“Seminário Marx marcou época com nova prática de estudo” escreve Paloma Rodrigues, no site da USP.
Por Paloma Rodrigues – paloma.rodrigues@usp.br
A idealização do grupo, ou a expectativa a respeito dele, foi encontrada em uma carta de Giannotti para João Cruz Costa, professor catedrático na Filosofia.
Giannotti estava na França, encantado com a efervescência acadêmica que acontecia por lá.
Um trecho da carta, datada como “Paris, 28/10/1957″, dizia: “Adotei uma divisa: estudar os alemães modernos à moda francesa. Vamos ver o que vai dar. Afinal o nosso barbudo era alemão (judeu) e ainda vamos lê-lo no original”.
Fica clara a disciplina com a qual o trio (Fernando Henrique Cardoso, José Arthur Giannotti e Fernando Antonio Novais) formulou o grupo.
Eles resolveram convidar outros amigos para participarem das rodas de leitura, pois sabiam que várias áreas eram contempladas no livro e que elas precisariam ser trabalhadas na discussão.
Se deram conta, então, de que precisavam de economistas, conhecedores da língua alemã, e assim por diante. Antes disso, os textos de Marx eram lidos individualmente ou de maneira dispersa, em disciplinas específicas.
“Florestan Fernandes e Antônio Cândido trabalhavam Marx em sala de aula, mas para fins específicos de sua disciplina [Florestan na Sociologia e Cândido na Crítica Literária]. Isso influenciou muito o grupo, mas eles se esforçaram para formular questões que ultrapassassem a segmentação das disciplinas.”
É importante lembrar que, no período, a faculdade se chamava Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) e ficava na rua Maria Antônia.
“O ambiente era muito mais restrito do que é hoje. A circulação de alunos era menor, o convívio era mais intenso e quase todo mundo se conhecia”, conta.
Dentre os novos membros estavam Ruy Fausto, Bento Prado Jr, Roberto Schwarz e Paul Singer.
Rotina do grupo
As reuniões aconteciam quinzenalmente e em âmbito privado, sendo realizada cada vez na casa de um dos participantes.
Analisando o quadro de membros, Lidiane notou que em cada grande área (crítica literária, filosofia, história e sociologia) só permaneceu, de fato, um único representante.
Apesar de haver um forte senso de colaboração entre as partes, também pode se notar certa disputa dentro de cada área. Também ficou claro que o trio tinha posição de destaque.
Eles eram vistos quase que como mentores das discussões.
Em 1964, o grupo para de se reunir.
FHC tem de se exilar por conta da ditadura. “Ele era uma figura de destaque e, sem sua presença, as reuniões passam a ser cada vez menos constantes. Ainda assim, o seminário continua influenciando suas pesquisas individuais”, diz Lidiane.
Todos eles seguiram a linha da correlação entre o capital e o sistema escravagista brasileiro.
Cada um em sua área tentou trabalhar o nexo entre o capitalismo brasileiro e a herança escravista.
A “academização” do estudo d’O Capital foi extremamente importante para a vida da universidade e também para o marxismo brasileiro.
O seminário marcou época e até hoje desperta muita curiosidade.
Isso porque sua herança não se esgota nas teses, mas no estabelecimento de uma nova prática de leitura.
Algo para se pensar, especialmente se você era do PSDB.
Uma resposta
Não sou um defensor do FHC, mas qual o problema de se estudar alguma obra? O entusiasmo do grupo era pela forma de discussão trazida por Giannotti da França. Além disso, o grupo não se limitava a estudar Marx. Outra coisa interessante que já li em livros do FHC, é que o comunistas “sequestravam” as palavras de Marx e usavam e interpretavam como bem entendiam. Qual o problema em dissecar uma obra e concluir quanto a sua mensagem? Seja ela positiva ou negativa?