Previsão do Crescimento do PIB 2019 – 2022

O Que Os Dados Revelam?

A partir de uma série histórica de mais de 46 anos fizemos algumas projeções estatísticas de crescimento do PIB.

Essas projeções são baseadas somente nos dados passados de crescimento, e não em indicadores antecedentes de produção, taxas futuras de juros, e outros drivers da economia, que deveriam ser previsores muito melhores.

Mas esse exercício baseado no passado traz uma série de interessantes conclusões.

A hipótese simplificada usada aqui é a de que crescimento a longo prazo depende de estruturas de longo prazo montadas no passado.

 Como boas escolas de administração e de engenharia, a criação de métodos contábeis e de informações gerenciais confiáveis e coleta de benchmarks para fins de comparação e análise de eficiência é o objetivo desse Centro de Pesquisas Empresariais que estou montando.

Os resultados da primeira simulação abaixo mostram um decréscimo linear constante da nossa taxa de crescimento ao longo de 45 anos.

Apesar dessa tendência de queda já ser clara  de 1973 a 1981, há mais de 40 anos portanto, nada foi feito para reverter essa tendência, pelo menos algo que tenha dado certo.

Como um problema macroeconômico dessa magnitude tem persistido sem mudanças, depois de tanto apoio que políticos deram a programas “desenvolvimentistas”, desde Celso Furtado, Sudene, BNDES, subsídios e isenções fiscais?

Óbvio que desenvolvimentismo não dá os resultados prometidos.

Quantos recursos escassos foram jogados fora, sem resultado.

Como é possível não haver nenhuma pesquisa “post morten” para corrigir os erros cometidos, como se faz na Administração Responsável das Nações?

Fica claro que ainda não adotamos conceitos administrativos como Marcos de Revisão de Estratégia, Stop Loss, Planos B,  e por isso tantos Planos fracassaram com enormes prejuízos econômicos.

O gráfico mostra também a enorme inconstância dos nossos crescimentos anuais, um zigue-zague constante, quatro recessões, o que  inviabiliza o planejamento de qualquer administrador de empresas.

Essas mudanças de rumo ocorrem em todos os países com economias de mercado, é natural.

Mas o Brasil é um país de economia centralizada e estatizada, onde inúmeros preços são “administrados”, eufemismo criado pelo nosso governo que no fundo significa “mal administrados”.

Tudo é incerto nesse país, mas a incerteza vem dos próprios centralizadores, e não devido a intempéries.

Planejar no Brasil é inútil, velho ditado entre todos que tocam empresas no Brasil.

Mesmo que se planeje crescer 10%, o que requer investimentos de 40% dependendo da relação Capital/Produto, a prudência diante dessas irregularidades é planejar algo mais conservador de somente  5%, por exemplo.

Quanto mais incerto o passado, menos futuro teremos.

Essa é a consequência de incontáveis intervenções econômicas e constantes planos econômicos que funcionam na teoria, mas não na economia real.

Nossas políticas econômicas foram erráticas, mal elaboradas, a maioria fracassada, que geraram 40 anos de Stop and Go, extremamente prejudicial para a administração de qualquer empresa.

Falaremos disso mais adiante.

O R2 de 0,1458 dessa projeção é baixo, justamente devido à enorme variância de nossos crescimentos, e por isso fizemos outra projeção com média móvel de três meses, abaixo.

Como previsto, reduzindo a variância do crescimento aumentou o R2 para 0.2066, agora bem mais explicativo.

Chama a atenção que mesmo assim continua a persistência do movimento errático, o que sugere que os efeitos das políticas econômicas equivocadas e mal implantadas possuem o efeito duradouro superior a três anos em média.

Na próxima projeção usamos o método logarítmico em vez do linear, com resultados ainda mais explicativos em termos de R2, de 0.31.

Uma projeção logarítmica é indicativa de um sistema em lenta entropia.

Como o sistema se torna menor a cada ano, a deterioração é também menor, e não linear, portanto.

