O Poder da Validação

 

Todo mundo é inseguro, sem exceção.

Os super confiantes simplesmente disfarçam melhor. Não escapam pais, professores, chefes nem colegas de trabalho.

Afinal, ninguém é de ferro.

Paulo Autran treme nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça que já tenha sido encenada 500 vezes.

Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator se relaxa e parte tranquilo para o resto do espetáculo.

Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada novo artigo que escrevo, e corro desesperado para ver os comentários postados.

Insegurança é o problema humano número 1. O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros. Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais na esportiva. Mas como reduzir esta insegurança?
Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema. Ledo engano, por uma simples razão: segurança não depende da gente, depende dos outros. Está totalmente fora do nosso controle.

Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.

Segurança depende de um processo que chamo de “validação”, embora para os estatísticos o significado seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor.
Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente. Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos, não resolve o problema. Ninguém pode autovalidar-se, por definição.

Você sempre será um ninguém, a não ser que outros o validem como alguém. Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: “Você tem significado para mim”.

Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: “Gosto de você pelo que você é”. Quem cunhou a frase “Por trás de um grande homem existe uma grande mulher” (e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo.

Estamos tão preocupados com a nossa própria insegurança, que não temos tempo para sair validando os outros.

Estamos tão preocupados em mostrar que somos o “máximo”, que esquecemos de dizer aos nossos amigos, filhos e cônjuges que o “máximo” são eles. Puxamos o saco de quem não gostamos, esquecemos de validar aqueles que admiramos.

Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser. Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se, ou dominar os outros em busca de poder.

Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos.

Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia. Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um “valeu, cara, valeu”.

Você já validou alguém hoje? Então comece já, por mais inseguro que você esteja.

Stephen Kanitz

Artigo publicado na Revista Veja, edição 1705, ano 34, nº 24, 20 de junho de 2001, pág.22

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Comentários

13 Responses

  1. Antes de mais nada, Valeu Stephen!
    Mas discordo ligeiramente de você. Li esses tempos uma definição muito inteligente sobre inteligência: a capacidade de adquirir capacidades.Ao longo da vida vamos aumentando nossa competência e diminuindo (diminuindo) nossa insegurança. E não é só fingimento. Aumentamos inclusive a competência de conquistar pessoas. Você, por exemplo, atingiu a excelência como escritor, apesar da natural insegurança. É claro que eu sou inseguro como todo ser humano e preciso de validação como todo ser humano. No entanto, aprendi ao longo de minha já um pouco longa vida que quanto mais eu dependo da opinião alheia menos seguro – e feliz! – eu sou. Um argentino(!) chamado Bernardo Stamateas escreveu um livro chamado “Pessoas Tóxicas”no qual ele descreve tipos. Um desses tipos é o desqualificador. Um tipo de pessoa tóxica muito comum e perigosa. Essas pessoas desqualificam os outros para se sentirem importantes. Você esta fazendo um excelente convite às pessoas para se tornarem validadores ou qualificadores! por isso, apesar da minha ligeira discordância eu digo de novo: valeu Stephen!

  2. Estou lendo este texto quase 17 anos após sua publicação original. Mas a verdade não tem prazo de validade. E quão verdadeiro e perspicaz é o que o senhor diz aqui! Admiro tudo que o senhor escreve, mas este texto é realmente especial. Obrigada, professor Kanitz, por compartilhar sua sabedoria.

  3. Prezado Stephen Kanitz. Tive o prazer de degustar seu artigo quando de sua publicação na Revista Veja. Na época eu era Coordenador Pedagógico em uma Escola Particular e Vice-Diretor de Escola em uma Escola da Rede Pública do Estado de São Paulo. Trabalhei seu artigo na formação de professores; trabalhei no trato aos alunos e hoje, quase 20 anos depois ele é tão atual em minha memória que o resgatei para buscar forças para a Validação da minha própria vida pessoal e principalmente profissional. Sou muito grato pela sua contribuição ao me fazer enxergar o quanto validar e ser validado pode transformar uma pessoa. Eternamente grato!
    Prof. Carlos Seabra

  4. O texto nos leva para uma reflexão tão profunda, pois estamos inserida no mundo que as vezes o individualismo é que prevalece.. Assim como gostamos de ser validados pelo que realizamos, assim também poderemos estar todos os dias agradecendo e parabenizando as pessoas pelo que eles realizam… Sábias palavras, parabéns STEPHEN KANITZ!

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