Entenda a Ditadura Militar

 

Há 40 anos, assisti uma aula de um jovem e talentoso professor de economia que foi enigmática.

“O livre mercado proposto pelos liberais é uma falácia.

Imaginem a confluência da Avenida São João com a Avenida Ipiranga, se os ideais liberais prevalecessem. Seria um caos”.

“O livre mercado, como o livre trânsito não funciona.”

“Todos os grandes cruzamentos das cidades, como da nossa economia, precisam de “guardas de trânsito”, para orientar, intervir e disciplinar o mercado.”

“Os liberais acreditam que motoristas espontaneamente irão criar alguma regra tipo 4 minutos para cá, 5 minutos para lá, ou que um motorista abnegado irá largar o seu carro por meia hora e DIRIGIR o tráfego.”

É esta a ingenuidade de Hayek, Milton Friedman e Adam Smith.”

“Por isto meus jovens alunos, vocês precisam tomar o poder.”

“Nosso Projeto é cuidar de todos os grandes cruzamentos da Economia Brasileira, para que possamos evitar os congestionamentos e o caos do livre mercado.”

“Precisamos tomar o poder do: 

BB, Cacex, Tesouro, BNDES, CVM, Ministérios da Saúde e Educação, Sudene, Banco do Nordeste, Banco Central e seremos nós os guardas do crescimento econômico, e não os militares.”

Meus colegas saíram radiantes, era um futuro promissor e socialmente responsável.

O Projeto era dar poder a um grupo de jovens, mas com um sentido humanitário e altruísta, que todo jovem adora. Mudar o mundo.

Poder não pelo poder, mas para serem úteis para a sociedade, evitando o caos do “livre mercado”, proposto pelos ingleses e americanos, que todos tinham estudado na faculdade.

Até eu, futuro administrador, achei a lógica do “Projeto” muito bem apresentada, planejada, urdida e convincente.

Apesar que nós administradores, engenheiros e advogados estávamos sendo excluídos por este “Projeto” classista e corporativista.

Na época socialistas e os comunistas defendiam tomar todas as ruas de um país, mas este brilhante economista defendia tomar somente os cruzamentos estratégicos.

O jovem professor era Delfim Netto, que foi convidado para ser o Ministro da Fazenda dos militares, e colocou no poder aqueles que hoje chamamos de Delfim Boys.

Mal sabiam os Militares que eles iriam perder totalmente o poder, mas levariam a fama de terem comandado o país, que na realidade passou a ser exercido desde então pela tecno burocracia como estes jovens passaram a ser chamados.

O “Projeto” foi tomando praticamente todos os cruzamentos chaves da economia brasileira.

Vieram os Roberto Campos Boys, atuantes até hoje, e os Reis Velosos Boys que controlaram o recém criado “Ministério do Planejamento Central, os Bresser e Nakano boys and girls e seu nacional socialismo, e agora os boys and girls formados no New School of Social Research.

A inspiração destes jovens professores era o Socialista Fabiano que acreditava que o socialismo na mão do proletariado, trabalhadores e sindicalistas não funcionaria, mas na mão de professores inteligentes estrategicamente colocados funcionaria sem chamar muita atenção.

Basta ver quem  “guarda” o BC, Tesouro, BNDES, Vale, Petrobras, são sempre os mesmos, professores que nunca trabalharam numa empresa na vida, mas fazem parte do “Projeto de Poder”.

Terminei o curso na Economia e fiz a Harvard Business School, e foi quando percebi o erro monumental deste “Projeto“.

Entre a minha casa e a USP, onde voltara a ser professor, havia 35 cruzamentos controlados por semáforos.

Um único cruzamento da Rebouças com Avenida do Jockey Club era controlado por um “guarda”.

E era o que mais demorava, ficávamos sete minutos em média para atravessar, quando na maioria dos semáforos era 30 segundos.

Aí percebi o porquê. Ser guarda de trânsito deve ser a profissão mais chata do mundo.

O guarda percebia que “dar preferência para alguns“, era uma forma de ser reconhecido e ser importante. Isto acontece no BNDES, no Tesouro até hoje.

