Ambição e Ética

 

Ambição é tudo o que você pretende fazer na vida.

São seus objetivos, seus sonhos, suas resoluções para o novo milênio. As pessoas costumam ter como ambição ganhar muito dinheiro, casar com uma moça  ou um moço bonito ou viajar pelo mundo afora.

A mais pobre das ambições é querer ganhar muito dinheiro, porque dinheiro por si só não é objetivo: é um meio para alcançar sua verdadeira ambição, como viajar pelo mundo.

No fim da viagem você estará de volta à estaca zero quanto ao dinheiro, mas terá cumprido sua ambição.

As pessoas mais infelizes que eu conheço são as mais ricas.

Quanto mais rico, mais infeliz.

Nunca me esqueço de um comentário de uma copeira, na casa de um empresário arquimilionário, que cochichava para a cozinheira: “Todas as festas de rico são tão chatas como esta?”

“Sim, todas, sem exceção”, foi a resposta da cozinheira.

De fato, ninguém estava cantando em volta de um violão.

Os homens estavam em pé numa roda falando de dinheiro, e as mulheres numa outra roda conversavam sobre não sei o quê, porque eu sempre fico preso na roda dos homens falando de dinheiro.

Não há nada de errado em ser ambicioso na vida, muito menos em ter “grandes” ambições.

As pessoas mais ambiciosas que conheço não são os pontocom que querem fazer um IPO (sigla de oferta pública inicial de ações) em Nova York.

São os líderes de entidades beneficentes do Brasil, que querem “acabar com a pobreza do mundo” ou “eliminar a corrupção do Brasil”. Esses, sim, são projetos ambiciosos.

Já ética são os limites que você se impõe na busca de sua ambição.

É tudo que você não quer fazer na luta para conseguir realizar seus objetivos.

Como não roubar, mentir ou pisar nos outros para atingir sua ambição.

A maioria dos pais se preocupa bastante quando os filhos não mostram ambição, mas nem todos se preocupam quando os filhos quebram a ética.

Se o filho colou na prova, não importa, desde que tenha passado de ano, o objetivo maior.

Algumas escolas estão ensinando a nossos filhos que ética é ajudar os outros.

Isso, porém, não é ética, é ambição.

Ajudar os outros deveria ser um objetivo de vida, a ambição de todos, ou pelo menos da maioria.

Aprendemos a não falar em sala de aula, a não perturbar a classe, mas pouco sobre ética. Não conheço ninguém que tenha sido expulso da faculdade por ter colado do colega.

“Ajudar” os outros, e nossos colegas, faz parte de nossa “ética”. Não colar dos outros, infelizmente, não faz.

O problema do mundo é que normalmente decidimos nossa ambição antes de nossa ética, quando o certo seria o contrário. Por quê? Dependendo da ambição, torna-se difícil impor uma ética que frustrará nossos objetivos.

Quando percebemos que não conseguiremos alcançar nossos objetivos, a tendência é reduzir o rigor ético, e não reduzir a ambição.

Monica Levinski, uma insignificante estagiária na Casa Branca, colocou a ambição na frente da ética, e tirou o Partido Democrata do poder, numa eleição praticamente ganha, pelo enorme sucesso da economia na sua gestão.

Definir cedo o comportamento ético pode ser a tarefa mais importante da vida, especialmente se você pretende ser um estagiário.

Nunca me esqueço de um almoço, há 25 anos, com um importante empresário do setor eletrônico.

Ele começou a chorar no meio do almoço, algo incomum entre empresários, e eu não conseguia imaginar o que eu havia dito de errado.

O caso, na realidade, era pessoal: sua filha se casaria no dia seguinte, e ele se dera conta de que não a conhecia, praticamente.

Aquele choro me marcou profundamente e se tornou logo cedo parte da ética na minha vida: nunca colocar minha ambição na frente da minha família.

Defina sua ética quanto antes possível.

A ambição não pode antecedê-la, é ela que tem de preceder à sua ambição.

Stephen Kanitz

Artigo originalmente publicado na Veja. Para a minha desgraça, ele foi lido pelo Senador Arruda, no Senado, quando da sua renúncia por corrupção.

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Comentários

18 respostas

  1. Ola Stephen!
    Li aqui uma exposição perfeita – e para mim inédita – sobre ética e ambição. Já vi muitas pessoas discorrendo a respeito, tentando explicar como a ética se aplica (ou não) à vida, especialmente a profissional. Em sua abordagem, “um quê a mais”, o lado pessoal, algo similar à pergunta mais original que ja vi em um meio de comunicação: “O que você tem a ver com a corrupção?”… Parabéns, o artigo é genial!

  2. Ambição e ética são concorrentes diretos. Se você dá muita importância para um acaba se distânciando do outro. O segredo é conciliar. Tudo na vida depende de meio-termo, até aquilo que nos dá mais prazer, mais alegria. Quando a ambição passa por cima da ética, o resultado é o que podemos acompanhar nos noticiários que ocupam as manchetes em nosso país.
    Assim, para mudar definitivamente essa situação, é preciso estabelecer um limite para nossa ambição não nos permitindo, em hipótese alguma, violar a ética para satisfação pessoal.

  3. Quando leio textos deste tipo fico intrigado… como é possível… “nunca colocar minha ambição na frente da minha família”. É impossível no sistema em que vivemos.

    Nunca ouvi falar de uma pessoa de sucesso financeiro que por algum momento não teve que colocar sua ambição na frente e “esquecer” da família. Warren Buffett é um deles.

    Como você mesmo diz… “As pessoas mais infelizes que eu conheço são as mais ricas.” porque se preocuparam e se ocuparam tanto em ficar rico que esqueceram de viver. E hoje estão velhos, afastado emocionalmente da família e/ou doentes.

    Alguns pode até pensar que estou defendendo a pobreza, não, não estou. Sei que neste sistema em que vivemos precisamos de dinheiro para viver. Eu quero algo melhor. Não só para mim, para todos. Por isso defendo a Economia Baseada em Recursos.

    Agora lhe pergunto Kanitz, você é feliz? Você em algum momento da vida teve que se “afastar” de sua família para saciar suas ambições?

  4. Este artigo vai de encontro à vida de inúmeras pessoas que conhecemos ou convivemos.
    A nossa mídia nos mostra tantos casos no Brasil vivendo esta situação. Adorei seu artigo professor. Parabéns.

  5. Para mim ambição = felicidade. E para ser feliz é fundamental ser ético. Independente de onde e como vivemos.
    Eu sou extremamente e sinceramente feliz.

  6. Presidente, nomeie para presidente do BNDES, alguém que conheça a fundo comércio exterior e apoie a promoção das nossas exportações, para a geração de empregos, como o fazem os EXIMBANKS existentes no mundo. O BNDES, deveria até tirar o S e colocar um X, e se transformar em BNDEX, para apoiar com ferramentas inteligentes o nosso comércio exterior! Tenho a certeza que V.Exa., daria uma guinada em prol do Brasil. Como exemplo cito o Indian Eximbank que poderá ser acessado no site: https://www.eximbankindia.in e entenda porque a Índia cresce 8% ao ano.

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