Noventa por cento do que se escreve sobre inflação trata-se de inflação por excesso de demanda.
Pela teoria quantitativa da moeda, uma das equações mais usadas em economia, M x V=P x Y, o aumento da moeda e circulação, aumentaria os preços.
Por isto economistas estão agora aumentando os juros, para reduzir a demanda e aumentar a poupança.
Só que nossa inflação agora não é de demanda.
Esta inflação é o que nós administradores chamamos de inflação da incompetência.
É o que ensina a Administração Econômica, uma área esquecida pelas demais ciências, com sérios prejuízos à compreensão do que realmente ocorre.
Vejamos o que ensina a Administração Econômica, o uso da ciência da administração para resolver os grandes problemas administrativos de nações.
Para produzir um único carro é preciso 4.000 peças distintas, produzidas por 4.000 unidades produtivas distintas, mesmos que algumas numa mesma empresa.
Se faltar uma única peça, exemplo do breque, as empresas não vendem o produto.
As outras 3.999 peças e os milhares de trabalhadores ficam parados.
Compare isto com o setor estatal, onde médicos atendem pacientes sem os instrumentos necessários, sem um estoque de 4.000 remédios, nem gaze há nos prontos socorros públicos.
O setor público não tem nenhum problema em oferecer serviços sem ter as condições ideais, afinal é tudo grátis.
E mesmo assim, 99% dos nossos intelectuais, jornalistas e artistas defendem um setor estatal, achando que um dia ele poderá ser eficiente.
Quando uma destas peças faltar, quanto você como Administrador da fábrica de automóveis pagaria por aquela peça, que custa apenas R$ 0,50 reais cada, mas está faltando?
Quanto você pagaria para uma empresa de autopeças parar de produzir peças para máquinas de cortinas, e usar aquela máquina para produzir a peça para o breque, entregue já?
Você pagaria R$ 1,00, R$ 2,00.
Você ficaria preocupado que isto irá repercutir mal nos índices de preços coletados por nossos economistas, e que pode comprometer a reeleição de quem quer que fosse?
Claro que não, é sua missão como Administrador Socialmente Responsável pagar mais por aquela peça, e assim produzir os carros, pagar os trabalhadores e os produtos das 3.999 peças restantes.
Isto será inflação sim, mas é uma inflação da incompetência daquele fornecedor, ou do departamento de planejamento da própria empresa de automóveis.
É uma inflação que precisamos ter, precisamos pagar, para podermos ter os produtos que necessitamos na quantidade certa no momento certo.
Aumentar os juros como sugere a Ciência Econômica, reduz de fato a inflação à custa deste pibinho.
As peças de cortinas continuam sendo produzidas e as peças urgentes para o breque não.
Aumentando os juros, as companhias de automóveis continuam a deixar de vender carros até a inflação cair na “Meta Inflacionária” determinada pela Ciência Econômica.
Só que no Brasil não falta somente peças para breque.
Falta infraestrutura, falta energia, falta porto, falta gente qualificada.
Ou seja, temos milhares de problemas acumulados, temos milhares de gargalos.
E a solução para um gargalo é aumentar o preço, não mantê-lo fixo com medidas Macro Prudenciais.
E tem mais.
Estes 4.000 produtores têm problemas de porto, de atrasos, de mudanças na taxa de câmbio e juros, têm problemas trabalhistas mais importantes para resolver do que um fornecedor que quer um pedido urgente, e temporário, para produzir x peças para breques, e para ontem.
A ideia que tudo é produzido na quantidade certa no momento pela mão invisível de mercado, que estes seguidores de Adam Smith acreditam, gera esta inflação de incompetência, que posso lhes garantir, continuará mesmo depois da eleição.
A Ciência Econômica não é a ciência que deveria estar norteando todo este país.
Por favor, pensem.
24 respostas
Sr Kanitz,
Sou leitor antigo dos seus textos, mas tem algo que volta e meia me incomoda. A sua interpretação da analogia da “mão invisível” de Adam Smith.
Temos um exemplo no próprio texto: “A ideia que tudo é produzido na quantidade certa no momento pela mão invisível de mercado, que estes seguidores de Adam Smith acreditam, gera esta inflação de incompetência, que posso lhes garantir, continuará mesmo depois da eleição.”
Entendo A “mão invisível” = ordem espontânea. http://goo.gl/vhmwmV
No seu texto, a empresa automobilística trocou a perda de 300% na peça ou R$ 1,50 por um ganho de, não sei, 15.000,00 no carro todo. Um pequeno trade-off mas não duvido que medidas serão tomadas para p.ex. trocar de fornecedor [se houver] ou produzir na própria empresa [se não houver fornecedor].