Quantas vezes a Rebouças já estava vazia, mas o “guarda” chamava com gestos efusivos um táxi solitário. Aí começa o tráfico de influências, o famoso favoritismo e jeitinho brasileiro.

E de favores em favores, o Projeto ficou cada vez mais interessante.

Empresários apoiavam, Exportadores idem, Banqueiros ainda mais, até hoje, mesmo depois da ditadura. Era um ganha ganha, para a direita e a corporação classista.

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Os simples semáforos, por outro lado, eram controlados por regras, por leis.

Dois minutos para cá, dois minutos para lá.

Hoje há até semáforos inteligentes que mudam esta frequência dependendo do tráfego.

Como todos nós sabíamos desta regra, depois de 1 min e 45 segundos já engatávamos a primeira marcha e prestávamos atenção.

Mas com os donos do semáforo no poder, nunca sabíamos o que poderia acontecer na nossa economia.

Esta constante incerteza definiu a minha vida, e de mais de 2 milhões de empreendedores, administradores e Empresários nestes últimos 50 anos.

Medo de fazer qualquer coisa, porque as “regras” deste país podiam mudar a qualquer minuto.

De fato, desde 1965 o Brasil se tornou um dos países mais instáveis para criar o futuro.

Engenheiros no poder há muito tempo teriam colocado semáforos “inteligentes”.

Que aprendem com o fluxo de tráfego e vão mudando a regra conforme o “mercado”.

Empresas são exatamente isto.

São sistemas que andam sozinhos, que aprendem e se adaptam espontaneamente às mudanças de mercado.

Esta é a grande diferença entre Gestão e Administração.

Hoje, vemos os resultados.

Temos um Projeto de Poder sedimentado, uma economia 50% controlada por guardas e agências reguladoras, parada, personalista, corrupta, que depende de favores e incentivos dos “guardas estratégicos“.

O PT e os sindicalistas acham que agora estão no poder, mas não estão.

Aqueles que estão morrendo que Dilma irá se reeleger, não deveriam.

Mudará nada, o “Projeto” está no poder há 50 anos.

Culpar os Militares e a Ditadura Militar pelo atraso deste país é não conhecer os fatos.

Achar que foram os Militares que mandaram neste país de 1964 a 1984 é ser mais ingênuo ainda.

Daqui para frente não há como mudar.

Algo para se pensar.

 

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Comentários

23 respostas

  1. Professor, conheci um ex-operador da CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego da Cidade do Rio de Janeiro) que falava exatamente a mesma coisa: quando existia uma forte retenção num cruzamento sem motivo aparente era porque algum “ser humano” estava manualmente controlando o fluxo.

  2. Mestre,
    Quanto ao pensamento, sem nenhum reparo, só concordância e agradecimento pela clareza
    Sugiro apenas uma reparação redacional:
    Michaelis
    >tráfico (trá.fi.co)
    sm (ital tráfico) 1 Comércio, mercancia, trato mercantil. 2 Ato de comerciar. 3Negócio. 4 Troca de mercadorias que os navios de comércio faziam na costa da África. 5 Negócio fraudulento, indecoroso: O tráfico da escravatura.

    tráfego (trá.fe.go)
    sm (corr de tráfico) 1 …. 2 …. 3 …. 4 ….5 ….. 6 … 7 Trânsito de veículos e pedestres pelas vias públicas.8 …. 9 …

  3. Dando corda à sua estorinha sobre os cruzamentos de tráfego, acho que a questão é puramente cultural como vc, que morou nos EUA, bem sabe. Aqui, nos cruzamentos sem semáforo – e sem guardas – em que há uma placa “STOP – 4 way” os motoristas efetivamente param os carros e vão dando preferência natural a quem chegou primeiro no cruzamento. Levei uns meses para me adaptar – e, no processo, levei várias buzinadas de protesto pelos meus erros – mas, no final, adaptei-me e a coisa funciona disciplinadamente, sem semáforos, sem guardas e sem acidentes,
    Viva Hayek, viva Friedman!

    notinha de rodapé: apesar do prestígio, da USP, etc, acho o Delfim uma empulhação, um verdadeiro picareta oportunista! Ainda bem que está no fim da carreira e sumirá na poeira.

