O Mito do “Aprender Fazendo”
Políticos que aceitam cargos no governo sob a suposição de que “se aprende fazendo” frequentemente correm o risco de minar a ordem e o desenvolvimento do país. Embora a ideia de aprendizado no trabalho seja útil em contextos simples, cargos públicos, especialmente os de alta responsabilidade, exigem uma base sólida de conhecimento e experiência prévia.
Em primeiro lugar, cargos governamentais envolvem processos de tomada de decisão complexos que afetam milhões de vidas. Milhares de brasileiros se suicidaram após o Plano Zélia Collor, devido à falta de liquidez, penalizando especialmente os mais necessitados. Essas decisões requerem um profundo entendimento de políticas públicas, economia, leis e dos desafios específicos do setor — conhecimentos que a maioria dos economistas não possui.
Sem esse preparo, um político pode tomar decisões mal-informadas, resultando em consequências desastrosas, como má gestão orçamentária, erros regulatórios ou até crises nos serviços públicos. Alguns políticos, que nunca administraram 30 mil pessoas, aceitam o desafio de liderar 1,5 milhão e ainda se orgulham em memórias de terem “sobrevivido” sem o devido preparo. FHC, em seu livro, admite que caiu de paraquedas no cargo e que sua ascensão foi acidental, não resultado de anos de preparação.
Em contraste, o conhecimento prévio deveria ser obrigatório, como acontece em grandes empresas. Isso permitiria aos políticos lidarem com essas complexidades com maior confiança e precisão, reduzindo o risco de erros. Embora o “aprender fazendo” possa promover crescimento, na maioria das vezes envolve um período de tentativa e erro, o que é inaceitável em contextos de Planos Econômicos nunca antes testados para uma população inteira.
No governo, o luxo de aprender com os erros pode ter um custo elevadíssimo, não apenas financeiramente, mas também em termos de capital social e político. Por exemplo, erros em políticas de saúde, educação ou economia podem ter efeitos negativos duradouros nas populações vulneráveis. No Brasil, milhares morrem nas filas do SUS por políticas mal planejadas. Políticos que assumem cargos sem a expertise necessária podem demorar mais para entender as complexidades de suas funções, atrasando a implementação de reformas cruciais.
Por isso, FHC lutou para introduzir a reeleição no Brasil, já que, nos primeiros três anos, nossos presidentes e ministros estão “aprendendo” as demandas do cargo. Políticos bem informados em suas áreas podem tomar decisões mais rápidas e estão melhor preparados para questionar os conselhos que recebem de suas equipes ou consultores externos. Isso explica por que o Brasil ainda enfrenta mais de 450 problemas acumulados, sem solução à vista.
Políticos devem estar devidamente preparados antes de assumir cargos públicos, especialmente no que diz respeito à ciência da administração, para garantir que possam servir de forma eficaz, minimizar erros custosos e tomar decisões que impactem positivamente a sociedade. As consequências no governo são sérias demais para que amadorismo e inexperiência sejam tratados com leviandade.