Qual é a porcentagem de lucro embutida em tudo o que você compra no Brasil? (Dica: entre 1% e 50%.)
Se um produto custa, digamos, 100 reais, quantos reais correspondem ao lucro da empresa que produziu o que você queria e quanto é o custo efetivo do produto? Qual, em sua opinião, é o nível de “espoliação” capitalista, tão enfatizada pelos nossos intelectuais?
Responda antes de prosseguir. Sua resposta dirá muito sobre você e sobre o futuro de nossa economia.
Numa pesquisa que realizei anos atrás, 200 operários de fábrica e donas-de-casa achavam que o lucro do patrão era de 49%, quase a metade do preço do produto.
Essa ideia equivocada do lucro talvez explique nossa visão negativa de empresas, administradores e empresários em geral.
Por isso, temos uma visão de mundo contrária à geração de lucros e, por conseqüência, à geração de empregos e de crescimento. Nossos jovens pensam que todo empresário é ladrão, algo enfatizado constantemente pela classe pensante.
A maioria de nossos jovens estudantes não lê os balanços das companhias publicados nos jornais, prefere acreditar no que os outros dizem. Se tivessem um pouco mais de senso crítico e de observação, descobririam que a realidade é bem diferente.
O lucro médio das 500 maiores empresas do país nos últimos dez anos foi de 2,3% sobre as receitas, segundo a última edição de Melhores e Maiores, da revista Exame.
São as grandes companhias do país, aquelas que têm contatos, tecnologia de ponta e agências de propaganda de primeira e por isso obtêm lucros bem maiores que as médias e as pequenas empresas.
É óbvio que, como toda média, algumas companhias conseguem margens muito mais elevadas, mas, por outro lado, quase uma de cada quatro empresas das 500 maiores teve prejuízo em 2002.
Tirar 2,3% de lucro do consumidor e do trabalhador está longe de ser uma “espoliação capitalista”, como nos ensinam na universidade.
Afinal, 97,7% de tudo o que você compra dessas companhias é custo do produto, que continuará em qualquer regime político que vier a ser implantado no Brasil por radicais ou pelo MST.
Se o Brasil eliminar o capitalismo, os preços cairão 2,3%, nada de espetacular. Mesmo supondo que haja mais 1% escondido no caixa dois, continua um valor não exorbitante.
Há quem argumente que 2,3% é uma remuneração aceitável para compensar o risco que o empreendedor assumiu de perder tudo, de usar seu capital a serviço da sociedade em vez de gastá-lo egoisticamente consigo mesmo.
Mas nossa classe pensante ensina que temos aqui um capitalismo selvagem, que espolia a todos, esquecendo-se deliberadamente de mencionar que 52% desses custos que pagamos são impostos.
Tirar 52% do consumidor como imposto para devolver muito pouco à sociedade é considerado justo, mas tirar 2,3% para oferecer o produto que você está comprando é um crime social a ser eliminado.
Percebam a crise política que nos espera nos próximos anos, porque a maioria da população não sabe nada disso.
Embora edições como Melhores e Maiores sejam publicadas anualmente, nada do que elas revelam é ensinado aos nossos jovens universitários.
Eles têm uma falsa consciência do que está realmente acontecendo no Brasil.
Se nossos alunos aprendessem a ler os balanços das empresas, poderiam verificar isso por si mesmos e, de quebra, descobrir quais são as melhores empresas para trabalhar. Aliás, não acreditem em mim, leiam os balanços publicados por aí e decidam vocês mesmos.
Hoje o Brasil não cresce porque as empresas não têm lucro suficiente para reinvestir e aumentar a produção, com exceção dos bancos, que financiam prioritariamente os déficits do governo.
Não temos mais jovens administradores e empreendedores, porque ninguém quer ser xingado de ladrão. É preferível comprar títulos do governo, que paga juros altíssimos para poder ficar com nosso investimento.
Se acabarmos com esse “capitalismo selvagem”, teremos 2,3% a mais de renda para gastar. Se um dia implantarmos no Brasil o capitalismo moderno, o capitalismo socialmente responsável que muitos
já estão praticando, e se reduzirmos esses impostos escravizantes, teremos muito, mas muito mais.
Revista Veja, 2003