  4. Concordo com quase tudo que vc relatou Stephen. Minhas ressalvas aos militares são de outra natureza: Primeiro, porque ao longo da história, os militares sempre ficou a serviço da elite dominante, desde a proclamação da republica, quando a elite dominante da época era basicamente rural, os coronéis. Em 64, houve um golpe de estado e foi derrubado um governo democraticamente eleito. Concordo que não foram eles que administraram o país, mas foram eles, como seu sonho e sua ilusão de ser uma casta nobre, privilegiada, atendeu e serviu à elite dominante da época que vislumbrava a perda do poder hegemônico que tinha sobre a sociedade. Foi os militares que garantiram, inclusive a posse dessa tecnocracia, liderada por Campos e Delfin. Há muitos descalabros técnicos cometidos por aqueles boys (hoje setentões) de gabinete, mas o mais grave mesmo foi a repressão política sangrenta sobre os jovens que atuavam na resistência, bem como a repressão, ou melhor, a opressão sobre as classes baixas que não tinham direito de reclamar, de reinvindicar nada. Foi uma república onde empresarios deitaram e rolaram sobre a massa humana que não passava de “fatores de produção” que aprendemos nas primeiras lições de economia. O Brasil avançou em alguns íntens e em alguns momentos. É inesquecível o boom de crescimento no início dos anos 70, com o surgimento, inclusive, da bolha da bolsa de valores e que sabemos o que ocorreu. Mas também houve outros recordes terriveis, dos quais eu selecionaria apenas um: Esse grupo, formado pela elite burguesa dominante, tendo como cães de guarda os militares com seus tanques e SNI, bateram o récord mundial de concentração de rendas. Colocaram o Brasil por décadas na liderança mundial do “indice de gini”. Nem Bengladesh, nem Sudão, nem Congo, nem Bolívia, conseguiram esse feito desumano da Ditadura Militar.

    1. Você disse muita bobagem. Os militares pegaram o Brasil como 48ª economia do mundo e entregaram como a 8ª. O Brasil tinha índices sociais de padrão africano e passou a ter dos melhores índices da América Latina, como no analfabetismo, que foi reduzido de 50% para 17% e na expectativa de vida, que era de 50 anos em 1964 e passou a 65 anos em 1985.

        1. Você já deve ter levado pra saber como é, ou pelo menos vivido naquela época. O certo é que os tempos eram outros e algumas medidas tomadas foram equivocadas. Entretanto não posso concordar com essas pensões poupudas pagas a supostos torturados ou exilados. O brasil estava a beira de uma guerra civil e de uma crise institucional. O crescimento econômico durante o período do Governo Militar foi o maior da história e não havia toda essa insegurança e caos na educação pública.

      1. Só o fato de hoje sabermos que os militares não passavam de instrumentos de dominação dos americanos, já é suficiente para merecer o nosso repúdio, mas a perceguição desencadeada contra as cabeças pensante, representou um grande atraso para o país, a falta de oportunidades consentrou a riquesa nas mãos de poucos, aumentando a responsabilidade da sociedade que herdou do escravismo outrora vivido no país.
        Agora! Vemos dar sequência à essa repressão, essa famigerada Polícia Militar, Istituição falida, obsoleta, que batem em jovens porque são pobres e estão em shoping centers de ricos. Até quando?

        1. Caro amigo, as coisas andam como estão por falta de educação e pela fraqueza das nossas instituições. A polícia é uma instituição da sociedade e que serve para defendê-la. Ela não é um inimigo. Espero que quando você estiver precisando da polícia se lembre dessa instituição falida e obsoleta, de profissionais que arriscam suas vidas, ganhando pouco para defender pessoas como você. Para criticar é preciso conhecer.

