Você Tem Medo de Ações? Pense Novamente.

A maioria dos leitores deve achar uma maluquice as seguidas oscilações nas bolsas de valores. “Prefiro aplicar em imóveis, é mais seguro.” “Bolsa é para quem tem estômago, meu negócio é fundo DI.” “Bolsa de valores é um mercado de risco, estou fora.” Felizmente, a verdade é outra.

Todo dia, menos de 1% das ações é transacionado na bolsa. Na próxima vez em que você ler que “a bolsa cai 10% num dia de intenso nervosismo”, lembre-se de que 99% dos investidores nem tomaram conhecimento.

A maioria não vendeu suas posições, só os apavorados o fizeram.

Nem o 1% que vendeu em pânico necessariamente perdeu dinheiro, muito menos 10%.

Quem comprou ações dois anos atrás vendeu-as com lucro, mesmo que tenham caído no dia exato da venda. Portanto, por que tanta comoção?

Se, em vez de ações na bolsa, você tivesse comprado um flat service num bairro qualquer, um quadro do Scliar ou um livro raro de Camões, você nem saberia quanto o valor desses objetos oscilou nesse “dia de intenso nervosismo”.

Provavelmente, os preços desses objetos permaneceram na mesma, simplesmente porque ninguém comprou algo parecido no dia.

Na próxima crise financeira, tente vender seu apartamento, seu quadro, ou seu livro raro em cinco minutos, como se faz na Bolsa de Valores de São Paulo.

Você simplesmente não vai conseguir.

Não há Bolsa de Livros Raros, nem de Quadros Famosos, nem Bolsa de Flat Services com movimentação e preços diários.

Se você realmente precisar de dinheiro, provavelmente um corretor poderá vender o que você quer com 30% de desconto, anunciando o que se chama de galinha-morta.

O jornalismo econômico comete enorme injustiça com o mercado de ações.

Só porque a Bolsa de Valores é transparente, divulga tudo on-line, tem preços Minuto a Minuto, o que permite que os jornalistas tenham assunto todo dia, ela é retratada como vilã.

Isso não ocorre no setor de imóveis, de quadros, nem no de livros raros, que acabam parecendo muito mais seguros do que realmente são.

“Imóveis e quadros raros despencam 30% em dia de muito nervosismo, bolsa de valores tem queda muito menor” é uma manchete que nunca é publicada. Quadros, livros e imóveis ilíquidos num dia de nervosismo valem zero para quem precisa desesperadamente de dinheiro, mas isso ninguém divulga.

Como todo administrador financeiro saberá lhe explicar, o que varia de fato de um dia para outro é o preço que você paga para ter liquidez imediata.

O valor da Vale do Rio Doce não despencou 10%, ela continua valendo a mesma coisa, talvez 0,1% a menos nunca 10%.

Em dias de “intenso nervosismo”, é o preço por liquidez que aumenta, não é o preço da ação que cai.

Você poderia ganhar fortunas comprando nessas horas, oferecendo liquidez a gringos apavorados, mas, se você é levado a acreditar que o mundo está despencando, provavelmente sairá vendendo também.

Em dias de “intenso nervosismo”, o preço por liquidez poderá ir para 10% do valor da ação e 30% do valor do imóvel.

Só que 99% das pessoas se recusam a pagar esse preço por liquidez – preferem esperar que as coisas se acalmem, no que fazem muito bem.

O que ninguém noticia nessas horas de “intenso nervosismo” é que todo dia metade das pessoas está comprando o que a outra metade está vendendo.

A metade otimista compra da metade pessimista. Se incluirmos os 99% que continuam com suas ações, mostrando portanto certo otimismo com relação ao futuro, todo dia tem muito mais otimistas por aí do que pessimistas.

Na próxima vez em que você ouvir um comentário de que a bolsa é um mercado de risco, pense duas vezes.

A volatilidade da bolsa é bem menor que a dos imóveis, quadros e livros raros, justamente porque tem sempre alguém comprando, mesmo durante uma crise.

Do ponto de vista financeiro, a volatilidade de algo invendável num dia de “intenso nervosismo” é 100%, mas eu concordo que essa posição é um tanto polêmica, e nem todos irão concordar.

Meu ponto, porém, é outro: não é justo considerar alguns mercados “voláteis” somente porque permitem ao comprador vender tudo em questão de minutos, o que não ocorre com quadros, imóveis nem livros raros.

Ações de terceira linha também não têm liquidez imediata, e investidores dessas ações esperam dias melhores, como fazem os de imóveis e livros raros.

Mas isso não significa que sejam menos voláteis, simplesmente significa que nesses outros mercados não há cotações nem negócios realizados para virar manchete de jornal.

Editora Abril, Revista Veja, edição 1959, ano 39, nº 22, 7 de junho de 2006, página 24

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Comentários

11 respostas

  1. Investir em ações é interessante. Minha primeira experiência foi no início da crise financeira. Investi pouco, só para sentir como que era.
    No auge da crise as ações que comprei valiam 50% menos em relação ao preço de compra. Óbvio que fiquei chateado e preocupado com isso, porém não mexi no dinheiro, porém também não investi mais (meu maior erro). Passado alguns meses, com a bolsa já se recuperando, precisei resgatar o dinheiro, o que fiz com um pequeno lucro sobre o que investi.
    Acho que o segredo de investir em ações é ter paciência, pensar em investimento de longo prazo. Claro, para que se realmente tenha bons lucros com ações é necessário conhecimentos sobre o mercado, e saber analisar as empresas em que pretende investir. Na internet há vários artigos sobre o assunto e sites que facilitam a analise das empresas. Para quem pretende iniciar os investimentos em ações, a recomendação é de que pelo menos procure por artigos na internet.

