Um Acordo Comercial com os Estados Unidos Faz Sentido?

Isto é um teste de administração econômica que vai mudar a forma de você pensar um dos grandes problemas nacionais:

O crescimento e ameaça da Índia e da China que nos veem como concorrentes potenciais.

Parceria conosco, esqueçam.

A maioria dos intelectuais da USP, Unicamp e Brasília foram contra a ALCA e são contra qualquer acordo comercial que aumente o intercâmbio de produtos entre o Brasil e os Estados Unidos.

Apesar de que 30% dos Estados Unidos será controlado por Latino Americanos em 2020 e que comprariam nossos produtos numa boa.

Poderíamos criar marcas e fazer marketing direto, em vez de vender commodities para multinacionais americanas.

A razão desta rejeição é devida à crença que se fizermos um acordo comercial com os Estados Unidos, as empresas americanas simplesmente irão destruir as empresas brasileiras.

Se você acha que um acordo bilateral seja um ganha-ganha, não precisa ler este artigo.

Mas se você acha que seria um ganha-perde, onde nós sairíamos perdedores, leia com atenção, e por favor não me chamem de entreguista ou algo parecido.

Imaginem que existam somente quatro empresas no mundo, duas nos Estados Unidos e duas no Brasil.

Como existem barreiras comerciais, os dois países não comercializam muito entre si, e as quatro empresas sobrevivem sem nenhuma competição externa.

Aí, um maluco com ideias “neoliberais”, sugere abrir as portas comerciais entre os dois países.

O que irá acontecer com cada uma destas quatro empresas?

1. Se você respondeu que duas destas empresas irão falir no dia seguinte da liberalização, você acertou em cheio.

Por isto, tem tanto empresário na luta contra acordos de comércio, e a ALCA em particular, e a globalização em geral.

2. Se você respondeu que serão justamente as duas empresas brasileiras que irão quebrar, você está em boa companhia.

A maioria dos nossos intelectuais acha o mesmo, como já expliquei acima.

3. Se você respondeu que uma empresa americana e uma empresa brasileira irão quebrar, você será um bom administrador, e especialmente um bom Ministro da Fazenda.

A resposta correta é prever a falência de uma empresa americana, a intensiva de mão de obra onde os produtos são costurados à mão, num país com mão de obra cara.

E, a falência de uma empresa brasileira, a de raquetes de tênis, por exemplo, que usa materiais de alta tecnologia.

O que você deve estar se perguntando é por que não são as duas empresas americanas que sobrevivem, destruindo com seu poder de fogo as duas empresas brasileiras?

Porque nenhuma empresa americana em sã consciência quer receber Reais como pagamento.

Todas querem receber dólares, a moeda de seu país, com os quais pagam os salários dos seus trabalhadores.

Você que é advogado ou psicólogo, gostaria de receber de um paciente nigeriano, pagamento em Nairas? Por quê não? É preconceito?

Mas é isto que aconteceria.

Você poderia a contragosto sair comprando Produtos Nigerianos ou vender suas Nairas a um importador que faria bom uso do dinheiro, dando Reais em troca.

Por isto, toda importação gera a longo prazo uma exportação de igual valor, e vice-versa.  

Portanto, não é correta a análise difundida por aí que a globalização e a Alca acabarão com todas as nossas indústrias.

Acabarão com algumas delas, o que obviamente é suficiente para gerar enorme gritaria na FIESP.

São as empresas familiares atrasadas que mais sofrerão, e obviamente já sabem disto.

A liberalização do comércio quebraria uma empresa da FIESP, mas mais do que dobraria o tamanho da outra empresa que sobreviverá.

Perderíamos a indústria de raquetes de tênis mas a indústria de bolas esportivas que usa couro e mão de obra barata cresceria, e provavelmente seria ocupada por milhares de pequenas empresas do Nordeste.

Não entendo como a Unicamp não percebeu isto.

Como a maioria destas empresas nem existe ainda, não tem como se organizar e defender em Brasília seus futuros interesses.

Se você acha que foi FHC, Lula ou a esquerda brasileira que votou contra a ALCA, você está redondamente enganado.

A esquerda mais uma vez foi usada pelos empresários e seus economistas para defender os interesses da extrema direita, em detrimento do progresso desta nação.

