Todo país precisa de pessoas pensantes de várias disciplinas para, juntas, encontrar soluções para suas aflições. Os Estados Unidos devem muito a seus think tanks, como Brookings Institute, NBER, Russell Sage Foundation, muitos criados em 1910 e que contribuíram para o desenvolvimento do país.
Leiam The Idea Brokers, de James A. Smith. Talvez seja por isso que o Brasil está à deriva, sem rumo e sem projeto.
Pesquisem os sites de nossas principais universidades e procurem as “soluções para a corrupção”, soluções para os juros altos”, “ soluções para a questão da previdência”, “soluções para fazer o Brasil crescer”.
Quando muito, encontraremos papers de um professor ou outro, raramente uma solução multidisciplinar incluindo direito, economia, administração, demografia, sociologia, medicina, atuária, só para citar as áreas que deveriam se reunir para achar uma saída para a previdência, por exemplo.
Nossos planos de combate à inflação não foram criados por universidades com o concurso de psicólogos, contadores de custos, administradores, advogados, publicitários, economistas de várias escolas, como deveria ter ocorrido.
O mais dramático dos planos, o Plano Collor, foi elaborado às pressas por três professores acadêmicos enfurnados num hotel.
O cerne do conceito de universidade é justamente congregar intelectuais num mesmo lugar ou “universo”, para que eles pesquisem e proponham soluções em conjunto.
Quando eles assinam algo em conjunto, são muitas vezes abaixo-assinados com platitudes como “precisamos aumentar os gastos com a educação”.
Nossos intelectuais, com notórias exceções, têm muita dificuldade para desenvolver trabalhos em grupo. A grande maioria é no fundo individualista, egocêntrica, vaidosa e persegue seus interesses pessoais de pesquisa. Muitas das qualidades que eles próprios criticam e odeiam.
No setor privado, quem não sabe trabalhar em equipe ou em grupo não mantém o emprego nem um dia sequer.
Não é esse tipo de intelectual de que o Brasil desesperadamente necessita. Intelectuais custam caro.
Sustentá-los para que fiquem pensando por nós nas faculdades é um luxo que somente países desenvolvidos têm condições de custear.
Num país pobre, eles precisam justificar cada centavo que o povo neles deposita. Um recente estudo da OCDE mostra que o Brasil é o país que mais gasta com universidades e não tem o retorno que deveria.
Este silêncio, essa flagrante omissão no especificar soluções multidisciplinares, em entrar nos detalhes, a tendência de ser simplesmente contra alguma coisa, não justifica o salário.
Corremos o risco de o povo, os políticos, os governantes, não mais acreditarem na manutenção da classe intelectual
Editora Abril, Revista Veja, 27 de setembro de 2006, página 24
16 respostas
Bom dia Stephen!
Realmente um texto que, passados 4 anos, continua atual. Concordo totalmente com o exposto, exceto num ponto: NENHUM candidato ao governo federal tem um projeto a ser apresentado. Concordo com a menção ao PSDB, mas sob o PT afundamos num mar de corrupção e impunidade incomensurável, e o PV, como alternativa, tambem não mostrou absolutametne nada. Sem dúvida, Stephen, e por este motivo concordo com seu ponto de vista, o texto expõe o que o Brasil precisa: ADMINISTRAÇÂO, porém para chegar lá precisamos ainda nos despir completamente da poluição ideológica que que nos cega e diminue nossa classe intelectual até quase a insignificância.
Abraço.
Caro Kanitz,
Suas ideias em economia são sempre instigantes, bem diferentes. Elas não são ortodoxas, heterodoxas, keynesianas, monetaristas, desenvolvimentistas ou o que for.
Defende em vários artigos o fim do que chamou Escola Nominalista e que nenhum economista entende a necessidade da correção monetária na contabilidade pública e privada e que conceber juros nominais é um absurdo.
No princípio apontou os juros baixos nos EUA como fator preponderante da crise do subprime, mas em recente post culpou o excesso de confiança da cultura americana, e não seu colega da faculdade Henry Paulson ou Greenspan.
Nesse artigo parece apoiar a manutenção dos juros elevados, ou que assentar que eles não seriam tão maléficos quanto os intelectuais pensavam.
Preconiza com veemência a importância dos administradores, segundo o que eles é que deveriam governar o país, razão pela qual defende Meirelles e Marina (já que ela tem um vice que é administrador da Natura).
Há muitas outras concepções que tenho lido em seu blog. Acho interessante tudo o que tem dito, a abordagem que dá a determinadas questões.
Também li com certa tristeza quando publicou que havia menos leitores seus que Miriam Leitão (uma economista que considero com pouca capacidade de reflexão e cheia de pré-concepções).