  2. Senhor Kanitz… neste contexto/assunto… a percepção, para quem está fora do eixo R/SP é de que as informações são insuficientes/inadequadas,confiáveis(?)…? – Na percepão limitada que tenho sobre o assunto… o que entendo que talvez valesse a pena considerar neste processo é que fica muito esquisito aplicar renda/salário(???) de aposentadoria em ações/títulos de capitalização…sendo…sÓ para exemplificar…quando são produtos afertados a clientes a partir de metas de produção/recompensa para profissionais em instituições financeiras públicas(?) e privadas(?)…. Penso que seria prudente ter mais/melhores informações a respeito para que os resultados/consequências destas estratégias(?)/políticas(?)metas(?)bonificações(?) -(internas/externas) pudessem ser melhor avaliado(a)s.
    Bom dia… e boa votação. Obrigada.

  3. Para mim que não domino a área financeira, achei o artigo muito bom, equilibrado e otimista? Começo a pensar que aplicar uma parte de minha poupança em ações, como teste, pode ser uma escolha acertada daqui pra frente.
    Também gostaria de saber de onde vem seus números. O senhor conhece o dito popular … “existe a verdade, para tudo mais existe a estatística.”

  4. Olà
    Certa vez eu li que Warren Buffet comprou sua primeira açao com 15 anos. Mitologia a parte, sempre achei que investir em bolsa requer um minimo conhecimento de mercado, compra e venda, o saber ‘ler’ as oscilaçoes do mundo economico…hoje tenho 25 anos e ainda nao tive coragem de comprar nenhum desses ”papeis”….como posso fazer, começar…gostaria de saber qual caminho seguir???
    PS.:Seus artigos sao obras de arte 😉

  5. PRA VARIAR, SEU ARTIGO ATINGE O CENTRO PRINCIPAL DA QUESTAO : QDO VC VENDE UMA AÇAO , VC ESTA ALCANÇANDO O “PREÇO” DA LIQUIDEZ NAQUELE EXATO MOMENTO.
    O PROBLEMA D MERCADO DE AÇOES SE CHAMA ” CATEQUESE “, E SAO POUCOS QUE ESTAO DISPOSTOS A CATEQUISAR UM IMENSO UNIVERSO DE PESSOAS QUE NAO TEM A MINIMA NOÇAO DO MERCADO ACIONARIO.
    PRECISARIAMOS DE 1000 KANITZ PRA COMEÇAR TAL TRABALHO.
    INFELIZMENTE O TRABALHO QUE DEVERIA PERTENCER AOS CORRETORES[ EU FUI DURANTE 40 ANOS ] NAO é FEITO ADEQUADAMENTE ,UMA VEZ QUE HA UM CONFLITO DE INTERESSES.

  6. Mr. Kanitz,
    por um instante pensei em escrever que o Sr. estava sendo repetitivo, este post eu já li. Contudo, me lembrei do ditado “água mole em pedra dura …” e por isto retiro o que queria escrever e, em vez disto, colocar aqui minha visão.
    Além de investimento mais rentável no longo prazo, a perspectiva de um investidor no mercado de ações é bem diferente: enquanto em renda fixa você empresta ao banco que lhe paga um pouco por isto e …acabou, investindo em ações você se torna realmente sócio de um negócio e torce e vibra com ele. Afinal, a rentabilidade sua “aplicação” depende da rentabilidade da empresa e do crescimento dela. e mesmo quando ela desvaloriza um pouco, você ainda tem os dividendos. Já na renda fixa, o banco te paga e fica com todo o lucro.

  7. Investir na bolsa, precisa de conhecimento do mercado financeiro, além disso, paciência, pois os resultados não são imediatos, mas pela minha prática é um investimento que tem um rendimento maior, mas é para o perfil de pessoas arrojadas. Para os conservadores, melhor seria mesmo, aplicar em imóveis e Fundos DI.

  8. Se negociar com ações fosse coisa fácil de entender não teria centenas de pessoas tentando expicar isso TODOS os dias. E ha décadas!
    Já perceberam?
    Não tem como explicar, porque mexe com os limites íntimos de cada um. Quando voce realmente entende, percebe que montou uma corretora!!!!

  9. O Sr. Eduardo J. Di Pietro levantou a questão chave do mercado de ações: “conflito de interesses”, ou simplesmente “interesses”. Não me sai da cabeça que bolsa de valores é, parafraseando um velho ditado, um galinheiro, em que raposas negociam com galinhas num “mercado livre”. Leiam meu artigo http://ulisses.tenorio.zip.net/arch2009-01-18_2009-01-24.html#2009_01-21_13_33_51-134465519-0 sobre algumas verdades que levantei sobre mercado de ações.

  10. Muito bom Kanitz!!!
    Já investi em ações, mas pela opção de outra prioridade estou fora do mercado de ações no momento. Estando fora desse mercado sinto uma enorme saudade, pois é bom demais ver seu dinheiro lhe dar mais rendimentos em horas do que trabalhar dias, semanas, ou até meses. Tem dias em que se perde, mas com uma boa disciplina e uns bons livros no longo prazo o rendimento é garantido.

  11. Concordo plenamente.
    O mercado de ações é dinâmico, mas você precisa conhecer (estudar) a empresa antes de investir, para mim é o melhor investimento.

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