Agora vejam as consequências:

O PIB americano hoje é + ou – 10 vezes maior que o PIB brasileiro.

Com um acordo bilateral as empresas americanas que venderiam mais para o Brasil teriam uma expansão de mercado de 10% (1/10), ou seja, nada espetacular.

Não haveria para eles nenhuma economia de escala, não daria para introduzir um sistema de produção mais produtivo.

Por isto as empresas americanas até desistiram de lutar pela ALCA, o ganho não valia a pena o custo político, já que nem o Brasil se interessava.

Mas notem o que os economistas brasileiros nunca divulgaram, nem o mais neoliberal.

As empresas brasileiras de bolas esportivas teriam um mercado 10 vezes maior, ou 1000%, (10/1) uma bela diferença.

Claro que o comércio seria igual para os dois países, digamos 1 bilhão exportado e 1 bilhão importado.

Mas para algumas empresas brasileiras seria uma enorme vantagem competitiva. Você consegue perceber o motivo?

As dicas estão aí em cima, é só repescar a informação.

Com 1000% de aumento, estas empresas teriam enormes economias de escala, e não somente os 10% das americanas.

Permitiria mudar radicalmente sua forma de produção o que permitiria baratear ainda mais o seu custo unitário.

Poderíamos até pensar em competir, inclusive com a Índia e a China.

Mas o sonho acabou.

Quem comemorou o fim da ALCA, nunca estudou administração econômica nem contabilidade.

Perdemos um grande mercado, justamente aquele que está permitindo à China ganhos enormes de produtividade.

Parabéns a todos que deram ouvidos aos nossos brilhantes intelectuais que nunca trabalharam numa empresa brasileira.

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Comentários

18 Responses

  1. Kanitz, interessante essa sua reflexão sobre balança comercial, com acordos bilaterais. Obrigada.
    Não seríamos ainda, e, para sempre, um país em desenvolvimento, sem investimentos em educação, ciência e tecnologia, onde o valor agregado ao produto/serviço traz maior riqueza para um país?
    Vamos ficar eternamente só costurando bolas de couro? Isso traria mais igualdade, justiça social e melhores condições de vida para o povo brasileiro? Aumentaria nossa renda percapta para nos tornarmos um povo que possa usufruir das benesses da riqueza gerada no país?
    Ou a riqueza continuaria concentrada nas mãos de poucos ou seríamos uma China como a que é hoje? Uma China onde, para os que costuram a bola ou montam um Ipad, pouca ou nenhuma dignidade e esperança existem.

  2. Agora entendo algumas de suas opiniões sobre “economistas”. A partir de agora entenderei quando você disser economistas que está se referindo aos da USP (da velha guarda), Unicamp e UnB (faltou Ufrj nessa lista). Agora faz todo o sentido.

  3. Se considerar a idade dele, faz mais sentido ainda. 😉 Hehehe… Acho que “os economistas” que ele critica são os economistas que têm visibilidade midiática e/ou influência política suficiente pra fazer besteiras com o Brasil. Só esses e os que seguem as mesmas linhas de pensamento. Ele critica o pensamento através das pessoas, uma coisa que acho que soa muito ruim principalmente pra quem é economista, mas as críticas ao modo de pensar me parecem muito válidas e pertinentes.

  4. Penssr que soh pq recebem $60 por dia na chine é negativo é vicioso. alguem já se perguntou qual o valor do paozinho na china em dolar? quem diz q nao ha dignidade lah.. o poder de compra de cada pais eh diferente se compararmos a mesma moeda. eh bonito falar de dignidade, mas mais bonito ter dinheiro entrando no pais para que uma hora ele circule na mao de alguem mais pobre. quanto mais dinheiro melhor, nao importa se oriundo de bolas costurados ou de nanotecnologia. eh muita inocencia achar que temos que ser ricos em coisas com conhecimento agregdo. tem eh que vender o que querem comprar.. e fazer o pais crescer. vide Vale e Petro.

  5. é, realmente, contradição do Kanitz.. mas o Daniel foi longe, buscando uma materia do ano 2000. A realidade hoje é outra, logo, o pensamento pode mudar também.

  6. Antes de ler o artigo já sabia as idéias do Kanitz. Como sempre ele arrebentou com suas idéias. Pensando fora da caixa.