Isso é adaptação, ordem-espontânea, a “mão invisível do mercado”.
Sobre o Timing do mercado
Timing certeiro todo o tempo é algo inumano. A Prudência é o norte, mas cobrar que “tudo é produzido na quantidade certa no momento pela mão invisível de mercado” não é razoavel. “Tudo”!?
Há um preço pago para se antecipar. E há profissionais para isso. O Administrador responsável e o Especulador, o que tenta ver à frente e paga o preço quando se antecipa e erra.
Concluindo, me parece que a inflação de incompetência é uma inflação por erro no lado da oferta. Gera aumento de preço que move o lado da demanda a tomar medidas para minimizar esse aumento, como trocar de fornecedor ou produção inhouse ou só esperar a intempérie passar.
Kanitz, sou seu leitor assíduo. Muito obrigado pelas idéias compartilhadas.
Um grande abraço.
NÃO existe mão invisível! Existem interesses, ambições, jogadas. Quem tem mais, ganha mais e faz com que os outros se movam em seu favor (tipo 1% da população mundial deter quase 50% da riqueza).
Pô, de novo… Tá ficando chato.
Tanto um, como outro, são coisas relativas, quando se coloca os seres humanos no meio… A natureza funciona de um jeito sem os seres humanos. Com os humanos e seus interesses difusos, a história é outra…
Kanitz, ainda bem que o senhor foi demitido do ministério da fazenda, senão teríamos na época uma taxa de inflação 1000% maior…rs…um ponto é que o senhor matou as aulas de introdução à economia e não entendeu ainda o conceito de mão invisível (dica: wikipedia)…política monetária não combate mudança de preços relativos e sim de elevação generalizada de preços. Mudança de preços relativos é o que vai levar a uma melhor alocação de recursos/fatores de produção.
NÃO existe mão invisível! Existem interesses, ambições, jogadas. Quem
tem mais, ganha mais e faz com que os outros se movam em seu favor (tipo
1% da população mundial deter quase 50% da riqueza).
Argumento de esquerdopata!
rótulos por direitopata!
Kanitz, o senhor está ensinando administração irresponsável das nações?
Depende do ponto de vista:
‘Um governo, uma nação inteira, torna-se assim refém das mandíbulas dos
mercados, cuja supremacia e capacidade de coerção só podem ser
afrontadas pela ação da cidadania armada de discernimento crítico e
liderança desassombrada.’ in http://cartamaior.com.br/?/Editorial/Quando-o-governo-faz-a-diferenca/33125
Esquerdopata no Blog, pode isso Kanitz?
Se você leu a matéria do link, vai ver que Roosevelt, comunista safado, tomou decisões para lá de equivocadas para resolver o problema naquele país fuleiro chamado EUA.
Já em relação ao esquerdopata (odeio rótulos), creio que você esteja equivocado. Mesmo que eu o fosse, Prof Kanitz, como sempre, lidaria com a situação muito tranquilamente.
Adoro colocar rótulos, principalmente em esquerdopatas enrustidos!
Prof .. sempre achei o plano de ajuste do ministro da fazenda um plano manco: aquele que vai proporcionar condiçoes de voltar a andar correto por algum tempo nao sem antes massacrar a sociedade classes F, E e D. ja a nova classe C por indignação vai para as ruas e as B e A continuam impavida$.
esperava dele algo moderno, algo seculo XXl, com uma visao ampla e sistemica. mas ele deixou para tras algo como enxugar a maquina estatal nas tres esferas de governo e nos tres poderes. aqui sim um “maná” para reduzir gastos com geradores de burocracia.
desconsiderou os ganhos do setor mais consistente do sistema solar: o bancario, que tem plenas condiçoes de liberar uma “contribuiçao de melhoria” para a area de saude … e nao vai lhe fazer falta.
tambem nao entra na seara dos “bem de vida” que alem de ter folego para pagar 35 ou 40% de imposto de renda na fonte, nao sao chamados a participar de uma melhor distribuiçao de renda com o tributo de grandes fortunas.
vale dizer: fazer ajuste fiscal massacrando a classe trabalhadora é coisa do passado. mas o diabo é que a classe rica só enriquece com o trabalho da classe trabalhadora.!
Quanto comentário sem nexo
Inclusive o artigo!
Não achei o artigo sem nexo. O que o Kanitz quis dizer é que, quando um peça de um produto falta, e a empresa que faz esse produto é obrigada a pagar mais caro pela mesma peça de um outro fabricante, isso gera uma inflação pela incompetência desse fabricante que não conseguiu produzir a peça na quantidade e/ou tempo necessário.