Condiz com um país largado, abandonado, sem nenhuma preocupação com o crescimento das receitas, somente preocupado com o crescimento das despesas dos gastos do governo e políticas econômicas e sociais.

Poucos sabem que o crescimento de uma empresa requer muito mais energia, recursos, atenção, do que uma empresa em lenta deterioração.

Entropia se combate com administração, mais organização, mais energia organizacional, não como vem ocorrendo desde 1945 no Brasil.

Essa tendência de 45 anos não será resolvida por nenhum super ministro da Economia, como tantos políticos brasileiros acreditam, mas sim de uma ação conjunta de milhares de players da sociedade civil.

O R2 teve um aumento significativo, para 0.3126.

A próxima projeção foi feita com dados de 1901, somente por curiosidade minha, jamais acreditando que uma realidade de 1901 pudesse ter efeito em 2019, apesar de acreditar em fundamentos de longo prazo como explicadores do que realmente ocorre nas economias.

Essa projeção mostra algo muito curioso. Um aumento do PIB médio constante até 1963, e uma nítida queda constante após essa data.

O que ocorreu de tão marcante?

Sem dúvida, a primeira lembrança seria o Governo Militar, embora analisando o gráfico o PIB chegou ao seu crescimento máximo em 1973, início dos dados que possuímos das 500 maiores empresas do país.

E a queda continuou mesmo depois da saída dos governos militares.

Analisando os Ministros da Fazenda até 1961 e comparando com os Ministros da Fazenda depois de 1964, observa-se algo muito claro.

Em 1901 o Ministro José Antônio Murtinho era engenheiro, como foi Pandiá Calógeras. Dos 60 Ministros dessa época, 52 eram advogados e alguns eram médicos, jornalistas, etc.

Nenhuma dessas profissões é centralista, dirigista. Advogados, engenheiros e jornalistas tendem a serem liberais, daí o termo profissão liberal.

A partir de 1964, a configuração muda drasticamente.

Dos agora 31 Ministros deste período, somente cinco foram engenheiros, advogados ou jornalistas. Por exemplo, Meirelles, Marcio Fortes e um médico – Antonio Palocci.

Quase 70% foram economistas, a seguir, Antonio Delfim Netto, Roberto Campos, Octavio Gouvêa de Bulhões, Mario Henrique Simonsen, Bresser Pereira, Maílson da Nóbrega, Guido Mantega, Nelson Barbosa, Carlos Viacava, Joaquim Levy, Zélia Cardoso de Mello, José Flávio Pécora, Pedro Malan, Paulo Roberto Haddad, Francisco Dornelles, Eduardo Carvalho, Fernando Ribeiro do Val, Eduardo Lopes,  Eduardo Guardia e o atual Paulo Guedes.

Com uma visão intervencionista, com mais de quatro Planos Econômicos desastrosos, e segundo José Serra, com mais de 80 mudanças na política econômica, mexendo no juro, câmbio, salário mínimo, nível de impostos, de 120 combinações possíveis, permutação de 5!

As diferenças entre advogados e economistas como Ministros, abordei nesse artigo elucidativo que resumirei brevemente.

Na aula de TDE, Teoria do Desenvolvimento Econômico, Delfim Netto nos disse basicamente o seguinte:

“O livre mercado não funciona. Cada grande cruzamento de uma economia, precisa de um guarda de trânsito desenvolvimentista para por ordem no caos.”

“Liberais acreditam que motoristas espontaneamente irão criar alguma regra tipo 4 minutos para cá, 5 minutos para lá, ou que um motorista abnegado irá largar o seu carro por meia hora e DIRIGIR o trânsito.”

“É esta a ingenuidade de Hayek, Milton Friedman e Adam Smith. Por isto meus jovens alunos, vocês precisam tomar o poder. “

“Nosso Projeto é cuidar de todos os grandes cruzamentos da Economia Brasileira.”

Todos nós saímos entusiasmados pela aula, a lógica era cristalina.

Somente quatro anos depois, agora Professor da mesma FEA e dono de um carro, percebi o engodo do raciocínio do Delfim.

