O Importante é Começar

Uma sociedade somente será de fato cidadã se seus participantes forem atuantes na área social.

Um dos conceitos que os governos brasileiros abraçaram com vigor no passado foi a ideia de que a responsabilidade social era exclusiva do Estado e do governo. Chegamos a adotar a frase “Tudo pelo Social” como a única função relevante do Estado, dando início ao processo de privatizações em todas as demais áreas de atuação do Estado, não-essenciais a essa função.

Desde então, como consequência, aumentaram-se drasticamente os impostos. Mas, apesar de pagarmos 15% de imposto de renda, 28% de INSS, 8% de FGTS, 21% de ICMS, 11% de IPI e mais 38 impostos, totalizando quase metade de nossos salários, nunca este país teve tanta exclusão e tantos problemas sociais como agora. Por isso, de alguns anos para cá tem crescido um movimento que acredita que talvez fosse melhor se a sociedade e a comunidade cuidassem da área social, diante da incapacidade do Estado de resolver essas pendências.

Cresce a cada dia o número de ONGs que advogam que a responsabilidade social é das empresas e não do Estado, e nunca se viram tantas atividades e resultados nesse setor como ultimamente, a ponto de estarmos publicando pela primeira vez uma edição especial da revista Veja dedicada à filantropia.

Cresce também a noção de que a responsabilidade social no fundo é do ser humano, do indivíduo, por meio do trabalho voluntário, da Filantropia, das fundações criadas por acionistas das grandes empresas. E é benéfico para todos que sejam assim. Uma sociedade somente será cidadã se seus participantes forem atuantes na área social de forma mais proativa do que simplesmente como contribuintes. Pagar os impostos sociais para o governo é um modo cômodo de não-envolvimento. Quando o indivíduo faz uma doação, ele descobre que a filantropia é um prazer e não somente uma obrigação. Se você nunca sentiu esse raro prazer, comece a descobrir as inúmeras formas de fazê-lo crescer. Se você é advogado, engenheiro, administrador ou um craque em recursos humanos, marketing ou nutricionismo, você pode se cadastrar em alguma instituição que precise de sua competência ou descobrir – no site www.filantropia.org, por exemplo- de quais profissionais algumas entidades estão precisando hoje mesmo. Se você nunca doou um tostão a uma sociedade beneficente, comece já com um donativo, por menor que seja. Faz parte do processo de aprendizagem. As estatísticas mostram que filantropia segue o ciclo de vida:

  • Quando jovem se é voluntário.
  • No início da carreira, o tempo escasseia, o dinheiro é curto e não se faz mais nada para o social.
  • Com a primeira promoção, começa o primeiro donativo, ainda pequeno, para a entidade do qual você deixou de ser voluntário.
  • As doações aumentam com os bônus e a ascensão na carreira.
  • Com a aposentadoria, volta-se ao trabalho voluntário, com mais responsabilidades.
  • Com a morte, vem a maior parte dos donativos, entre 5% e 10% do patrimônio como herança.

Nem todos entram na etapa 1 do ciclo de vida, mas o importante é começar.

Artigo Publicado na Revista Veja – Edição Especial: Guia Para fazer o bem. São Paulo: Editora Abril, ano 34, n. 51, p. 23, 2001

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