Por Que Pessoas Não Doam no Brasil?

 

O Terceiro Setor no Brasil tem muita dificuldade em angariar recursos para o social.

Brasileiros, especialmente os mais ricos, doam muito pouco.

Por quê?

Primeiro, porque a visão reinante no Brasil é de que a responsabilidade social é do Estado.

É o Estado que ajuda os outros e não os membros mais ricos da comunidade.

E todos ficam agradecidos ao Estado, e não ao doador.

Segundo, o Estado já tributa os ricos em 50%.

Se você paga 50% de impostos, por que pagar mais 10% para o Albert Einstein?

Se é que dá para pagar 60% de sua renda, e ainda guardar grana para aposentadoria, saúde na velhice, educação decente para os filhos.

Terceiro, porque o próprio Terceiro Setor e as Ongs Brasileiras não percebem que o cliente de uma Ong é sempre o doador.

Um dos grandes erros de administradores como Peter Drucker, na ânsia de tornar as Ongs mais profissionais, ensinaram que o cliente de uma Ong era o beneficiado.

De fato, na época as próprias empresas americanas tinham esquecido o cliente ao longo dos anos, e as Ongs idem.

Mas isto é um erro brutal.

Em vez de cliente, o doador de uma ONG passou a ser visto como uma simples etapa do processo de produção. O financiamento.

O doador passou a ser visto como o acionista, imbuído com os mesmos propósito nobres da Ong, e que irá exigir “retorno do investimento” e o bom uso de seu dinheiro na “produção de benefícios sociais para os outros”.

Sempre fui contra este tipo de enfoque, apesar de ser um fã de Peter Drucker.

Este foi um das fatores que resultou na diminuição do interesse de doadores em geral.

Assinado o cheque, a maioria das Ongs simplesmente viram as costas para o doador, acham que o doador ficou feliz em ajudar os outros e fim de papo.

Jamais pensam em manter o doador informado, em puxar o saco do doador depois da doação, homenageá-lo de tempos em tempos, ou até citá-lo numa entrevista com a imprensa.

Isto afastou os doadores que se sentiram usados, esquecidos, abandonados.

O cliente de uma Ong não é o beneficiado, o excluído ou o necessitado.

É ele a receita de uma Ong, o necessitado é uma despesa.

São os clientes que trazem receitas.

Com a fundação do Instituto Ethos, a coisa piorou.

O Ethos sempre enfatizou que a Responsabilidade Social era da Empresa e não do Indivíduo, neste caso os acionistas e seus funcionários.

Ao contrário dos Estados Unidos onde, até recentemente, a responsabilidade sempre foi do indivíduo, e não da empresa.

Como é a cultura americana.

No Brasil, devido a iniciativa mal pensada do Instituto Ethos e de vários jornais e revistas, acabamos tirando a responsabilidade do indivíduo pelo social.

O social no Brasil é função do Estado e das Empresas.

Eles que se virem para resolver nossos problemas sociais.

Fim do doador na pessoa física, o grande financiador do Terceiro Setor.

E acabaram responsabilizando as empresas, que não entendem do assunto.

E empresas usam seus critérios já estabelecidos para escolher o bem, que é “retorno sobre investimento”.

Empresas pararam de investir em cegueira, paraplegia, prostituição infantil, e a maioria foi para Educação, devido ao seu “retorno sobre investimento”.

No fundo o retorno é zero, porque o correto seria pressionar o Estado a dar a educação com os impostos já arrecadados.

Pessoas com câncer em estado terminal, e sem recursos, foram enxotadas para a rua corporativa.

Outras áreas foram lentamente perdendo os seus recursos, como prostituição infantil, drogas, gravidez na adolescência, pelos Diretores de Marketing, porque são áreas não compatíveis com a imagem da empresa.

Quando empresas me perguntavam que área eu sugeriria, eu dizia o seguinte.

“Tem uma área que nenhuma empresa até agora adotou, que afeta 10% das mulheres, e se incluirmos maridos e 2 filhos, significa 20 % da população. E você teria o monopólio, tudo que uma empresa deseja.”

“Sim queremos, que área é essa?”

“Abuso sexual, de filhas pelos pais e padrastos. Afeta 10% das brasileiras”, dizia eu.

Até agora nenhuma empresa aceitou.

Nem o Estado se interessa porque adolescente não vota, nem as Empresas querem se envolver em projetos cabeludos.

E agora, quem conserta o estrago feito?

Algo para Se Pensar. 

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Comentários

Uma resposta

  1. Estimado Kanitz,

    Faz algum tempo que não nos encontramos. Gostaria de cumprimentá-lo pelo lúcido artigo. Acredito que a coletivização das responsabilidades, seja dada ao Estado ou às empresas, é uma fuga a essas responsabilidades e uma fuga da cidadania que deveria ser exercida ao nível individual. De fato, os exemplos de problemas citados que não entram no horizonte das empresas estão se acumulando, e as poucas organizações da sociedade civil em que neles atuam estão minguando e tentando encontrar formas de se sustentar que muitas veze as levam a abandonar as causas que tinham como sua ação social. Abraços, Marcos Kisil

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