão ter que pagar mensalidade pra trabalhar lá, ao invés de receberem qualquer benefício.
Concordo Ibsis Literis com o Edgar. Nada tem a ver com ser economista, administrador, engenheiro, advogado ou dentista. Há pessoas integras e honestas e outras não. Ponto final, é simples assim. O professor tem gigantesca sapiência na analise das questões publicas e privadas de grande abrangencia. Uma pena alimentar tanto seu rancor, que com certeza ja lhe deu ulcera e só vai piorar. Mesmo assim mantenho-me seu admirador.