Gostaria que soubesse que seus posts a respeito de otimismo e família me inspiraram e outras em economia me fizeram re-pensar as coisas, talvez nem sempre concordar. Não pretendo ser político, nem vou ser um administrador, mas saiba que você tem contribuído para o Brasil.
Sucesso.
O texto não toca no problema número um das universidades brasileiras, que é o seu sequestro pelo Marxismo.
O PSDB perdeu porque não se coloca como alternativa ao Marxismo lulista. Quer ser uma cópia, e cópia sempre perde para o original.
Sr Kanitz , está na hora de o senhor sair de cima do muro.
O problema do Estado brasileiro é seu tamanho: só para sustentá-lo, gasta-se 40% do PIB… Até quando toleraremos isso?
Caro Stephen,
A atualidade do texto de 2006 deveria impressionar mais aos leitores porque deriva de uma cultura que tem se mostrado atávica a mudanças urgentes , e isso porque os intelectuais preferem a zona de conforto descrita. Cultura começa com Valores e entendo que neste ponto temos sido , no Brasil , de há muito , relapsos em cuidar de Valores que construam uma cultura que sustente uma sociedade próspera e mais justa , livre e inclusiva , portanto em constante evolução deliberada onde o compartilhar do conhecimento seja uma das formas de manter os Valores que resultem ao final em comportamentos sociais observáveis que sejam dignos de uma nação privilegiada com tantos atributos naturais e de origens étnicas como nosso Brasil.
Sua forma de nos fazer refletir fora das caixas do conhecimento convencional é muito importante e uma excessão feliz na nossa mídia e academia.
Parabéns e obrigado.
Tem um lado histórico que nunca é abordado para analisar e, se possível, achar uma solução aos problemas brasileiros.
A seguir minha posição:
?O que se passou de 1500 até 2002?
A primeira palavra a entender, é “aristocracia”. A aristocracia é um estado onde se prioriza o legado, a herança… O patrimônio passa de pai para filho sem quase nenhuma possibilidade de distribuição.
Claro, esse estado concentra as riqueza entre pouquíssimas pessoas e a força trabalhadora não tem valor nenhuma.
No primeiro mundo, esse estado perdurou até o século 18, as revoluções francesa, americana e outras colocaram um fim nesse estado monstruoso com a implantação de regimes republicanos.
Portugal, muito distante dessas revoluções, pouco participou e, importou, implantou essa coisa
lamentável (aristocracia) no Brasil e assim FICOU até 2002.
Por favor,
?o que tem de democrático um Maluf, um Collor, um barão do café, um regime militar, a escravidão, dívida externa, FMI, dependencias em relação ao Portugal, Inglatera, USA etc… ?
A república, é o inverso, nada de legado mas sim é valorizado a pessoa e seu trabalho… As pessoas passam
a poder ter controle sobre os seus destinos. Nada de realeza ou outros bichos para impor….
Falando de escravidão, gostaria de lembrar que uma família que vive com um ou dois Salário Minimo (SM), ficar mais em conta para um aristocrata de que comprar e manter um escravo!
Para responder a pergunta…
?O que se passou de 1500 até 2002?
NADA…
40% da população vive com um ou dois SM ou pouco mais sem acesso a nada (instrução,saúde, transporte etc…) O povo é manipulado e continue sendo explorado.
É verdade de uma forma mais subtil… Tem que evoluir um pouquinho… né?
O Brasil continue totalmente aristocrático…
Só mais uma coisinha… apareceu no Globo (jornal).
Um gráfico em primeira página do Globo (maio 2010) mostrava uma reta assustadora do crescimento da dívida interna em valor real. Só que, em pequenininho, tinha
a relação PIB/Dívida. (é o que vale)
Conclusão: de 2002 até 2010, a relação passou de 62% para 64% (só 2%)
Como o gráfico começava em 2000 (FHC) deu para ver que entre 2000 e 2002 a relação passou de 54% para 62%.Quer dizer que em 2 anos, FHC endividou 4 vezes mais o Brasil que o Lula em 8 anos…
Fácil, com bolsa esmola e seguro desemprego. Fica fácil entender porque os pobres preferem votar no Lula. Trabalha 1 ano e fica metade sem trabalhar. Depois de 1 ano já começam a fazer corpo mole, para ser mandado embora, sacar fundo de garantia e mais uma porrada de coisa.
Vai na periferia durante o horário do expediente e o que se ve? Um monte de gente na rua fazendo nada o dia inteiro.
Já quem faz as coisas direito, bom tem que pagar escola particular para os filhos, convenio médico, seguro de carro, pedágio, guardinha da rua, IPTU, IPVA, Já viu quanto é o imposto da conta de telefone, na de luz e na de água. Na telefone paga-se uns 20 conto referente a iluminação pública.
