Como Reduzir a Violência no Brasil

Por que o Brasil que é conhecido pelo seu povo cordato, cordial, não belicoso, que aceita sem resmungar uma série de indignidades, se tornou um povo de elevada violência?

Não éramos assim há 60 anos.

Uma interessante pesquisa de Metin Basoglu, Journal of the American Medical Association, vol 294, dá umas indicações do porquê.

Entrevistando vítimas da guerra da Bósnia perceberam que o que mais revoltava todos era a falta de um certo tipo de vingança.

Isto gerava raiva, impotência, desmoralização pessoal, perda de significado na vontade de viver, daí os terroristas suicidas.

Também surgia um pessimismo contra o futuro, uma descrença na humanidade em geral. 3 a 5% responderam que estariam dispostos a fazer vingança pelas próprias mãos.

Isto tocou um nervo sensível porque sempre acreditei que este pessimismo exagerado da nossa imprensa, esta descrença total no ser humano deixaria sequelas, mas nunca tinha me atentado que violência seria uma delas.

Perdemos autoconfiança.

Perdemos autoestima na medida que viramos joguetes de políticos jamais punidos.

Imaginem, diz Metin Basoglu, que sua casa foi invadida, sua filha foi humilhada, sequestrada, torturada, abusada ou assassinada.

E, nada irá acontecer com os culpados.

Muitos outros atos nos deixam revoltados e impotentes, ensejando uma vontade de vingança.

“Economic policies that contribute to poverty in the name of national interests”, diz Metin, ou como nossa carga tributária de 42% que nos empobrece.

Pesquisas mostram que a vingança ou um simulacro dela, atenua o sentido de impotência e raiva“.

Advogados saberão melhor do que eu, o medo que sempre tiveram do fenômeno social “olho por olho”.

Por isto, criamos toda uma doutrina jurídica que substituiu “vingança” por “justiça”.

Com “justiça” eliminamos a vingança da família prejudicada ou ofendida, que muitas vezes gerava o olho por olho que termina em lutas étnicas.

Quem faz “justiça” é uma terceira pessoa, com regras claras, que se forem “justas”, impediriam o olho por olho.

Acontece, que um Judiciário que demora 10 anos para decidir gera os mesmos sentimentos que Metin aponta no seu estudo.

Quando governos roubam 30% de nossa poupança  e ninguém sequer comenta o roubo, gera os mesmos sentimentos de humilhação.

Quando temos na justiça mais de um milhão de processos pedindo ressarcimento das manipulações de índices de correção monetária, Plano Bresser, Fundo de Emergência nunca devolvido, há mais de 20 anos na justiça, cria um sentimento de vingança no ar.

Nenhum dos culpados foi processado, pelo contrário, são glorificados.

Os próprios atos de terrorismo são reações naturais a este sentimento de impotência.

Quando a televisão noticia essas atrocidades, antes que os culpados sejam sequer identificados muitos menos condenados, cria no telespectador um imediato sentimento de injustiça e desejo de vingança.

E violência que gera mais violência.

Algo para se pensar.

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Comentários

10 Responses

  1. Kanitz andou fumando maconha? só pode.
    A maioria dos assaltantes são de menores ou possuem seus 20 e tantos anos. Nunca processaram ninguém. Muito menos tiveram poupanças…
    Pela sua teoria a classe média estaria toda na cadeia.. Mas na prática é a classe baixa.

  2. Na verdade, não há erro na análise – se bem entendi. O comentado foi pelo reflexo social e pela herança moral passada de pai para filho. De fato, a impressão da ausência de justiça é o que move a sociedade a buscar esta de qualquer maneira, justificando assim o olho por olho ou a ascensão de uns em detrimento doutros – os mais fortes, mais espertos ou menos crédulos sobre os demais, fracos, emburrecidos ou descrédulos (e não falo de religião, mas sim de fé nos ideias ventilados pela própria sociedade).

  3. A maioria dos ladrões pé de chinelo que causam violência, nem pai possuem. Não é a toa que Noventa porcento dos presidiarios são Corinthianos.
    Antigamente a 60 anos se algum filho pensasse em fazer alguma coisa errada a cinta corria a solta…

  4. Se algum dos comentaristas tive um familiar, próximo, prejudicado de alguma forma, como as citadas acima, abusado, torturado, etc. e derem a ele a oportunidade de aplicar a justiça…
    Todos ficarão surpresos com as penas aplicadas.
    Sou policial militar, trabalhei pelo Brasil e pelo mundo, na ONU, sei que o artigo é a mais pura verdade!
    Conheci pessoas que não vivenciaram a desgraça, mas seus pais e avós sim,diretamente. Alguns desses filhos tem vontade de vingar os parentes, os que não o fizeram, disseram que ainda não tiveram a oportunidade que aguardavam. Impressionante.

