Dólares na Suíça, Filhos no Brasil.

 

Tempo de leitura: 2 minutos

Se você ainda está na dúvida em repatriar o seu dinheiro duma offshore para o Brasil, aproveitando a colher de chá da anistia, leia este artigo.

Se você tem um amigo que pretende continuar com dinheiro no exterior, apesar da anistia, repasse este artigo.

Ele foi escrito em 1999, quando o dólar estava a R$ 1,70  e a Bolsa em 11.400 pontos, e quem seguiu meu conselho pode me agradecer.

dolaresExiste uma enorme contradição na frase ao lado.

Ganhar dinheiro no Brasil e manter parte dele investido fora parece ser uma atitude inteligente.

Mas feito por dezenas de milhares de brasileiros, priva a nação dos recursos já disponíveis para o nosso crescimento.

O total de depósitos dos brasileiros no exterior, segundo pessoas que operam nessa área, gira entre 45 e 140 bilhões de dólares.

A estimativa mais frequente é de 95 bilhões.

Nunca saberemos o valor verdadeiro, mas qualquer que seja, suspeita-se que esse valor tenha aumentado em 20 bilhões nos últimos seis meses.

É dinheiro suficiente para gerar de 1 a 6 milhões de empregos, reduzindo, além do desemprego, a violência urbana e a criminalidade.

Por alguma razão, evita-se discutir esse assunto em público, mas acho que é preciso abordá-lo neste momento.

Primeiramente, alguns fatos: o grosso desse dinheiro não foi depositado por bilionários nem por empresários com caixa dois, mas sim por pessoas de classe média que receberam salários e honorários honestamente e que, por uma razão ou outra, entraram em pânico.

Dá para entender por que as pessoas depositam seu dinheiro em países onde a regra do jogo não muda.

Provavelmente, abriram essas contas para proteger suas famílias de uma hiperinflação que quase ocorreu, ou se assustaram com o Plano Collor que tomou todo o nosso dinheiro de um dia para o outro.

Portanto, antes de julgá-los de impatriotas com um falso moralismo, é importante concordar que os tempos não foram fáceis.

O Brasil tem investido no exterior quase tanto quanto as multinacionais têm investido no Brasil, um contrassenso monumental.

Poupança para o crescimento o Brasil já tem, o problema é que ela está no lugar errado.

Se você é um desses, mais dia menos dia terá de resolver a seguinte questão: ou coloca seus filhos também na Suíça, ou então aplica no país em que eles irão viver e trabalhar, investindo na geração de seus empregos.

Foi assim que os alemães reconstruíram a Alemanha e os japoneses o Japão, depois da II Grande Guerra.

Quem investe em CDBs, fundos de renda fixa, cadernetas de poupança e especialmente ações brasileiras está indiretamente ajudando a gerar os empregos necessários para os próprios filhos.

Além do mais, quem acha que seu dinheiro está seguro numa pequena ilha do Caribe deveria primeiro visitá-la.

Noventa e cinco bilhões de dólares é muito dinheiro para investir numa ilha.

Quem garante que seu dinheiro não está reinvestido na Rússia, no Japão ou em Hong Kong?

Os 3% de juros ao ano que se recebe não compensam esse risco.

Com o câmbio livre e unificado, a função do doleiro caminhará um dia para a extinção, como ocorreu na Europa e nos Estados Unidos, e daqui a dez anos você provavelmente não terá como trazer seu dinheiro de volta, nem ilegalmente.

Ter de gastar o dinheiro comendo lagosta caribenha poderá matá-lo do coração.

Um dia as leis financeiras serão mundiais, consequência inexorável da globalização.

Aí não haverá porto seguro no mundo, vide o que aconteceu com Pinochet.

Está na hora de perdoar os pacotes do passado e começar a reconstruir este país.

Está na hora de trazer pelo menos uma parte neste ano, e o resto, devagarzinho.

Os preços dos imóveis estão ridiculamente baixos; as ações, nem se fala. Os juros cairão e o dólar também.

O risco Brasil só serve para os estrangeiros. Para quem vive aqui, ele não existe.

Vamos ter de fazer uma campanha corpo a corpo para convencer os brasileiros a investir de novo no país.

Mas, se apesar de tudo seu pai, seu tio, seu melhor amigo ou você mesmo ainda acreditam que aplicar dinheiro lá fora é mais seguro, pergunte ao seu gerente se não dá para depositar também seu filho ou sua filha.

Afinal, seu verdadeiro investimento são eles.

 

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Comentários

6 respostas

      1. Não sei porque cargas d’água pensei que aquele trecho fosse uma observação atual. Obrigado por me corrigir @vitorsorenzi:disqus

  1. Sr. Kanitz, acompanhei 2x sua entrevista divulgada na/pela Empiricus. Acompanho-o há anos, com muita satisfação. Foi uma boa entrevista quando comentou sobre HM e inoportunidade de se investir em TTNs, interessante na abordagem sobre a eventual eleição de DT nos EUA, e fraca do tratou das oportunidades de investimento em ações. OK, o entrevistador é ruim. Por favor, escreva um artigo esclarecendo sua posição. Por exemplo, vivifique a boa ilustração utilizada: bolsa-lago, empresas valiosas poucas-poucos peixes-muitos pescadores; a importância/oportunidade das empresas de 2a e 3a linhas na geração de valor e associação com o risco; fundos de crédito; e como um simples mortal poderia participar de iniciativas como as mencionadas em venture capital e private equity. O senhor foi elogioso ao serviço prestado pela Empiricus (concordo, sou assinante de alguns deles), mas não haveria aí uma possibilidade de se estar formando uma ‘manada da Empiricus’, especialmente considerando as poucas ‘boas’ empresas disponíveis, a baixa qualidade de fiscalização da CVM e a pouca transparência do mercado de ações?

  2. “Está na hora de perdoar os pacotes do passado”
    Que passado?! A Dilma acabou de cair – o corpo ainda nem esfriou. Alíás, pode até ressuscitar, se 2-3 senadores ficarem resfriados…. O custo bananalândia continua firme e forte.

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