Dos 14 cruzamentos que eu precisava vencer, o único cruzamento demorado, a Praça da Árvore, era o que tinha justamente um guarda de trânsito.

Os demais tinham semáforos inteligentes, com regras definidas.

São as regras e leis que funcionam e não economistas inteligentes que definem quem vêm e quem vai.

Por isso, não é surpresa que crescemos com Ministros Advogados, e passamos a demorar a crescer devido a esses guardas de trânsito que supostamente sabem administrar o trânsito econômico.

Na nossa última projeção usamos uma polinomial de terceira ordem, e obtivemos esses resultados assustadores.

Quero alertar que polinomiais são as queridas de previsores, porque você pode praticamente obter o que quiser, mudando a ordem polinominal.

Ela precisa uma explicação ex gráfico, para se tornar convincente.

É o R2 mais elevado que obtivemos, significância de 0.4935, quase 50%.

Ou seja, 50% do nosso crescimento é comprometido pelos erros desses intelectuais brilhantes do passado.

Os outros 50% são causas como crescimento da economia mundial, aumento dos preços das commodities, investimentos estrangeiros, etc.

A projeção agora é de um desfecho final tenebroso.

O colapso a partir de 2017, por sinal já em curso.

O que confirma o estudo anterior do Centro de Pesquisas Empresarias, intitulado O Colapso Da Empresa Brasileira, 1973 -2017.

Esse desfecho de queda precipitada lembra um diálogo de um personagem de Hemingway.

Perguntado como ele faliu, responde:

“Passei por duas etapas. A primeira foi uma longa deterioração lenta e constante. A segunda etapa veio subitamente e sem aviso prévio.” Apesar de o Governo estar tecnicamente quebrado, é possível enganar o povo tentando tapar o sol com uma peneira por muito mais tempo, como agora.

Contribuintes acham que apesar das suas contribuições previdenciárias terem sido sistematicamente roubadas, eles se aposentarão mesmo assim, perdendo nada.

Investidores de títulos públicos, apesar do governo nem ter mais como pagar nem os juros, acreditam que receberão de volta o principal.

 Subitamente, um dia a casa cai, como na novela de Hemingway.

Não por calote premeditado do Governo, mas por pânico em massa, quando uma pequena massa descobrir o engodo.

Finalizando, devo ressaltar que não sou fã de projeções econômicas feitas a partir de uma única variável, tão comuns em Economia.

Administradores lidam com 50 variáveis por vez, algo muito mais complicado e menos preciso, por isso não somos assertivos como são os economistas.

Nunca temos certeza que um plano nosso dará certo, por isso testamos primeiro numa sucursal e não no país inteiro.

Vocês também perceberam como as conclusões dependem do número de anos que se inclui no estudo.

Desde 1901 temos um resultado interessante e plausível, desde 1973 para cá temos outro resultado plausível e interessante.

Em qual dos dois estudos “científicos” acreditar depende muito da visão de mundo do leitor.

Quão resiliente é uma economia, quão sticky são as instituições, elas mudam a cada 100 anos ou 40 anos?

Devo ressaltar que esse último gráfico assustador explica somente 50% a irresponsabilidade dos inúmeros Ministros do passado, mas quero deixar bem claro que existe os outros 50% que dependem de outros fatores que nada tem a ver com o passado, mas com o futuro que poderíamos construir.

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Comentários

13 Responses

  1. Parabéns professor,estamos metidos numa grande confusão e está cada vez mais difícil de sair ,,hoje vivemos num país de espertos larápios e bandidos do dinheiro do contribuinte e muito pouco gente disposta a defender,,uma pena para um país tão rico ..

  2. Não temos INFRAESTRUTURA para suportar crescimento forte, nem CULTURA COMPETITIVA para enfrentamento de abertura efetiva do mercado brasileiro. Se o Brasil crescer 2 ou 3 anos seguidos acima de 3%aa a logística e o serviço de energia entram em colapso. Se os principais capitães da indústria sumirem dos corretores da Esplanada dos Ministérios por encontrarem os gabinetes fechados a eles, e sem reserva de mercado, todos quebram.

