O Atributo Mais Importante do Administrador: Sua Ética

 

A maioria das profissões acha que Ética é cumprir as leis, não fazer nada de “errado”, não mentir, não corromper funcionários públicos, o “do no evil” da Google.

Por isto a maioria nem estuda Ética, sob este ângulo ela é considerada até meio óbvia.

A primeira coisa que ensinamos em Administração é que Ética é tudo que decidimos não fazer, apesar de ser correto, legal e permitido.

Parece estranho esta definição, por isto vou simplesmente dar um exemplo concreto, de como a nossa ética funciona na prática.

Estamos na Crise de 2008, que por pouco não contaminou o Brasil.

Tudo poderia ter sido perdido, devido a 3 empresas brasileiras VCP, Sadia e Aracruz, que criaram uma enorme crise cambial.

Estas três empresas fizeram operações especulativas com câmbio, para reduzir os seus custos financeiros, e no meio da crise Internacional perderam entre 6 bilhões a 12 bilhões. Em 2004 teria sido 50% das nossas reservas internacionais.

Estas empresas simplesmente apostaram praticamente a totalidade do seu patrimônio e não fosse a ajuda da Perdigão e do governo teriam quebrado.

Posteriormente, descobrimos que nenhum dos 3 diretores “financeiros” era formado em Administração, muito menos em Administração Financeira.

O diretor financeiro da Sadia era formado em Economia pela PUC Bahia. O diretor financeiro da Aracruz era formado em Economia pela PUC RIO. O diretor financeiro da VCP era formado em Economia pela PUC SP. (Algo inclusive que todos os colunistas econômicos do Brasil abafaram.)

Os três economistas especularam com câmbio, para obterem um lucro extra. Maximizaram o lucro.

Avaliaram os riscos dentro dos algoritmos de sua ciência, garantiram ao Conselho de Administração que os cálculos mostravam baixo risco, e foram em frente.

Nós Administradores Financeiros dissemos aos nossos Conselhos de Administração que especular com o câmbio não era o nosso “core business”.

Ética é saber o que não fazer, apesar de ser legal.

Na Sadia porém, o diretor financeiro não disse “Senhores, nosso core business é frango”.

Nem na VCP e Aracruz disseram aos seus Conselhos “Nosso negócio é celulose e não especular com câmbio“.

Todos os Administradores Financeiros foram enfáticos na crise de 2008.

Aqui fazemos hedge cambial, mas se suas famílias querem especular com câmbio, que o façam na pessoa física e não na nossa jurídica”.

Foi o que salvou o Brasil e milhares de empresas brasileiras de uma crise, os erros ficaram restritos a três grandes empresas.

Pena que nestes 50 anos de profissão, não tenhamos mostrado como o Administrador tem salvo este país de uma série de enrascadas. Como esta.

Esperamos que nos próximos 50 anos, sejamos mais ativos em mostrar a nossa contribuição.

 

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Comentários

2 Responses

  1. Bom dia, Kanitz. Leio sempre suas indignações sobre a “não valorização” do profissional administrador de empresas. Concordo plenamente contigo, e vou citar algo que aconteceu comigo: certa vez, resolví aumentar a construção de minha casa, e fui consultar um engenheiro sobre sua assessoria; deu-me o preço e perguntei-lhe se eu reformasse a casa por conta própria e aproveitando o conhecimento empírico dos pedreiros, haveria algum problema. Ele respondeu-me que corria o risco de ser embargado pela prefeitura e ser processado por exercício ilegal de profissão.
    Creio que a culpa da não valorização do administrador está no fato do órgão regulador da classe deixar de fiscalizar o exercício ilegal da profissão, e me perdoem, pergunto: será que o órgão representante da classe está sendo administrado por administrador?
    um grande abraço à todos

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