Como Ser um Líder no Brasil

 

Percebi logo cedo na minha carreira que eu jamais seria um líder, como de fato não fui.

Apesar de ser Prof. Titular da USP, ser mais ou menos inteligente, ter cursado uma das melhores faculdades do mundo, saber escrever e falar relativamente bem.

No Brasil líderes precisam além de tudo isso, arrumar empregos para seus mais fiéis discípulos.

Todo líder brasileiro precisa arrumar pelo menos 300 empregos, só assim terá um séquito de apoiadores, um fã clube leal e lutador, disposto a defender seu ídolo até o fim.

Isso demanda tempo, politicagem, mentiras, acordos que eu não estava disposto a fazer.

Perdi muitos assistentes para colegas professores que faziam a politicagem necessária para sustentar o corporativismo que criavam em torno de si.

Ulysses Guimarães arrumou mais de 5.000 empregos para seus correligionários, e é hoje considerado o grande líder da Constituição de 1988.

O filme sobre Thomas More, “O Homem Que Não Vendeu Sua Alma”, retrata esse dilema muito bem, traído que foi por um assistente que ele nunca empregou.

O livro de Lucio Vaz, a Ética da Malandragem, detalha como Brasília realmente funciona.

Ser líder no Brasil dá muito trabalho e responsabilidade, você se torna no fundo escravo dos outros, escravo literal de puxa-sacos que estão lá por puro interesse, e não por admiração e respeito.

Nossa Reforma da Previdência, por exemplo, empacou porque o PSDB não quis prejudicar os funcionários públicos que o Partido sustenta há mais de 30 anos, especialmente em São Paulo.

Nossas lideranças portanto não são as usuais, elas não dependem do talento pessoal, do preparo ou inteligência do líder pura e simplesmente, mas sim de politicagem e malandragem.

Posso estar errado, mas não acredito que a liderança de Sergio Cabral, Severino Cavalcanti, Aécio, Alckmin, o clã Sarney, Calheiros advêm de suas ideias inovadoras que empolgariam seguidores, a mim suas ideias não empolgam.

Lucio Vaz, em a Ética da Malandragem, mostra claramente líderes como sendo os detentores da caneta do emprego público.

Olavo Carvalho é uma bela exceção disso tudo, esse é um líder nato, que prova a tese.

Precisamos apoiar líderes pelas suas ideias, especialmente as mais polêmicas.

Precisamos de líderes que inovem, que mudem o status quo dos incumbentes, ideias que ferem interesses adquiridos de vocês sabem quem.

Precisamos líderes que nos mostrem o caminho, e não que nos garantam um bolsa família, um subsídio, um BNDES camarada, um emprego público com aposentadoria integral.

 

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