Lembre-se: A inflação embutida no juro é uma amortização disfarçada do seu próprio empréstimo.
Se um futuro Presidente chegasse para os bancos e dissesse: “Toma seu dinheiro de volta, não quero mais estes empréstimos caríssimos“, os bancos ficariam com um monte de dinheiro parado nas mãos e teriam de reduzir os juros e emprestar novamente para o setor produtivo. A forma de reduzir juros é reduzir a dívida interna, e não reduzir simplesmente os juros.
O Estado pagaria juros menores, e mais importante, sobre um total de dívida menor.
Só que Monetaristas não podem devolver as dívidas, especialmente as de longo prazo, porque isto acabaria com a política monetária, acabaria com seu poder.
Nem tampouco há interesse nem estímulo político em pagar o que o governo anterior tomou emprestado e gastou.
Marta Suplicy se recusou a devolver a dívida de São Paulo ao Governo Federal o que resultou num aumento dos juros de 6% a 9%, uma fortuna.
Tivemos vários acadêmicos que falavam abertamente em repúdio às dívidas, o que de imediato aumentava os juros.
De fato, pagar dívida de outro não tem a menor graça.
O ex-Ministro da Fazenda Delfim Netto ficou famoso em 1982, ao defender que “Dívida não se paga. Dívida se rola“.
Foi o que todo governo fez desde então, aumentando a dívida cada vez mais ao longo do caminho, e por tabela, os juros.
Como reduzir a dívida com toda esta má vontade política?
O truque seria enganar os políticos, levando-os a devolver finalmente a dívida de governos passados sem que eles soubessem disto.
Nisto está a sutileza e o maquiavelismo da Proposta do Deficit Nominal Zero.
A proposta agora não é mais “rolar a dívida”, mas que o governo pague todas as suas despesas incluindo o “Juro Nominal” da dívida.
Só que em Economia Administrativa, o “juro” nominal não é juro.
É uma ficção da Escola Nominalista, mas todo mundo, a imprensa, a maioria dos professores de Economia, os próprios investidores acreditam.
O “juro” nominal é na realidade a soma de um juro real (o verdadeiro juro) mais uma inflação futura, ambos incertos.
Pagando-se os “juros” nominais na sua totalidade, a dívida não se manterá mais constante, como muitos irão acreditar, mas a dívida interna diminuirá em termos reais.
Portanto, o truque é esse.
A inflação embutida no juro é uma amortização ou devolução do seu próprio empréstimo.
Você fica feliz achando que está ganhando um juro elevado, mas na realidade é seu próprio dinheiro que estão devolvendo.
O Deficit Nominal Zero, simplesmente obriga o governo a reduzir despesas ao ponto de ter como reduzir a dívida em termos reais, e não mais como uma porcentagem do PIB como vinha acontecendo.
Agora a dívida cai mesmo, em vez de aumentar.
Se a inflação for de 3,5%, 3,5% da dívida interna será devolvida sem ninguém saber.
Se a inflação for de 9%, a dívida será corroída ou devolvida, via “juro” nominal, em 6%, se esta for a inflação embutida no juro.
Mas este é o primeiro problema do plano Deficit Nominal Zero.
Ele sofre da incerteza quanto a inflação futura.
O plano do Deficit Nominal Zero nunca saberá ao certo em quanto a dívida será reduzida.
Muito menos quanto de despesas precisam ser cortadas.
Em termos de “gestão”, o plano é impossível de ser gerido.
Se tivermos 100% de inflação a dívida cairia pela metade. Mas o governo conseguiria cortar a metade de suas despesas?
O Deficit Nominal Zero evita o uso das palavras Superavit e Lucro, palavras riscadas do ideário nacional.
O Deficit Nominal Zero é na realidade um Superavit Real Positivo.
Um investidor ficará mais tranquilo se ouvir que finalmente haverá de fato um Superavit Positivo ou se ele ouvir esta bobagem semântica de Deficit Nominal Zero?
Por isto, criar cursos de Economia Administrativa ou Administração Econômica deveria ser prioridade nas Escolas de Economia e Administração.
Economia Administrativa teria proposto uma política onde o Estado se comprometeria a pagar a totalidade de um juro real, transparente e definido, o que por si só reduziria os juros pela metade.
Ao mesmo tempo, o Estado se comprometeria a devolver ao povo brasileiro, digamos, 3, 4 ou 5% da dívida interna ao ano, ou outra taxa politicamente viável.
Seria uma política clara e transparente, o que reduziria ainda mais os juros, por antecipação.
Uma Ideia Antiga.
A ideia do Deficit Nominal Zero é antiga, e foi a causa da estagnação da economia brasileira por 10 anos. A década perdida! Foi usada pelos Bancos Americanos para receber a dívida de volta, sem que o Governo soubesse.
Nossos Ministro da Fazenda da época, não percebeu que ao pagar o “juro” nominal aos bancos internacionais, ele estava pagando muito mais do que os juros.
Estava também amortizando a dívida, de forma acelerada, antecipada e injusta.
Gerou uma recessão brutal e desnecessária, gerou a década perdida mas reduziu, como previ na época, a dívida em termos reais a ponto de não ser mais um problema nacional 20 anos depois.
Mas, se tivesse estudado Economia Administrativa ele teria percebido na época que este mesmo Deficit Nominal Zero foi exatamente o que o FMI e os Bancos na época nos impuseram.
1. A Escola Nominalista de Economia é a escola dominante de economia no Brasil e no mundo, que defende a falta de transparência nos juros reais, a “ilusão monetária” nas finanças.
Foi responsável pela extensa manipulação dos índices de correção monetária de 1966 até hoje.
É contra a correção monetária dos limites de isenção do Imposto de Renda, e assim por diante.
Já fiz várias críticas à Escola Nominalista, e as soluções que teriam sido implantadas por uma Escola Realista de economia.
Só que agora, esta falta de transparência do Nominalismo, poderá ser usada para enganar os políticos e acadêmicos do governo a fazerem justamente aquilo que são avessos a fazer.
2 respostas
Que bom. O amor à mentira, tão típico da atualidade vai trazer algum retorno positivo, afinal. Vai faltar dinheiro em algum momento, mas em uma sociedade reativa é preciso provocar o caos para obter mudança. Assim como no caso das empresas X, o discurso só muda quando a realidade se torna um elefante rosa choque.
Mas, professor, como com 100% de inflação se cairia a dívida pela “metade”? Desculpe se a pergunta é burra….