  5. EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. ONDE ESTÁ? AONDE ESTARÁ SE TUDO ASSIM CONTINUAR? A DÉCADA DE 60 SÓ ME LEMBRA SAUDADES.POR QUE TANTA TECNOLOGIA SE AS PESSOAS NÃO SABEM MAIS LIDAR COM O HUMOR; NÃO SABEM MAIS SORRIR; NÃO RECONHECEM OS LAÇOS FRATERNOS DE UMA AMIZADE.SAUDADES QUANDO SE GUARDAVA AS ECONOMIAS NO COLCHÃO; ZERO% DE JUROS, MAS 100% DE SEGURANÇA E CERTEZA NO FUTURO.- UMA ARTISTA FAMOSA (CANTORA POPULAR), MINHA COMHECIDA E AMIGA, DISSE-ME PORQUE TRANSFERIU OS FILHOS PARA OS USA.- EM CADA TOURNÉE DE ALGUNS MESES ELA PLANEJAVA TODAS AS DESPESAS COM UM GERENTE DO BANCO, INCLUSIVE AS MENSALIDADES ESCOLARES DOS FILHOS E SEGUIA TRABALHANDO SUA ARTE COM TRANQUILIDADE. SEM O FANTASMA DA INFLAÇÃO. CONCLUSÃO, HOJE SÃO FORMADOS COM PHD E NÃO QUEREM MAIS VOLTAR PARA O BRASIL.MEU CARO KANNITZ, EU ADMIRO A CULTURA; A EDUCAÇÃO E A INTELIGÊNCIA DOS JUDEUS, MESTRES NA ARTE DE VIVER. TUDO SE CONTROLA COM \EDUCAÇÃO\. AGORA COM O CONTINGENCIAMENTO DE 50 MI PELO GOVERNO FEDERAL? MULTIPLIQUE ISSO PELO RESULTADO DA MÁ APLICAÇÃO (DINHEIRO EM ZEUGMA). Abraços Fraternais. Johnny

  6. O que fazer quando a Lei máxima é permissiva, mal elaborada, utópica e não regulamentada, permitindo que todo tipo de crime fique impune? Quando não há prisão perpétuda para crimes absurdos? Quando há possibilidade do preso receber visita íntima e sair para visitar a familia em datas festivas? quando o condenado é posto em liberdade após cumprir um sexto da pena? Somente pedir a DEUS. Porque essa sociedade, à um pretenso medo da ditadura que muitos de nós enfrentamos, deixou a constituinte de 1988 legislar quase que em causa própria.

  7. Quanto preconceito de sua parte, mal sabe vc que a violência mais ameaçadora que se faz presente em nosso dia a dia é aquela da qual todos nós estamos expostos sem nos darmos conta e para qual não há nenhum tipo de proteção, não esta a que vc se refere, ou seja, a violência gerada por motivação estritamente patrimonial, que nasce da necessidade do pobre saciar sua fome por viver numa sociedade extremamente injusta na qual praticamente lhe obriga a viver na marginalidade.

  8. Se a justiça morosa, inepta, complacente e “boazinha”
    com os bandidos de todas a classes não alimenta a sede de vingança de ninguém, pelos menos deixa tranquilos
    aqueles que querem cometer crimes. É muito fácil ser
    bandido neste país. Quando se é condenado, tem a famigerada redução progressiva da pena, que põe na rua
    bandidos que cometeram crimes hediondos, tem a visita íntima para bandidos, visita sem monitoramento para estes mesmod bandidos que continuam a comandar o crime das cadeias. Violência tem varias causas. E para várias causas, várias soluções.

  9. Dessa única vez sou obrigado a concordar com o Wasabi. Kanitz identificou o princípio correto por trás da violência, mas aplicou erroneamente.
    Realmente a violência urbana é uma “vingança contra a sociedade” daqueles que a praticam, pelo menos na cabeça dele. Não necessariamente vingança no sentido de “dar o troco”, mas o fato deles verem pessoas fazendo males maiores e não serem punidos gera a confiança de que os atos deles são justos. Afinal, as maiores autoridades do país prejudicam muito mais gente do que eles, e são exaltadas.
    Outras pesquisas indicam que a violência urbana é maior em regiões em que os contrastes sociais são mais nítidos. Da mesma forma já exposta, acredito que ver pessoas que têm tudo o que querem, sem ver o preço que elas pagaram pra ter isso, e ao mesmo tempo ter a percepção de que, por mais que se trabalhe nunca vai conseguir chegar perto, associado a condições de sobrevivência muitas vezes subhumanas, gera o mesmo tipo da vingança, que leva considerar justos atos que prejudiquem aqueles que estão em situação melhor, como se fossem diretamente culpados pela miséria da pessoa em si.
    Mas a aplicação que do Kanitz indicaria que a classe que mais perceberia influência direta das políticas públicas em suas vidas seria a classe média, e essa talvez seja a mais passiva de todas. Acho que essa análise precisa ser MUITO melhorada. É bom procurar mais estudos psicológicos, biológicos e sociológicos pra melhorar a proposta concreta do PBE para a redução da violência. A atual ainda está fraca.
    Abraços.

  10. Segurança é questão de educação. A boa educação de um cidadão depende da prisão e pena adequadas do seu vizinho quando ele comete um crime. Essa é a educação que realmente falta.

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