Intelectual quando vai para o governo, vira a casaca e o pior nem roubar direito sabe, porque é pego. (Dá ala intelectual do PT não sobrou ninguém).
Dr. Stephen. Mais um brilhante texto e concordo com alguns comentários que se referem a perda do discurso socialista. Ora, se o socialismo faliu, seus seguidores tambem ficaram sem bandeira e terão que rever seus conceitos como terá que fazer toda a oposição.
O meu medo é o caminho que o Brasil vai trilhar, onde a educação não é prioridade, na era do conhecimento.
É o fim da picada.
Sr Kanitz, sou formado inicialmente em contabilidade e concluí o curso na década de 1970, época do regime militar. Não vi essa destruição da carreira que o Sr relata. Trabalhei 3 anos na iniciativa privada, com bom salário e depois fui aprovado em concurso da Receita Federal. Fora isso, gostei do seu artigo.
A resposta a pergunta porque Serra perde novamente a eleição está em outro de seus artigos, o “Em defesa da classe média”. O governo Lula corrigiu a tabela do IRRF;ofertou vantagens ao funcionalismo publico federal, como auxílio saúde; aumentou salário de professores federais (no segundo mandato não houve greve); as obras do PAC ressuscitou profissões como a de engenheiro e arquiteto; incentiva o agronegócio com pesquisa e financiamento; os eventos internacionais incentiva o crescimento do setor hoteleiro e de pólos de lazer; a indústria automobilistica e de eletrodomésticos se sustentam no crédito barato para a classe média, apesar dos juros altos.A classe média ligada a esses setores é quem vai votar na continuidade do PT no poder nesse país. Ao contrário os intelectuais do PSDB no governo aplicaram um modelo econômico copiado dos centros financeiros mundiais, ditado pelo Banco Mundial e que na prática faliu a economia mundial.
Parece ter sido escrito para os dias de hoje!
Bem :mas vejamos o comportamento do povo brasileiro a maioria é pobre tanto materialmente quanto educacional e estes não precisam de muito para agrada-los não! Um ‘assistencialismo” foi o bastante para cativar a maioria e receber em troca os votos que podem deixa-los muito anos , ou enquanto a figura de um presidente que se “comporta com um representante das massas no poder” a figura do PSDB esta muito desgastada sempre que ocuparam o poder pensavam primeiro em si e depois no povão, o caso de Serra é um exemplo disso, Aecio poderia ter fortalecido a campanha do PSDB , tivesse aceitado ser seu vice, mas a “ganancia politica” falou mais alto em seu “ego” e “dentro do PSDB existem muitos homens com esses egos”o que vemos hoje é um PSDB dividido não oficialmente , pós eleições talves ,isso se confirme oficialmente, quanto ao PT enquanto Lula continuar com suas “falas de povão” mesmo tendo dado a mão ao que de pior existe na politica brasileira ,e a economia continuar estavel e “assistencialismo” se mantiver tem tudo para continuar…..
Certos intelectuais brasileiros, calados, ainda estão errados.
São vaidosos, de uma empáfia de fazer pena. Precisamos de cepas melhores de brasisleiros, homens/mulheres e, isto, só o tempo poderá nos dar às custas, ainda, de muito sofrimento e aprendizagem.
Por enquanto, ficamos com LULA; é melhor para o Brasil.
BOA NOITE GOSTARIA DE SABER QUAL É A CONCLUSÃO E A IDÉIA NOVA APRESENTADA A ESSA CONCLUSÃO …OBRIGADA PELA ATENÇÃO
“O que mais gasta” . Os professores de federais ganham 20 vezes o que se ganha um do ensino médio de escola pública, muitas vezes mal preparado, o que implica numa também má preparação dos alunos que não conseguirão competir com os de escolas particulares por uma vaga nas melhores universidades, e agora o mais excludente projeto, de enviar jovens para estudar por um ano no exterior, tem que estar numa federal, passar por uma prova e ser apto no idioma do local que irá estudar, não conheço muitas pessoas que estudam em escola pública e tem acesso ou conseguem custear um curso de idiomas e menos escolas ainda que informam os alunos desses projetos. Um dia desses um filho de um colega nos perguntou o que é ENEM, ele está no segundo ano, prestes a enfentar um vestibular, é mole?
É bem assim nas universidades. Eu tinha interesse em fazer mestrado na área financeira e fui conversar com um professor. Ele disse que não havia interdisciplinariedade, que não havia projetos de outras áreas em que eu pudesse contribuir e que não era aceita tal prática. Demonstrou total desinteresse pela proposta, mesmo sabendo que eu tinha disposição e interesse. E eu não pedi bolsa, queria fazer algo útil com minhas capacidades, apenas. E percebo que os projetos costumam carecer de análise financeira. Mas, parece que na Universidade não faz falta. O Brasil é frustrante. E agora também frustrado.