Por Um Brasil Bem Administrado

Sempre defendi Henrique Meirelles, porque ele representava o início de um Brasil bem administrado, honesto e socialmente responsável.
Como ele, existem hoje mais de 5.000 executivos competentes, ex-presidentes e ex-diretores das 1.000 maiores empresas brasileiras, que estão aposentados aos 60 anos de idade, mas com muita energia ainda para oferecer.
São relativamente ricos, com filhos encaminhados, que gostariam de contribuir para o social, doando 3 a 4 anos de suas vidas para um cargo público.
Trariam experiência, pois sabem melhor do que ninguém os problemas que travam nosso crescimento. Seriam muito mais honestos porque já são relativamente ricos.
Acreditem ou não, estes aposentados querem fama e não mais grana.
Querem sair da aposentadoria, querem ser úteis novamente, querem fazer algo pelo país.
Aceitam o salário baixo do serviço público, em troca dos holofotes que perderam.
Prefiro vaidade com competência do que vaidade com incompetência, que é a situação em que estamos.
Estes 5.000 não procuram o poder, não fazem o lobby que políticos fazem para obter um cargo para um filho ou amigo numa estatal, e por isto não são convidados.
Estes 5.000, pelo contrário, acham que precisam ser convencidos a sair da aposentadoria, acham que estão nos fazendo um favor, o que é verdade, e por isto precisam ser procurados e seduzidos.
A decisão de Meirelles de aceitar ser Presidente do Conselho da JBS, e não vice prefeito de São Paulo, me sugere que ele se encheu de servir o Brasil.
Embora digam que ele talvez volte, sendo agora Presidente de uma empresa com problemas financeiros que vende carne ecologicamente incorreta, esta possibilidade de volta à esfera pública acho que fica descartada.
Especialmente sabendo das opções que Meirelles possuía, uma das quais era a de ser Conselheiro de um enorme fundo de Private Equity, que seria desenvolvimentista, nacional, gerando empregos e produtos para o Brasil.
Como Mitt Romney, futuro candidato republicano americano.
Os 4.999 executivos que continuam na espera, vão esperar mais 40 anos. Infelizmente, meu sonho para o Brasil terminou.
Um sonho que não ocorrerá na minha vida.
Pena!
O eleitor brasileiro não quer executivos já realizados, ricos suficientes para se preocupar com os outros e não com suas finanças pessoais. Nossos colunistas de jornais e revistas não defendem que administradores experientes sejam convidados a serem Ministros. Nossos jornalistas e blogueiros econômicos não querem administradores testados implantando teses da Economia Administrativa, que permeiam este Blog.
Administradores com cabelos brancos, que não permitem os problemas acumularem, em vez escolhermos sempre jovens de 30 anos, acadêmicos idealistas mas ingênuos, que vão para o Governo adquirir experiência e depois nunca mais largam o poder, vide Serra.
Digo, Por Um País Bem Administrado, porque praticamente ninguém reconheceu a importância deste “paradigma” Meirelles.
Ninguém elogiou a decisão de Meirelles de apoiar o PT, uma decisão difícil para um executivo de um banco internacional e um deputado do PSDB.
Ele fez muito para o Brasil, mas todos os formadores de opinião ou ficaram em cima do rumo, ou o atacaram brutalmente.
Publicando fotos insinuando que ele possuía somente um olho,por exemplo.
Uma decisão não tão difícil, se você é um Administrador da Escola Socialmente Responsável a qual ele pertence, que sabe que servir os outros não é uma traição ideológica, mas sim uma obrigação moral.
Meu último artigo na Veja foi um elogio direto a Meirelles, “Administradores de Esquerda”.  Queria mostrar que ele seria um grande sucessor a Lula, ou um excelente Vice. Nem a Veja percebeu o que estava em jogo, e fui retirado de cena.
Meirelles tem toda a razão de desistir. Eu também.
Algumas ideias estão muito a frente de seu tempo, como a de sermos um país honesto, eficiente e socialmente responsável, que não é o objetivo da “elite” brasileira.
 

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Comentários

16 respostas

  1. Lastimável a saída de Meirelles da vida pública. Lastimável também a saída de Stephen Kanitz da Veja, alguém que tinha brilho próprio na revista. Com certeza a revista perderá leitores.

  2. Kanitz, gosto dessa idéia. Nas tribos indígenas os pajés e os conselheiros que aconselham e conduzem a comunidade sempre são os mais idosos e, portanto, os mais experientes e que enxergam mais longe.
    Precisamos urgentemente valorizar nossos “pajés”.
    Gostaria de fazer uma resalva na seguinte frase :
    “Seriam muito mais honestos porque já são relativamente ricos.”
    A frese obviamente faz sentido no texto mas honestidade e riqueza nem sempre andam juntas seja a riquesa construida ou de berço. Pergunte ao Dr. (?) Maluf.

  3. Kanitz,
    No final do seu texto vc se refere à “elite” brasileira. Pergunto: que elite? A pergunta parece-me pertinente pois a expressão é genérica e permite diversas interpretações. Por exemplo, para mim, a elite brasileira do momento é a do PT, formada por um bando de arrivistas, em boa parte egressos de sindicatos, ávidos por uma boquinha. E para vc, especificamente, que grupos compõem essa tal de “elite”?