O problema do Brasil é que essas peças que não são fabricadas na quantidade/tempo necessário, não é culpa somente de empresas incompetentes, mas sim de um governo que não provê condições minimas necessárias para que as empresas se mantenham competentes, ou seja, se falta uma peça para compor determinado produto, alguns motivos como falta de portos e altos impostos, que acaba inviabilizando a importação de alguns materiais ou aumentando os custos da importação, fazem os produtos finais aumentarem o preço. O mesmo acontece com cada parte da cadeia produtiva que é de responsabilidade do governo. E por isso ser algo em escala nacional, não atinge somente uma empresa, atinge todas as empresas, o que aumenta o preço do todos os produtos.
Concluindo: a inflação alta demais que estamos vendo hoje em dia é culpa da falta de infraestrutura no país, e também das altas taxas e burocracias que o governo é incompetente para melhorar, logo não adianta aumentar os juros para controlar a inflação, pois essa não é uma inflação por demanda, e a alta nos juros somente servirá para estagnar mais a economia. Por isso ele termina o artigo dizendo que a Ciência Econômica não é a melhor para nortear o rumo do país, e sim a Ciência Administrativa (isso está implícito).
Essa inflação de incompetência é o que a teoria econômica chama de inflação de custos, não é uma novidade criada pela ciência administrativa. Há muito material sobre isso na economia. Não é só política de juros que atenua inflação, tem a política fiscal também. Peço para o autor mostrar como se resolve o problema da inflação de outra maneira, com raciocínio encadeado. Esse raciocínio do Kanitz só serve para uma autocracia e sem nenhuma restrição no bem estar dos habitantes com relação à inflação. Como se coloca isso na prática? Qual é a viabilidade política e orçamentária? O autor critica os marxistas (merecidamente), mas comete o mesmo ufanismo deles…
Na verdade utopismo!
O ponto que o Kanitz quer chegar é que sempre se olha somente por um ponto de vista. “A inflação tá alta? OK, então vamos alimentar os juros”. Ninguém no governo se importa em procurar outras soluções. Na verdade não há pessoal competente no governo para avaliar outras soluções, muito menos para aplicar essas soluções. Essa é a grande crítica do Kanitz, a falta de competência do governo em buscar melhores soluções, tentando seguir velhas receitas que, no caso atual, fazem mais mal do que bem, e o que é realmente necessário, criação de infraestrutura por exemplo, é tratado como algo desnecessário pelo governo. Por isso ele diz que a inflação que temos agora é uma inflação de incompetência.
Penso que o objetivo do Kanitz nesse site não seja apontar soluções, muito menos dar uma receita mágica de como resolver os problemas do Brasil. O que ele quer com seus textos é nos fazer pensar (notou a última frase “Por favor, pensem.”?). O que o Brasil precisa são de pessoas que pensem por conta própria, que busquem soluções fora da caixa, que não fiquem somente nas ideias que os professores universitários dizem ser as melhores. Enquanto o povo brasileiro não aprender a pensar, o país não terá um futuro promissor.
Tiago, nesse sentido não há novidade para mim. Infraestrutura todos os economistas sabem que é necessário, que a falta disso gera custos para o produto nacional. Há um consenso dos benefícios dos gastos em infraestrutura para o crescimento de longo prazo de um país. A maioria dos economistas e estudiosos de políticas públicas sugerem investimentos em infraestrutura (inclusive estudos de organismos multilaterais, como o FMI). O problema é quando se bate na restrição orçamentária e externa de um país, como foi essa aposta brasileira absurda no modelo de consumo. O atual governo fez com que o nosso país batesse nessas restrições e infelizmente só há remédio amargo nessa situação…É ótimo pensar a esse respeito, concordo, mas não dá para desprezar o conhecimento acumulado ao longo dos últimos anos. Temos que levar isso em consideração, para pensarmos e possamos escrever o capítulo 2 do livro. Eu estou ansioso para passar para o capítulo 2, mas o PT continua na cartilha da Zazá, repetindo os erros dos anos 70.
Mas esse “Conhecimento Acumulado” só tem uma variável: Aumento da taxa de juros…!
Ignorância sua!
E preguiça de ler…
Prof.
continuamos a andar em circulo no ramo da administraçao publica.
nao fazemos P D C A, do Total Quality Control.
P de planejamento, D de executar o plano, C de checagem e A de agir no desvio.
o status quo está enraizado desde 1500. parece discussao sobre quem veio primeiro o Ovo ou a Galinha.
enquanto nao reduzirmos o tamanho do Estado (inclusive burocracia) faremos voo de galinha. o Brasil só cresce por insistencia de alguns patriotas e algumas empresas que usam metodologias de administraçao parecidas com o PDCA.