          1. Caro Carlos, pelo menos vc concorda que se trata de uma instituição obsoleta e falida, e só para sua informação, já precisamos dessa polícia que nunca está disponível, se na minha empresa quisermos um pouco de segurança temos que contratar uma particular e desconsiderar os altos impostos que pagamos para manter serviços inoperantes como esse, é verdade que a primissa seria ter uma instituição a bem da sociedade, mas, seremos francos isso funciona? não! E mais, se vc observar todos os grandes crimes contra a sociedade sempre está por trás a polícia militar, aqui na minha cidade, o pistoleiro que servia o chefão do crime organizado aqui do estado, era cabo da PM, quando da prisão desse disto chefão, a mioria dos coronéis da PM estavam servindo a esse bandido e foram todos pra cadeia um deles tinha sido comandante da polícia aqui no estado. Me perdoe meu amigo, mas, sou a favor da extinção dessa instituição que já não atende os anseios da sociedade.

          2. Realmente existem policiais envolvidos com ilícitos, entretanto esta instituição como qualquer outra é um extrato da nossa sociedade. Certamente em qualquer setor temos pessoas honestas e desonestas, policiais, juízes, empresários, etc. Não podemos generalizar. Pergunto, neste caso (de extinção da PM) qual instituição que faria o papel de polícia? Um estado sem polícia? Abraço!

    1. Desculpe-me discordar, mas acho que a expressão “tráfico de influência” está certa. Seria o equivalente a negócio fraudulento de influências. Há, inclusive, uma tipificação penal relativa essa conduta, insculpida no art. 332 do Código Penal.

      1. Nesse caso sim Caro Luizin. O “tráfico ” que citei já foi corrigido para “trafego” na frase “Hoje há até semáforos inteligentes que mudam esta frequência dependendo do tráfego.” Abraços

  5. Caro Kanitz,

    Existe o Brasil que dá certo, como você tantas vezes mostrou; esse artigo mostra muito bem o Brasil que não dá certo!

    Regras devem ser claras, e regras pré-estabelecidas tem que ser respeitadas!

    O governo brasileiro parece uma criança mimada que quando brinca quer mudar as regras para ganhar! Quem quer jogar com essa criança? Quando o governo ganha, quem perde?

    Vivemos na corda bamba da nossa Economia Administratizada..

    Boa sorte em 2014! Go on!

  6. … muito bom Professor. so me permita acrescentar q todos os fatos tiveram a bençao dos senhores do norte. como sempre. esse eh o nosso principal problema: complexo de pequenez, baixa autoestima.
    mas “daqui para frente nao ha como mudar” nao concordo. temos so 514 anos como naçao e ainda vai demorar para substituir a retrogada elite burguesa -udenista do poder, haja vista a progressiva melhora na distribuiçao de renda do trabalhador.

  7. A burocracia gremlin do Brasil além de um produto de acadêmicos que nunca trabalharam no mundo real é também sintoma do atraso cultural. Aqui as pessoas cultivam o paternalismo, a fé no Estado como uma solução para os problemas, isso gera um poder enorme para os burocratas, por mais idiotas e corruptos que eles sejam. Só acho muito injusto listar o Roberto de Oliveira Campos ao lado de socialistas fabianos. Roberto sempre defendeu privatizações, sempre chutou as vacas sagradas tupiniquins, tipo Petrobrás, Correios ,Banco do Brasil.

  8. Muitas das respostas do porquê do golpe militar e as razões do nosso endividamento no período podem ser obtidas lendo o livro “Confissões de um Assassino Econômico”, John Perkins. Recomendo a leitura.

  9. Só acho interessante você dizer que a direita ganhava. Ora, que direita? O empresariado brasileiro é de centro-esquerda, quer esses favores que você chama. Ser empresário não é ser de direita, essa a concepção marxista mais rasteira que pode haver. Direita é querer o livre-mercado, porque isso é mais moral, porque sobressaem os que sobressaem, não os que têm contatos. Até quando você vai cometer esse erro?

    1. Na teoria é ótimo, mas na prática, os que têm “contatos” (principalmente nos governos.), nadam de braçadas em cima de quem tenta sobressair, somente com suas inteligências e poucos recursos…

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