  4. Lamentável mesmo. Mas o principal problema é que a organização política do estado brasileiro não permite o aparecimento de pessoas, líderes competentes.E fomenta discussões mesquinhas e bobas tipo petralhas x tucanalhas.Precisamos do VOTO DISTRITAL urgente para COMEÇAR a reforma dos Legislativos, constituição e do Estado brasileiro.

  5. É realmente lastimável q Henrique Meirelles tenha se aposentado. O Brasil perde muito mesmo. No princípio, não prestei muita atenção qdo ele assumiu o Banco Central. Mas, com o passar do tempo, percebi q o Meirelles era (e é) um administrador e gestor de qualidade máxima, um verdadeiro “nota 10”, como vc parece ser Kanitz. Perdemos mesmo. Pena q nesse particular, o Brasil é um perdedor nato e ninguém ainda “acordou” para reagir com atitudes firmes e começar a mudar esse quadro de amadores no poder.

  6. Henrique Meirelles foi um grande presidente do BC, trouxe o nosso juros para níveis civilizados, controlou a inflação, estocou reservas e liberou 100 bilhões de depósitos compulsórios para evitar a falta de crédito na crise internacional. No entanto é preciso reconhecer que o marketing pessoal não é o seu forte, é pouco carismático, ri pouco e nunca exaltou os seus feitos. E as maiores críticas a sua gestão vieram da base do governo e não da oposição. “Meirelles não baixou os juros em 2008 como deveria”, é o mantra dos blogs esquerdistas.
    Assim mais uma vez os economistas, que você tanto critica, tomaram a dianteira. Temos uma presidente economista, um presidente do BC economista e um minstro da Fazenda economista. Na oposição os dois principais líderes, Aécio e Serra são economistas, e as cabeças pensantes do PSDB, que se apresentaram num congresso no Rio de Janeiro recentemente, são todos economistas.

  7. Caro Kanitz,
    Se para você o sonho de ver em vida o Brasil liderado por administradores terminou, para mim o seu blog é um importante ponto de reflexão, de mudança de pensamento. Pena que um número pequeno de pessoas apreciam uma leitura tão lúcida e tão inovadora. Além de pretender cursar uma pós-graduação em Administração no futuro, onde eu for levarei a sua mensagem.
    O Brasil precisa de administradores no serviço público que conheçam o outro lado do balcão, que lideraram empresas com sucesso no setor privado, que sabem as reais carências e defeitos da economia no mundo real.
    Pode ser que a eleição de Mitt Romney nos EUA e uma eventual boa administração dele (se for eleito, claro) tragam um pouco os holofotes para a Administração.

  8. Respeitável Prof. Kanitz
    O setor público Brasileiro perde, mas quiçá o Agronegócio alavanque com a experiência do Dr Henrique Meirelles, haja visto que o Grupo JBS é mundialmente o maior no segmento carne bovina, tendo investimentos no segmento lacteos, “VIGOR”. Desejo sucesso na nova empreitada ao Dr Henrique Meirelles, quanto ao nosso BRASIL, se o ditado for certo que “DEUS É BRASILEIRO”, espero que Vossa intervenção seja justa na escolha e perfeita para o cargo daquele que vier assumir. O Povo Brasileiro precisa de guias experientes e experimentados na condução do Nosso País. A “Elite” interpreto como aqueles que detem o conhecimento e ricos, os de boa vontade para se cumprir o que é necessário. O Brasil está carente de homens de bons costumes em toda a estrutura pública. Homens honrados, como o Sr expos no texto, tornam-se temerosos por serem execretados pela hipocrisia da atual politica nacional, que atualmente está uma politicagem nacional.

  9. Bobagem, nos EUA, o voto distrital levou a níveis absurdos de partidarismo, incluindo o fiasco do debate da elevação do teto da dívida. Mesmo os americanos dizem que nas eleições o pork barrel é rei devido ao sistema de distritos. Adotar o voto distrital-ainda mais só porque quem perdeu as eleições passadas está com dor-de-cotovelo, o que seria o caso agora, com a Veja defendendo o voto distrital porque, segundo ela, a oposição teria tido mais votos em 2010- só pioraria os problemas de desperdício de recursos públicos e corrupção.

  10. Meirelles foi um dos poucos profissionais, de verdade, no que foi incumbido, dentro do Governo. Ele foi presidente do Bank of Boston. Experiência profissional de sobra. Normalmente os “esquerda” vão dizer que ele é um profissional de banco privado, etc, mente que só vê lucros. Muito bom eu digo. O Brasil agradece. Ele fez com que o Brasil conseguisse reservas nunca antes havidas. Manobrou as reservas do BC na compra de dólar durante o “vai e vém” em 2008-2009 magnificamente. Comprou grandes quantidades de dólar na baixa, queda deste, na época em que o Brasil recebia maiores ratings no que diz repeito a investment grade. Depois quando estourou a bolha ele tinha reservas suficientes para na alta do dólar, segurar esta moeda e fez mais caixa para o BC.
    Enquanto as Sadia’s, Aracruz da vida se afundavam com prejuízos imensos por operarem com hedge, o Brasil, o BC operava com lastro. Parabéns ao Meirelles.

  11. Bom dia Kanitz
    Sou da turma da Joice Hasselmann onde assisti a sua elucidação sobre o Bitcoin. Há uns meses comecei ler sobre o assunto mas nada como ouvir alguém em que a gente já conhece seu trabalho. Tenho algumas dúvidas sobre o Bc…mas vou me ater a uma só , por enquanto … como movimentar a conta sem a participação da corretora? .

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