Você Sabe Lidar Com Problemas Chatos?

 

Nossa educação, cultura, nossos poetas, historiadores e escritores escrevem milhares de textos contando os efeitos e as glórias daqueles que resolveram as grandes questões da humanidade.

Aqueles que lidam com as grandes perguntas da ciência, da filosofia, da política, que vou chamar de Perguntas Edificantes.

Perguntas que uma vez respondidas nos permitiram o uso da luz, do rádio, do voo à lua, da internet, da eliminação da pobreza, da melhor distribuição da renda.

Estes são os heróis das novas gerações.

Responder as Perguntas Edificantes dá fama e prestígio.

Devido a este viés infeliz da nossa cultura, você irá somente se tornar Herói, merecedor de um Prêmio Nobel, de uma entrevista em jornal, de pertencer a uma academia exclusiva de notáveis.

Não é por acaso que todo jovem quer se tornar engenheiro, cientista político, sociólogo, jornalista, juiz, economista, e dedicar a sua vida para resolver estes problemas edificantes de justiça, ciência, economia e bem-estar social.

Mas o mundo moderno não é mais o mundo simples de Platão, Aristóteles, Durkheim, Kelsen e Karl Marx.

Hoje, nosso problema não é mais descobrir coisas novas, mas manter as velhas funcionando.

Tanto é que o edifício de nossos Edificadores está ruindo.

E você sabe disto.

Nosso edifício de justiça, democracia, educação e economia, está ruindo rapidamente.

O povo está cada vez mais descrente de nossos cientistas, sociólogos, intelectuais, e veem que o mundo melhor que prometeram está gerando aquecimento global, crises financeiras em todos os países ditos desenvolvidos, justamente os já edificados.

Por quê?

Muito simples, e é assustador que a maioria assustada nunca leia algo como o que mostrarei em seguida.

Existe outro tipo de problema no mundo.

Os Problemas Brochantes.

Os Problemas Brochantes são aqueles que nos levam para trás, e não para frente.

São problemas que deveríamos colocar como prioridade, mas não o fazemos.

Ainda aplaudimos os que nos prometem ir para frente, ignorando que estamos indo para trás.

Obviamente, ninguém quer lidar com os Problemas Brochantes que cada sociedade gera.

Não dá Ibope.

Não ganha eleição.

Ninguém quer lidar com problemas como falha de qualidade, atraso, descumprimento do planejado, roubos de produtos feitos, desvios de recursos distribuídos, intrigas entre colaboradores, falta de dinheiro para implantar soluções edificantes, pagar os impostos atrasados, resolver estes gargalos de falta de quase tudo.

Ninguém quer lidar com a manutenção do edifício, sua limpeza e contabilidade de custos.

Ninguém quer lidar com problemas que estão nos levando para trás, todos obviamente querem lidar com problemas que nos levam para a frente.

Mas precisamos destas profissões mais e mais.

A medida que nos tornamos mais civilizados e edificados, precisamos mais e mais de profissões que mantêm as fronteiras do que aquelas que abrem novas fronteiras.

Precisamos de profissões que sejam treinadas e estejam dispostas a lidar com nossos problemas brochantes com criatividade e sorriso no rosto.

Todo mundo quer mudar o mundo, e não manter os edifícios já existentes que os edificantes do passado construíram.

Pior, nunca valorizamos as profissões que lidam com os problemas brochantes da sociedade.

Cite um auditor, contador, fiscal, engenheiro de manutenção, psicólogo, geriatra, administrador, que tenham sido premiados com um Prêmio Nobel.

Cite um auditor, contador, fiscal, engenheiro de manutenção, psicólogo, geriatra, administrador, que tenham sido enaltecidos e elogiados por algum blog de renome.

Cite um auditor, contador, fiscal, engenheiro de manutenção, psicólogo, geriatra, administrador, que você admira porque eles cuidam dos problemas brochantes da sociedade.

Agora pergunte a um auditor, contador, fiscal, engenheiro de manutenção, psicólogo, geriatra, administrador, se ele está feliz por ser ignorado pelos nossos poetas, historiadores e blogueiros.

Pergunte a um auditor, contador, fiscal, engenheiro de manutenção, psicólogo, geriatra, administrador, se ele não gostaria de ser reconhecido, validado, motivado de vez em quando.

A todo auditor, contador, fiscal, engenheiro de manutenção, psicólogo, geriatra, administrador, o meu muito obrigado por resolver os problemas brochantes que têm de ser feitos.

 

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Comentários

9 Responses

  1. Interessante a colocação.
    Uma visão atual que eu tenho é que as áreas responsáveis pela coordenação de novo projetos são mais valorizadas que as que implantam e mantém esses projetos.

  2. Obrigado Prof. Kanitz. Sou psicólogo e parei de clinicar. Cansei de ver uma terapia promissora ser trocada por um peito de silicone bem mais caro.

    1. Caro Noi, sabe eu até pensei em positivar o seu comentário, mas é uma triste realidade.
      Um profissional de uma area de uma importancia gigantesca, diversas pessoas precisam muito de um bom psicologo para que ele possa entender sobre sua propria natureza, mas infelizmente ao inves das pessoas aprenderem a viver ….. elas preferem a beleza estetica a beleza interior.

      Meus parabens pela escolha da sua profissao.

  3. Bom … mesmo em minha “pequenisse” também quero prestar meu muito obrigado a todos que se preocupam em fazer a “engrenagem do mundo rodar”.
    Porque realmente a forma que são enaltecidos os criadores, e como são esquecidos os responsaveis pelo bom funcionamento que por diversas vezes, se tornam melhoradores do processo.

    Meu muito obrigado a todos os grandes profissonais de diversas areas da manutenção e gestão do mundo.

    Sei que boa parte dos bons profissionais dessas areas estão aqui lendo seus artigos mestre. Então muito obrigado a todos inclusive a você Mestre Kanitz que vejo exatamente como o mais profundo sentido da palavra mestre.

  4. Salve Prof. Kanitz,
    Paralelamente a minha profissão de auditor independente,
    procurei ter outras atividades como lecionar, dar palestras
    para acadêmicos, participar do CRC/SC, presidi o Conselho
    Deliberativo do meu clube de futebol (Avaí F.C.)., membro
    da Associação de Cegos desde 1979., entre outras.
    Sinto prazer na minha profissão, mas concordo plenamente
    com seu artigo. Não somos vistos como celebridades nem
    como intelectuais. Somos tocadores de piano. Na verdade
    somos responsáveis pelos problemas brochantes.
    Um forte abraço e não pare de escrever.

  5. Olá Professor Kanitz,

    Concordo plenamente com o Lourival Amorim. Sou contador, atuo há muitos anos na profissão, resolvo todo tipo de problema que a maioria não gosta nem de chegar perto. Mas, na verdade, acabamos sendo carregadores de piano. Grande abraço a todos que fazem parte desse time!

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