  7. Vendo dois dos comentários sobre “continuarmos eternamente subdesenvolvidos” e ” USD 60,00 dolares de salário na china”, devo admitir que não fico surpreso. Esse é o pensamento que nos traz a eterna falta de habilidade para o crescimento. Aparentemente, essa é a retórica que nos mantém eternamente sub alguma coisa. Pessoal, temos que começar de algum lugar. A China começou costurando tenis e continua até hoje. De tal maneira que toda a industria mundial de tenis está lá. Outra coisa é iludir-se com salário baixo na China. No Brasil proporcionamente, é muito menor. O chinês tem educação, saude e transportes publicos de boa qualidade. Nós não temos. Muitos brasileiros, mesmo os que sairão recentemente da miséria através dos programas de inclusão do governo federal, trocariam. O que me decepciona é que se pessoas que teóricamente tem maiores oportunidades a ponto de se manifestar em um blog, pensam assim, nunca conseguiremos esclarecer os menos favorecidos. Serão por muito tempo a massa de manobra dos pseudointelectuais.

  8. Parabéns Sr. Kanitz!
    Suas análises inteligentes nos faz pensar sobre determinados temas sob uma perespectiva diferente.

  9. O México entrou na ALCA, e deu no que deu..!!
    Sr Kanitz, o Sr. acha que o México está hoje melhor que o Brasil..??

  10. Perdão….escrevi errado
    O Acordo do México com os EUA não é a ALCA, é o NAFTA…
    Mas ele é exatamente igual a ALCA…
    Ok.. o México não é o Brasil ( alias o México está uns 20 anos + atrasado que o Brasil e TUDO )
    Mas o México ainda é um exemplo de como esses acordos são bons.

  11. Lol, administradores dão péssimos economistas.
    O crescimento e ameaça da Índia e da China que nos vêem como concorrentes potenciais.
    Estes dois devem estar rindo a toa… Inflação galopante e dollar cada vez mais barato….
    Logo, logo, vai ser tudo made in China e roupas made in India…
    Querer competir de igual para igual com os americanos é um sonho irreal. Eles dizem vamos zerar os impostos, mas por fora injetam um direirão de subsidios na agricultura e outros setores estratégicos.
    Vender vamos vender de montão, açucar e outras coisas. Mas sempre que as exportações decolam, os preços no mercado interno dobram.

  12. Deve ser por isso que o PIB por poder de compra e o IDH chineses são menores que os nossos… Por que não vai ser operario na China e aproveita os serviços publicos de “otima” (ha, ha, ha, essa foi otima!) qualidade?

  13. Deve ser por isso que o PIB por poder de compra e o IDH chineses são menores que os nossos… Por que não vai ser operario na China e aproveita os serviços publicos de “otima” (ha, ha, ha, essa foi otima!) qualidade?

  14. A renda per capita do México é 30% maior que a brasileira e o país figura significativamente melhor no ranking de qualidade de vida, medido pelo IDH.
    Agora, quanto ao porque de os brasileiros não aceitarem um acordo bilateral com os EUA, mesmo que os beneficie, o sr. Aécio Cavalcanti já deu a dica no seu comentário acima: “DISCORDO TOTALMENTE POIS É PREFERIVEL SER CABEÇA DE RATO A SER RABO DE ELEFANTE.”. Mas eu deixo nas palavras mais elegantes de Giuseppe de Lampedusa, in “Il Gattopardo”:
    “La vanitá in loro é più forte della miseria.”

  15. Kanitz fez referência a ALCA, mas o texto trata de acordo direto com os EUA. Isso pode ser mais interessante que a ALCA em função dos desvios de comércio serem menores em um acordo bilateral do que envolvendo as Américas.
    Aliás, Brasil deveria fazer mais acordos comerciais…

  16. “Outra coisa é iludir-se com salário baixo na China. No Brasil proporcionamente, é muito menor. O chinês tem educação, saude e transportes publicos de boa qualidade. Nós não temos”
    Hahahahahah
    Pode-se dizer sim que a China produz com muita eficiência. Agora afirmar isso que o Maurício Moura falou é de morrer de rir.
    No máximo, pode-se dizer que a educação lá caminha melhor. O resto é risível. Vai ser trabalhador na China pra ver.

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