O Erro do Acordo da Basileia

Os Estados Unidos nunca desenvolveram o conceito de correção monetária dos balanços, o conceito de Taxa de Câmbio entre a mesma moeda mas em períodos diferente do tempo, como fizemos no Brasil.

Nos Estados Unidos, o lucro de 1921 do CitiBank ainda está registrado em doláres de 1921, apesar da enorme inflação de lá para cá.

A Ciência Econômica americana e inglesa nunca desenvolveu o conceito de taxa de câmbio inter-temporal, somente taxa de câmbio entre moedas.

A correção monetária, divulgada por contadores brasileiros como Sergio de Iudícibus e Eliseu Martins, é uma taxa de câmbio entre moedas do mesmo país, mas em datas diferentes.

O FED, e infelizmente muitos outros, acham que a moeda de 1921 é a mesma de 2010.

Não é.

Por isto, é necessário corrigir estes valores pelas suas respectivas taxas de câmbio inter-temporais, que chamamos de correção monetária e os americanos nunca implantaram.

Quando trabalhei no Governo para criar o TIPS Brasileiro, expliquei tudo isto pessoalmente ao Paul Volcker, e pelo rumo da conversa deu para perceber que ele não entende de contabilidade.

Isto é um enorme problema porque o patrimônio dos bancos americanos é corroído contabilmente pela inflação do ano, ano após ano.

E, pela Regulamentação Bancária estabelecida pelo Banco Central Americano, que Paul Volcker teria obrigação de conhecer, bancos podem emprestar somente 10 vezes o seu capital e reservas, só que é o patrimônio corroído pela inflação.

No Brasil, até 1995 nossos bancos podiam emprestar até 10 vezes o seu capital CORRIGIDO pela inflação.

O óbvio, mas que americanos como Volcker acostumados com inflação baixa, não incluem nas suas análises e leis regulatórias.

E no Brasil, a partir de 1995, abandonamos o que os brasileiros inventaram para adotar teorias erradas americanas.

Com a inflação de 10% em 1981, os bancos americanos tiveram de reduzir seus empréstimos em termos reais, não somente 10%, mas em 100%, porque o limite é multiplicado por 10.

Paul Volcker, sem saber, estava diante de um sistema bancário que iria perder 100% do seu patrimônio, em um único ano.

Aumentar os juros neste cenário é um absurdo, mas foi feito. Por isto, os bancos americanos pararam simplesmente de emprestar.

Se os americanos fossem menos arrogantes, talvez aprendessem de experiências de outros países, como o Brasil.

Volcker não percebeu, nem Bernanke, que a inflação por si só reduz dramaticamente o crédito bancário reduzindo a inflação.

Aumentar os juros da maneira que Paul Volcker fez foi suicídio, quebrou as construtoras, a Chrysler, milhares de empresas, e países como o Brasil.

Um desastre! E pelo jeito ninguém, muito menos eles, aprenderam a lição.

E vamos ter este problema logo logo no Brasil, com a volta da inflação.

Hoje, nossos bancos são proibidos por lei de mostrar seus balanços corrigidos, a maioria tem patrimônio congelado a níveis de 1995, um absurdo.

via en.wikipedia.org

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Comentários

11 Responses

  1. Sr Kanitz, acho que insistir em jornais administrados por administradores e contadores, que invistam nesse tema é concentração de esforços para algo que não ocorrerá. Muito melhor seria um esforço para que as ‘revistas especializadas’, que já existem, e que possuem, ou ao menos deveriam possuir, administradores e executivos em seus quadros. Esses meios de comunicação me parecem mais adequados, pois são direcionados às pessoas que efetivamente entendem do assunto.
    Infelizmente não há na nossa sociedade interesse em acompanhar ‘notícias complicadas’, que tratem sobre balanços financeiros e correção monetária. Um ERRO dos maiores, pois esses assuntos afetam a todos. Mas a falta de conhecimento, ou pode-se dizer até um anafalbetismo financeiro de nossa população é um assunto longo que demandaria outro tópico.
    Conclamo o Sr bem como todos os formadores de opinião, administradores e executivos a enviar suas opiniões para essas revistas, que já existem, e que poderiam tratar do assunto. Talvez até mesmo os nossos periódicos semanais, como as revistas ‘Veja’ e ‘Época’ poderiam ser alvo de nossos e-mails e questionamentos.
    Atenciosamente
    Samuel Ciqueira

  2. Você tocou em um ponto importantíssimo, mas que precisa ser generalizado para compreendermos um problema central de nossos tempos que é a concentração brutal das mídias em temas que só interessam a pessoas da área da comunicação. E por quê? Por que as mídias são geridas quase que exclusivamente por pessoas da área da comunicação. Daí o tema ser quase sempre… comunicação. Modelos, atores, entrevistas em que não há um tema a ser aprofundado – apenas um tipo de conversa geral ou pessoal – apresentação de fatos sem análise específica suficiente, etc.
    Penso que a dificuldade de administradores e contadores serem mais acionados pelas mídias para explicar aspectos fundamentais da economia se insere no processo geral de redução drástica da variedade e aprofundamento dos temas que referi acima, redução essa que causa muitas outras distorções gravíssimas em nossa sociedade, como, p. ex., a influência no interesse profissional de nossos adolescentes, que, por não serem apresentados com a devida profundidade e atratividade a outros campos da atividade humana, acabam desejando estudar e trabalhar em… comunicação.

  3. Sou formado em administração. A única lembrança que tenho da cadeira de economia do meu curso é: o sal é o produto mais inelástico do mercado…
    Concordo com a idéia do jornal. Mas, qual a ação dos CRA´s reginais e da Confederação; apenas cobram a taxa para renovar a carteira de administrador.

  4. Professor,

    Se isso é algo prejudicial aos bancos, pois diminuem sua capacidade de emprestarem mais, porque eles nunca reclamaram? Imagino que eles possuam força suficiente para exigir a permissão dessas correções. Ou estou enganado?

    Abraços!
    Matheus Aires

    1. Por incrivel que pareça americanos nunca desenvolveram o conceito de correção de balanços, vide meus posts sobre nominalismo.

      em vez de reclamar eles burlaram a lei alavancando 40 vezes ou mais e se perderam todos.

      mais uma razao para tornar Administraca Economica materia obrigatoria.

  5. Professor Kanitz,

    A sua proposta é uma exacerbação do sistema de reservas fracionárias, um sistema pelo qual
    os bancos criam dinheiro do nada, alavancando sobre seu patrimônio corrigido pela inflação !!!???
    Quando o Lehman brothers quebrou, estava alavancado em 33 vezes seu patrimônio, é isso que
    o senhor defende?

    1. Julio Costa,

      Por isto fico tão frustado. É justamente o contrário do que você está dizendo. Como não corrigiram, a alanvancagem financeira, que voce chama de fracionamento, caiu para 8,7,6,5 inviabilizando o sistema financeiro. Devido a pessoas que não entendem nada de contabilidade.

      Colocados contra a parede, condenados a extinção, os Bancos passaram a inventar subterfugios, e uma vez rompida a ética, alavancaram sim para 33 vezes como você disse.

      Quando alguem vai entender Nominalismo, e perceber que corrigir a inflação não aumenta absolutamente nada, somente devolve ao ponto inicial.

  6. Para fazer a correção dos bancos teria de se fazer ao mesmo tempo a correção do patrimônio das pessoas físicas. Isso diminuiria muito o ganho da RF na venda de bens imóveis com seus valores atualizados.
    E isso não interessa ao governo.

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