  3. Prof., se a sua previsão estiver correta, em breve haverá massa crítica e popular para notar essa insolvência. Batemos o marco de 1 milhão de cpfs na bovespa, logo a classe média se dará conta da armadilha e fugirá dos títulos públicos e começará a portar no exterior ou em terrenos. O que pensa disso?

  4. Olá professor. Atualmente (maio de 2019), existe algum curso e Administração BOM no Brasil? Cheguei a cursar uma faculdade privada, mas não dei continuidade pois o conteúdo me parecia muito superficial e disperso. Além disso, os professores não tinham experiência prática no campo dos negócios. A maioria passou a vida inteira cursando, mestrando e doutorando em universidades públicas e só saíram de lá para dar aulas em universidades particulares. Poucos viveram o dia a dia de tocar negócios. Agradeço pela atenção.

  5. Nós consumimos todas as gorduras do período dos Militares e agora estamos raspando o tacho para sobreviver. Lembrando que nos últimos 30 anos só construimos 3 hidroelétricas de porte, as nucleares ainda não foram terminadas, mas os empréstimos foram pagos.
    Se não privatizassem a Telebrás estariamos usando ficha telefonica para mandar um zap. O único progresso foram com as empresas telefônicas privadas que pegaram uma rede destruída e colocaram mais 200 milhões de celulares, 50 milhões de linhas, imensas redes backbone de fibra óptica tanto em terra como as marítimas para interligar todo mundo. Depois desta fase o Brasil parou. Uma coisa é fazer um fusquinha pegar no tranco, outra é um transatlântico, ou trem com 200 milhões de vagões.

  6. Professor, só um detalhe, o crescimento deve ser analisado per capita, não o total do PIB, pois o crescimento populacional não significa enriquecimento ou aumento de produtividade, somente um aumento no número de habitantes. Como sabemos a população brasileira multiplicou por 20 nos últimos cento e poucos anos. Além disso, o crescimento populacional também veio em queda forte nas últimas decadas (o que claramente influencia a queda no PIB Total

  7. Eduardo Curi O que você está dizendo, é que os outros 51% da variança é explicada pelo crescimento populacional, e que o PIB não é o melhor indicador de bem estar, com o qual concordo. Mas estou prevendo o PIB.

  8. Professor, desculpe a intromissão. Dia 04/06 tenho uma reunião no quinto andar do seu prédio na r. Amauri a respeito de um projeto de democratizar a STEM que estou liderando e gostaria de saber se poderia me receber também. Gostaria de ouvir seu feedback a respeito, uma vez que também já vislumbrou algo parecido no passado.

    Att.te,

    Eduardo Farias

  9. O pior é que estamos exaustos tentando sobreviver, nos pequenos empresários não temos capital para continuar e caso sua previsão se confirme, alguns poderão fazer como Paulo Guedes e pegar um avião e tudo bem, outros poderão focar no mercado externo para escoar a sua produção, talvez haja uma revolução e tenhamos neste colapso algo de bom daqui a 50 anos. O Brasil não precisava passar por isso.

  10. Professor, acerca do seu vídeo contando sobre os erros de detalhes do Plano Cruzado, o senhor mencionou que a não exclusão do horizonte inflacionário dos preços a prazo superestimam os índices oficiais de inflação. Isto compreendi bem. O que não ficou claro é como este advento também pode causar o efeito contrário, ou seja, a subestimativa desses índices. Como isto ocorre?

  11. Professor, seria interessante você fazer uma comparação dessas (usando as mesmas ténicas e ferramentas) com os paises vizinhos da america latina. Chile, argentina, paraguai e venezuela por exemplo

  12. Parei a leitura nas previsões de 1901, concordando com muito do que foi dito, mas sem aceitar uma previsão tão rasa e com tanta pretensão. Montar planos e expectativas já é algo demasiadamente complicado para dados concretos e completos de 40 anos atrás, imagine com suspeitos dados de 100 anos (sem citar a falta de fonte).

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